Foi num dia de semana
Na estação Sorocabana
Parei pra apreciá o movimento
Quando num certo momento
Vejo um cabra desilinhado
Com uma viola assim dum lado
Que parô e ficô pensando
Pensando em comprar a sua passagem
Para fazer viagem naquele primeiro trem
Ele tava só, sem mais ninguém
A não ser a sua companheira
Uma viola encordoada
Com fitinha amarrada
Assim bem na cabeceira
O cabra era caprichoso
Ele não era moço
Mas também não era idoso
Ele tinha seu lenço no pescoço
Um terno de riscado
Bem feitinho, bem taiado
Tava bem apresentado
O caboclo na estação
E quando abriu o portão
Pros passageiro passá
Foi aquela confusão
Pois todos queriam entrá
Mas o guarda de serviço
Acabou com o reboliço
Num instante, num momento
Isto só pra mor de podê vê
Os documento de quem fosse viaja
Pois tinha que mostra
Na mão das autoridade
Provando a nacionalidade
Mor de vê que não era estrangeiro
E chegou a vez do caboclo
De ele prová que era brasileiro
Assim, bem na portinhola
Pra entrá na estação
Segurando a viola e a passagem na outra mão
O caboclo foi entrando
Foi quando o guarda de serviço
Já foi logo perguntando
Moço, o senhor ainda não mostro
Cadê seu passaporte?
Pois o caboclo viu a morte
Com aquela petição
Eu já vou prová quem eu sô
Mas documento eu não tenho
Pro meu Brasil eu vô
E do meu Brasil eu venho
Seu moço, o senhor repara
Óie bem pra minha cara
Eu tenho cara de estrangeiro?
O senhor óia pra essa viola
Esse bichinho que consola
Só um peito brasileiro
O senhor óia pra minha mão
Eu tenho ela calejada
De puxá o cabo da enxada
E manejá o facão
E então, seu inspetô
Me diga o que eu sô
Sô brasileiro ou não?
O guarda já foi falando
Caboclo, ocê pode ir passando
Ocê só disse a verdade
E também provô a sua nacionalidade
Pois pra sê um caboclo
Violêro, catirêro e fandanguêro
Pode se procurá no mundo intêro
Que não se encontra no estrangêro
Ele tem que sê é brasileiro