Estava sossegado no quarto em meu leito lembrando os tristes dias de um sonho já desfeito e eis que em furacão chegou aos meus ouvidos lamentos de um cão em uivos e gemidos Descubro onde está o pobre animal Nas garras de um vizinho, de um homem bestial! Protesto, grito, minto: Vizinho, o cão é meu! Leve-o, diz-me o homem, mas prove que ele é teu!
E guarde-o, guarde-o bem, e crê que do contrário em pedacinhos o faço, ladrão, cão ordinário Um cão que vem roubar de um sábio a paciência De um cão, que rouba e come, não tenho mais clemência!
Não querendo então passar por mentiroso tentei levar o cão das garras do maldoso Mas vejo com espanto que o animal protesta correndo alegre para o sábio lhe fazendo festa
Eu disse então ao sábio: Repara que esse cão é mais sábio do que tu e dá-te uma lição! Quem sabe se não está, ó sábio não proteste encarnada neste cão a alma de teu mestre Não dê, ó grande sábio, pancada nesse cão Tal qual esse animal já dei meu coração Fui cão de uma mulher a quem julgava honesta Tratou-me como um cão e eu lhe fazia festa!
Compositor: Antonio Vicente Felippe Celestino (Vicente Celestino) ECAD: Obra #6061475