Vicente Celestino
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Até as Flores Mentem

Vicente Celestino


Em um jardim à beira-mar
Fazia um luar de níveo albor
E o céu sem véu tinha o fulgor
Da cor do meu primeiro amor
Estava ali a meditar
A meditar pensando em ti
A suspirar pensando em ti
Quando uma flor falar ouvi

Era a rosa que passava e a sorrir
Era contigo que ela sonhava
E eu que nunca tinha visto
A flor dormir
Pus-me a ouvir ao ter
No teu langor deitava a flor
A soluçar no andor partiu
Choroso amor
Pranto de amor todo esplendor
De um céu de anil
E até chorei oh que prazer
E a flor saudosa do jardim
Ao seu sonhar sorrindo ao luar
Dizia assim, dizia assim

Ó Senhor, sonhar com ela
Ai, como a noite está tão bela
Como esta noite a me encantar
Ó Senhor, viver ou estar
Ouvindo terno palpitar
Daquele seio a soluçar

Com paixão à flor eu disse então
Ó tu que coração conheces dela
Dize a mim se é vero o seu amor
E a flor sorrindo ainda disse assim, assim

Ó feliz, tu és poeta!
A tua mais dileta flor
A nossa irmã de mais candor
Tem amor a ti ardente
Somente vive por te amar
E morrerá por te adorar!

E ouvindo então a flor falar
Senti minh'alma a Deus voar
E de prazer, cheio de amor
E é na flor um beijo dar
E ouvi então a flor dizer
Eu quis magoar teu coração
Eu quis zombar da tua dor
A ti não tem, não tem amor!

Compositor: Catulo da Paixao Cearence (Catulo da Paixao)
ECAD: Obra #644164 Fonograma #1182543

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