A música tem um papel importante em "Ainda Estou Aqui", o popular e cada vez mais premiado filme de Walter Salles Jr. estrelado por Fernanda Torres.
Salles usou canções criadas no final dos anos 60/início dos 70, e outras mais recentes na segunda parte do longa, para colocar o espectador no clima da época, mas sem abusar, fazendo com que os momentos musicais fiquem marcados na cabeça do espectador ao final da projeção.
Confira cinco músicas que estão no filme, ou quase isso, e um pouco de suas histórias:
Ouvida logo no começo de "Ainda Estou Aqui", essa faixa não muito conhecida do tropicalista Tom Zé se mostra uma escolha nada óbvia, e muito bem sacada, para criar a ambientação da época.
"Jimmy Renda-se", que combina pop e experimentalismo, saiu em compacto e também está presente no segundo álbum do cantor e compositor, lançado em 1970.
Juca Chaves (1938 - 2023) durante sua longa carreira, sempre fez uso do humor e da sátira para comentar criticamente a sociedade e a política do país. O "Menestrel do Brasil" gravou essa brincadeira em cima de "Quero Voltar Pra Bahia", de Paulo Diniz, em 1971. No filme, ela é ouvida em um dos últimos momentos em que os Paiva desfrutam de tranquilidade e alegria familiar.
Para quem ficou curioso em saber qual compacto a irmã Vera mandou de Londres para o Rio de Janeiro, como exemplo do novo som da Inglaterra eis a resposta. "Ride A White Swan", marcou a transformação do Tyrannosaurus Rex, de Marc Bolan, de duo folk-místico para a banda, agora com nome abreviado, que chacoalhou o Reino Unido no início da década de 70, abrindo as portas do glam rock.
"Ride A White Swan" iniciou uma sequência de uma dezena de sucessos na GRã Bretanha que se estenderia até o ano de 1973, quando a "T-rexmania" começou a perder fôlego - e o glam tinha um novo herói na figura de David Bowie. Marc Bolan morreu em um acidente de carro em 1977, quando estimulado criativamente pelo movimento punk, dava sinais de que poderia reconquistar o sucesso perdido.
Lançada em 1991, "Fora de Ordem" foi o carro chefe de "Circuladô" e ajudou a popularizar o cantor e compositor tropicalista com uma nova geração - a faixa ganhou um clipe bem produzido que entrou em alta rotação na recém-nascida MTV Brasil.
Apesar de creditada a Roberto e Erasmo, esta música, presente no emblemático "Carlos, Erasmo", de 1971, foi, segundo uma declaração de Erasmo (1941 - 2022) composta somente por Roberto Carlos.
Com seu clima claustrofóbico, "É Preciso..." foi feita depois que Roberto visitou Caetano Veloso e Gilberto Gil no exílio em Londres, e sua letra pode ser interpretada como o momento em que o Rei entendeu a situação política do país ("Eu cheguei de muito longe, e a viagem foi tão longa... Mas enfim aqui estou..." e "Mas estou envergonhado, com as coisas que eu vi...").
A canção símbolo de "Ainda Estou Aqui" é ouvida no filme em sua versão original e finalmente ganhou sua há muito merecida popularidade. O clipe abaixo foi gravado no meio da década passada, quando Erasmo Carlos fez um show, posteriormente transformado em disco, onde revisitou músicas menos conhecidas de sua carreira.
