Na última sexta-feira (21), as gravações do "Acústico MTV: Capital Inicial", um divisor de águas na carreira da banda de Brasília, completaram 25 anos. Sempre vistos em uma espécie de "segunda prateleira" do rock nacional, o Capital nunca esteve entre os artistas mais populares nos anos 80 e 90.

Porém, o ano 2000 levou o gupo formado por Dinho Ouro Preto (vocais), Loro Jones (guitarra), Fê Lemos (bateria) e Flávio Lemos (baixo) ao estrelato. E foi o acústico, famoso projeto da MTV, que deu essa guinada no destino deles.

Quem viveu na época, lembra que sucessos como "Tudo Que Vai", "Primeiros Erros" e "Natasha" eram alguns dos mais tocados pelo país. Foi esse disco que garantiu ao Capital uma nova (e muito maior) base de fãs, que elevaram a banda ao status de um dos grandes e maiores nomes do rock nacional.

O Vagalume celebra essa data tão especial com uma lista de curiosidades sobre o projeto "Acústico MTV: Capital Inicial". Músicas que surpreenderam e outras que ficaram de fora. Teve hit que entrou aos 45 do segundo tempo, no apagar das luzes! E tiveram ideias que nunca sairam do papel e que estavam nos planos do grupo.

No final das contas, tudo valeu a pena para o Capital, que com esse disco escreveu o seu nome na história do rock nacional.

Veja 10 curiosidades sobre o "Acústico MTV: Capital Inicial" a seguir:

1 - Desconfiança no começo até dentro da própria MTV

Quando o nome do Capital Inicial foi sugerido como uma das próximas atrações do famoso "Acústico MTV", nos bastidores da TV não houve uma empolgação inicial. Um dos nomes fortes da MTV na época, Ana Butler era uma das resistências ao nome da banda de Brasília.

Mas a ordem veio grupo Abril, que era dona do canal de TV e da gravadora da banda e o projeto foi levado em frente. Porém, foi concluído nos bastidores, com participação de Butler na decisão, que este acústico precisava ser bem simples, sem grandes investimentos.

No mesmo ano seriam produzidos mais dois acústicos: Lulu Santos e Art Popular. Na ordem de importância, o do Capital ficou por último.

Sem orquestras, metais ou muitos músicos adicionais, o disco do Capital teria um grupo limitado de artistas em comparação com os outros acústicos. No final das contas, foi essa simplicidade um dos segredos do seu sucesso.

A projeção (otimista) inicial era que o disco vendesse aproximadamente 100 mil cópias. O projeto deu tão certo, que, estima-se, que o Capital Inicial tenha vendido mais de 1 milhão de cópias.

2 - Repertório diferente

O Acústico MTV conta conta 14 músicas, mas a banda ensaiou mais de 20 (imagem abaixo). As músicas ensaiadas mas que ficaram de fora foram:

- "Atrás Dos Olhos"
- "Estranha E Linda"
- "Mickey Mouse em Moscou"
- Psicopata"
- "Até Quando Esperar" (cover da Plebe Rude)
- "Que País É Este?" (cover da Legião Urbana)
- "Armadilha"
- "Oasis" (poderia ser um cover da banda inglesa. O Capital tocava "Wonderwall" na turnê do acústico)

Capital Inicial
3 - As músicas gravadas, mas que ficaram de fora

O Acústico MTV Capital Inicial teve 17 músicas gravadas no total. Ou seja: três ficaram de fora. São elas: "1999", "Belos e Malditos" e "Kamikaze".

A tracklist final foi escolhida por João Augusto e Marcos Maynard, nomes grandes da Abril Music.

Em 2021, Dinho gravou um vídeo, em seu canal no Youtube, que fala sobre as músicas excluídas. Ele explica que os arquivos originais do acústico desapareceram devido a um litígio após o Grupo Abril fechar a MTV Brasil, em desentendimento com a Viacom, dona da marca.

Porém, no Youtube, é possível encontrar os áudios de "1999" e "Belos e Malditos".

A gravação original de "Kamikaze" no Acústico MTV, por outro lado, segue um mistério.

4 - Bateria histórica

No programa "Bastidores" do acústico, feito pela MTV, Fê Lemos conta uma interessante história da bateria com a qual gravou o disco. O instrumento foi o primeiro que as bandas de Brasília usaram, lá no começo dos anos 80.

A bateria foi usada em shows do Aborto Elétrico, grupo que daria origem a Legião Urbana. "Essa foi a bateria que o (Marcelo) Bonfá aprendeu a tocar", lembra.

No final das contas, com o sucesso do Acústico MTV, a bateria continuou sua bonita história atravessando diferentes décadas do rock nacional.

5 - Amizade antiga com Zélia Duncan

A ideia original de Dinho Ouro Preto seria de receber muitos convidados especiais. Acontece que quando o Acústico MTV começou a ser produzido, ficou estabelecido que a banda seguiria o caminho da simplicidade.

Simplicidade essa que ficou marcada também no número de participações especiais, se não considerarmos Kiko Zambianchi: apenas 1 artista.

Portanto, essa artista precisava ser especial. E foi convidada Zélia Duncan, que já tinha o seu nome conhecido nacionalmente, principalmente depois de lançar a balada, "Catedral".

Dito isso, existe uma curiosidade por trás do convite à Zélia. Ela e Dinho são amigos de infância. Juntos, eles estudaram no Colégio Marista de Brasília.

