Quem conheceu nestes fundos Um gaúcho de respeito Conheceu laurindo pedra Tal o seu nome, o seu jeito
Viveu qual pedra de campo Encravado em seu lugar Pele moura e face rude Mas com cristais no olhar
Viveu a vida aos pouquinhos Um dia de cada vez Dividiu seu próprio tempo Entre a calma e a solidez Solidez de quem um dia escolheu viver sozinho Na calma de quem entende Que a vida aponta um caminho
Num rancho sombreado a velas E copas de timbauva Às vezes cruzava as tardes Ouvindo a prosa da chuva
Soube porque ela chorava Que um dia chorou também Pois aprendeu o que é saudade Pela partida de alguém
Tinha silêncios na alma Entre murmúrios e preces Neste seu mundo interior Bem menor do que parece
Tal como pedra no tempo Também confundiu-se a terra Vivendo apenas por ela Num ciclo que não se encerra
Há quem conte nos bolichos Que ele perdeu-se na vida Petrificado em silêncio Depois do adeus da partida
Eu acredito em seus olhos Que não parecem mentir Dizendo que seu silêncio Somente a alma há de ouvir
Bem como a pedra do nome Sua vida foi muito dura Talvez por isso que a estrada Lhe apontou a desventura
Seus horizontes de campo Não foram além da divisa Pois cada um sabe a estrada E dos rumos que precisa
E ali no mesmo ranchito Sombreado, quieto e distante Mateia laurindo pedra Com o mesmo jeito de antes
Feliz, topou seu destino Sem questionar os motivos Pois aprendeu que viver Não é somente estar vivo