Subsolo
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Ensaio Sobre A Cegueira

Subsolo

Ordem de Despejo


Eu tô no escuro, e o pior é que eu não quero ver
A noite continua em mim mesmo se o sol nascer
Eu aprendi a ter disciplina pra viver
Sem me humilhar, sem questionar e sem crescer
Eu ando estranho, mas estranho ninguém vai notar
Eu tento dichavar o meu olhar pra não relatar
A fé promete me salvar depois me calar
Nisso um abraço vem me distrair depois me cobrar
Vem me destruir e se eu marcar quer me ver chorar
Viu algum caminho pra voltar?
Eu disse: Não!
A vida segue mesmo assim sem direção
Eu danço com o diabo sempre na intuição
Mas perdido do que cego em tiroteio
Meus 20 anos tão no fim e ainda tô no meio
Meu currículo tá cheio de mentiras, eu fiz de tudo
Enquanto rola um Marvin Gaye o quarto é meu escudo
Eu vivo a vida na paz de quem tá em cima do muro
Eu quero um grito de alforria, mas só vem sussurro

Os olhos verdes não valem nada sem visão
Os olhos negros refletem as fases que virão
Olhos azuis procuram, mas não encontram luz
Os olhos de nada valem quando a cegueira conduz

Minha vida numa base, sentimentos vão ao vento
Meu coração tá congelado ao relento
Eu continuo com o pensamento a mil até o momento do
tumulto
Eu vejo vulto e fico sem entender nada
Vendo tudo nesse mundo que ninguém vê nada
A sensação é de luz apagada
Minha visão se distorce e mesmo que eu me esforce
Eu não consigo me mover pra junto alguém que no chão
se contorce
Invisível entre a multidão, não sinto meus pés
Tentei contar os passos não cheguei ao 10
Mundo de infiéis
Ouço vindo das calçadas junto a risadas insanas
Sussurros, infâmias das damas da noite
O dia agora é noite minhas pupilas dilatadas não
suportam mais açoite

Em plena luz do dia não enxergam um palmo de
realidade
Não se apoiam na bengala da verdade
Pra atravessar as ruas da amargura da cidade
Visão se ofusca com brilho de ofertas de novidades em
vitrines
Pontos de vista sofrem miopia
Então o terceiro olho precisa de terapia
Pra todo mundo tá embaçado
No meio da fumaça do fogo cruzado tentando achar o
plano traçado
A ótica caótica deixa tudo fora de foco
Mas a mente fica mais clara quando as lentes eu troco
E vejo a imagem da sorte num mundo que parece um
velho-oeste
Sigo procurando um novo norte
Tendo a justiça como guia pois ela enxerga no escuro
E mostra que o futuro não é tão obscuro
Quando o sorriso do meu filho acalma minha rotina
E o céu aberto infiltra em minha retina

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