Trabalhava num trampo de matar Era caixa num banco do aguiar Cheques, saldos, carnês e impropérios Recebia e pagava com seu sangue E o salário mal dava pra rangar
Certo dia o gerente lhe chamou E, num tom indiferente, o dispensou Ficou mudo, parado, cego e pálido Mas saiu conformado com a sorte E animou-se ao descer do elevador
E saiu procurando um novo emprego Qualquer coisa que desse prá viver Foi até um pai de santo se benzer Pra ter sossego
Percorreu todo o "estado" de domingo E a cidade... corria todo mês E ele foi desmilinguindo Não chegara a sua vez Mas quando a fome bateu e a barriga roncou Ele se desesperou
E pensou e chegou à conclusão (tá pior, quem trabalha, que ladrão) E bolou um grande plano, frio e lógico E, numa tarde, entrou em outro banco Com um revólver enrustido e o coração na mão
E chamou o tesoureiro e lhe entregou Um bilhete que continha a sua dor "somos homens que, da fome, fomos vítimas E comigo tem mais sete e três lá fora Pra acertar o vigilante e o contador"
Mas só era um truque esta tropa E, logo, o tesoureiro se tocou E, cheio de malícia, o convidou Prum café na copa
E ele, puro e tolo, foi sorrindo (talvez inda pudesse se empregar) E a cilada foi surgindo Não iria se entregar E a polícia invadiu o recinto e fez Com que embarcasse de vez
Compositor: Paulo Roberto Barroso (Paulo Barroso) ECAD: Obra #10779139 Fonograma #11339488