"É com imensa tristeza que anunciamos o falecimento de nossa amada Sinéad. Sua família e amigos estão devastados e pedem respeito á sua privacidade nesse momento de grande dificuldade", diz a mensagem, publicada pelo jornal inglês The Guardian.
Sinéad viveu o auge do sucesso em 1990, quando lançou seu segundo álbum, o multiplatinado "I Do Not Want What I Haven't Got". O disco trazia a versão dela para "Nothing Compares 2 U", de Prince, que chegou ao topo das paradas mais importantes do planeta.
Cantora Nunca Fugiu da Polêmica
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Seu disco de estreia, o surpreendente "The Lion and the Cobra", saiu no fim de 1987 e mostrava uma artista com incrível talento e maturidade apesar da pouca idade. O LP equilibrava pop, faixas acústicas de levada folk e momentos mais experimentais.
O álbum chegou no top 30 britânico e ficou entre os 40 mais dos EUA tornando a "cantora careca" uma sensação do cenário musical alternativo, graças também ao single "Mandinka" que fez sucesso nas college radios dos EUA.
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Sinéad explodiria mesmo em 1990 com "I Do Not Want What I Haven't Got", seu segundo LP, e justamente com uma música que não escreveu: "Nothing Compares 2 U", composta por Prince para a banda "protegida" The Family.
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O single chegou ao topo das paradas de todo o mundo e terminaria o ano como o terceiro single mais popular do ano nos EUA e o segundo no Reino Unido. O sucesso da música impulsiona as vendas do álbum que ganha vários certificados de platina mundo afora. Quem comprou o CD certamente se deparou com uma artista que tinha muito mais a oferecer do que apenas um compacto de sucesso. A cantora fechou o ano com quatro indicações ao Grammy. Na cerimônia, ela levou a estatueta de melhor performance de música alternativa.
Essa foi a última vez que O'Connor pôde desfrutar da condição de "unanimidade". Em 1992 a cantora deixou claro que não era só mais uma popstar. A começar pela decisão de lançar "Am I Not Your Girl?", um disco somente de standards, entre eles, "How Insensitive", versão para "Insensatez", de Tom e Vinícius.
O mundo cairia mesmo em 3 de outubro de 1992. Foi quando ela, ao vivo e em cadeia nacional, rasgou uma foto do Papa João Paulo 2º em pleno Saturday Night Live, dizendo para "lutarmos contra o verdadeiro inimigo". Segundo a artista, o ato foi feito como forma de protesto pelos seguidos abusos de crianças cometidos, e acobertados, pela Igreja Católica.
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Sinéad teria a real dimensão de como seu ato foi enxergado poucos dias depois, quando foi se apresentar no show em tributo pelos 50 anos de Bob Dylan no Madison Square Garden.
A artista iria cantar "I Believe In You", justamente uma canção devocional, escrita pelo músico em sua fase cristã. Ao entrar em cena, ela foi fortemente vaiada e não conseguiu cantar. Em protesto, Sinéad entoou à capela "War", de Bob Marley, da mesma forma que já havia feito no SNL, e deixou o palco às lágrimas.
O'Connor seguiu gravando, e alguns de seus discos posteriores mereciam ser mais ouvidos, especialmente os dois últimos que lançou: "How About I Be Me (and You Be You)?", com uma bela versão de "Queen Of Denmark", de John Grant, e "I'm Not Bossy, I'm the Boss", talvez seu trabalho mais acessível e bem acabado desde 1990.
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Pessoalmente, Sinéad O' Connor sofreu com episódios de depressão.
Ela falou abertamente sobre tentativas de suicídio e diagnósticos de transtornos mentais. Seu filho Shane morreu em circunstâncias não esclarecidas em janeiro de 2022, com apenas 17 anos - acredita-se que ele tenha tirado sua própria vida. Na semana seguinte à tragédia, a cantora postou uma série de mensagens no Twitter onde indicava que ia se matar - ela foi hospitalizada em seguida.
Recentemente, Sinéad voltou a ser notícia por seu trabalho. Em 2021, "Remembrings", sua elogiada autobiografia, chegou às livrarias. No ano passado o documentário "Nothing Compares", focado em sua carreira entre 1987 e 1993 foi lançado e também recebeu elogios de público e críticos.
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