Sobre a sua participação, Zélia disse: "Trouxe meu bandolin, que eu toco, com uma levada folk. Para fazer um charme com eles". Ela ainda completou, celebrando a parceria: "A gente sempre cantou coisas muito diferentes. Por isso é tão interessante a gente se encontrar aqui. Em um momento tão bom da carreira dele (Dinho) e em um momento tão bom da minha carreira".

6 - Produtor do Acústico é uma lenda do rock nacional

Marcelo Sussekind foi o produtor deste projeto. Foi ele, que desde o começo apostou que o projeto iria para frente sendo mais simples que os demais acústicos. Sua experiência para produzir um pop/rock de qualidade foi mais um dos "segredos" do sucesso do Acústico do Capital.

E você provavelmente sabe quem ele é se viu o acústicos muitas vezes. Sussekind faz o terceiro violão e completa o grupos dos que músicos que formam a banda base do Acústico.

É importante citarmos o currículo de Sussekind, um dos nomes mais respeitados do rock nacional, desde os anos 80. Ele foi guitarrista da banda Herva Doce e produziu grandes grupos, como Paralamas do Sucesso, Engenheiros do Hawaii, Lobão e o próprio Capital, nos discos "Você Não Precisa Entender" (1988) e "Todos Os Lados" (1989).

7 - Dinho queria acústico em Brasília com muitas participações especiais

Em uma matéria da Folha de S. Paulo, durante o período de ensaios, Dinho contou que o plano inicial da banda era fazer o acústico em Brasília, cidade natal deles.

A ideia seria fazer uma grande homenagem ao movimento musical da cidade, no começo dos anos 80. "A gente ia chamar toda a galera, mas acabamos percebendo que os convidados não caberiam no palco e que a seleção das músicas seria complicada".

Dinho gostaria de ter feito a gravação no Teatro Municipal de Brasília, de acordo com a matéria.

No final das contas, a banda gravou o projeto em São Paulo, no Teatro Mars, e apenas com a participação de Zélia Duncan.

8 - Kiko Zambianchi não fazia parte da ideia original do acústico

A banda já estava ensaiando no Teatro Mars quando, com o avançar dos dias, ficou claro que era preciso mais um violão para completar os arranjos trabalhados, em companhia com Loro Jones.

Em discussões internas, o nome escolhido agradou a banda e a Abril Music: Kiko Zambianchi, artista importante do rock nacional nos anos 80 e que já havia feito sucesso na ocasião com "Primeiros Erros".

Kiko tinha tudo que era necessário: era amigo da banda, tocava bem violão e ainda poderia fazer a segunda voz , para acompanhar Dinho.

E para completar ele deu de presenta à banda a chance de regravar o seu grande sucesso, que ficou ainda maior na versão do Capital.

9 - "Natasha" quase não entrou

A história de "Natasha" no Acústico MTV é bastante curiosa. O repertório já estava pronto, quando o produtor Marcelo Sussekind perguntou para a banda se alguém tinha mais alguma música para colocar no Acústico.

Foi então que Dinho pediu a palavra e tocou uma música que estava trabalhando, com uma sequência simples de acordes e um final com o cantar: "tchuru tchuru tchururu".

Sussekind gostou bastante do que ouviu e pediu para que Dinho colocasse uma letra na música que estava escrevendo. Ele, então, chamou o seu velho parceiro de composições, Alvin L. Entre as músicas que o inspiraram a escrever a letra de "Natasha", estão clássicos de Bob Dylan ("Seven Days" e as referências ao número 7) e Lou Reed ("Walk On The Wild Side" referência ao refrão com frase cantada e paradinha antes de cantar "tchuru").

Alvin ainda contou que a ideia da letra era de realmente fazer uma composição com pegada feminista. Dinho teria cortado dois versos originais e trocado a letra de "Deixou na cama dos pais o namorado" para "Deixou para trás, os pais e o namorado" e "O vento sopra enquanto ela engole" para "O vento sopra enquanto ela morde". O vocalista achou que seria pesado demais cantar os versos originais, sendo pai.



10 - Rodolfo, ex-Raimundos, iria participar do Acústico

Em matéria para a Folha de S. Paulo, Dinho contou na ocasião que a banda teria outra participação além da de Zélia Duncan. Ninguém mais, ninguém menos que Rodolfo, vocalista da banda Raimundos.

"O Rodolfo representa a continuidade da nossa geração. Ele sempre levantou a bandeira das bandas dos anos 80. Não tem receio de dizer que ouviu muito Capital e Plebe Rude", contou.

No final das contas, a participação de Rodolfo ficou de fora do Acústico MTV.

Fontes para esta matéria:

- "Bastidores Acústico MTV Capital Inicial", MTV (2000)
- "ACÚSTICO MTV", do CAPITAL INICIAL (2000): achavam que seria um fracasso... surpreendeu todo mundo!", Canal Júlio Ettore - Youtube (12/07/2024)
- "Capital Inicial prepara o seu "Acústico MTV", Folha de S. Paulo (10/03/2000)
- "AS MÚSICAS GRAVADAS QUE FICARAM DE FORA DO ACÚSTICO MTV 2000", Canal Dinho Ouro Preto - Youtube (10/06/2021)
- ALVIN-l conta como um dos maiores hits do CAPITAL INICIAL foi feito, Corredor 5 - Youtube (09/01/2022)