Vinte e um anos e um pouco mais Seguindo em frente , como se fosse pra trás Cabelos ralos e rugas na testa Marcas da vida que o tempo detesta
Olhos castanhos e barba espessa Pedindo a Deus que eu a esqueça Mãos calejadas enxugam o suor Se já está ruim , podia ser pior
Eu já posso ouvir o tinir dos ferros Nos tristes trilhos de trem
Meu nome ninguém se lembra Até meu irmão já o esqueceu Eu vim da cidade dos que não tem E hoje me chamo Ninguém
Nada mudou pro Sol que arde Seis da manhã ou seis da tarde Vou pro trabalho já pensando em voltar Morrer de fome ou me entediar?
Eu já posso ouvir o tinir dos ferros Nos tristes trilhos de trem
Os meus parentes há anos brigados E nesse vagão eu fico parado Meu pai doente há algum tempo Não posso ajudá-lo nesse momento
Sem casa própria ou outra riqueza Próxima parada na estação da tristeza Pagando óbulo pra ir ao inferno No rio Caronte desse mundo moderno
Eu já posso ouvir o tinir dos ferros Nos tristes trilhos de trem
Eu quase a perdi deitado na cama Falei sobre alguém que não me ama Me arrependi , mas eu lhe prometo Erro maior eu não cometo
Eu não pensei que seria tão bom Quando eu provei do seu batom Mas crio problemas a cada dia Agora é você calada e fria
Eu já posso ouvir o tinir dos ferros Nos tristes trilhos de trem
Uma mulher tocando tamborim Canta uma canção olhando pra mim Seu canto doído sobre Jeová Ecoa em meus ouvidos aonde quer que eu vá
Um homem sem perna sentou ao meu lado Será um bom homem ou só um aleijado? Ninguém dá licença ou lhe estende a mão Nem mesmo o homem fazendo uma oração
Eu já posso ouvir o tinir dos ferros Nos tristes trilhos de trem
Chega um homem vestido bem roto Seu cheiro acre fedia à esgoto Um bem vestido de perto saiu O roto olhou pra ele e tossiu
Uma criança logo chiou Uma idosa também reclamou “Saia daqui e nos deixe em paz” E a voz ganhou coro na boca de um rapaz
Eu já posso ouvir o tinir dos ferros Nos tristes trilhos de trem
Bem devagar fazendo a curva Será que sou eu ou a vida que é turva? E nessa jornada procurando a esmo Encontrando sempre o mesmo
O trem parou e as portas se abriram De uma só vez todos sumiram As portas fecharam só eu fiquei Qual é a estação pra onde irei ?
Eu já posso ouvir o tinir dos ferros Nos tristes trilhos de trem