Bruce Springsteen é daqueles artistas que tem uma base de fãs grande e bastante fiel, capaz de fazer fãs viajarem longas distâncias para vê-lo mais uma vez. Quando se é um admirador brasileiro do americano as dificuldades tendem a aumentar. Ele só esteve no país duas vezes, e praticamente dez anos já se passaram desde a última vinda, quando ele fez um show memorável no Espaço das Américas, em São Paulo, e outro igualmente inesquecível no Rock in Rio.
Como ainda não há nenhuma indicação de que ele retornará ao Brasil, o jeito foi fazer um esforço e pegá-lo em uma parada de sua atual turnê pela Europa. A data escolhida foi a do dia 18 de junho, onde ele encerrou o TW Classic Festival na pequena Werchter, Bélgica.
Bruce não costuma se apresentar muito em festivais, já que gosta de fazer shows longos, mas o formato do TW é perfeito para ele. O evento faz lembrar nossos antigos megaconcertos, como os dois primeiros Rock In Rio ou o Hollywood Rock: apenas um palco com quatro atrações.
O público também é bem diferente do que vemos por aqui: a maioria esmagadora já está aposentada, ou em vias de se aposentar, e parece ser fã do artista desde, pelo menos, os anos 80. Muitos levam cadeiras de metal, sim elas são aceitas, puffs ou tapetes para se sentar - e todos somem de vista, como que por milagre, no momento em que a atração principal sobe ao palco. Uma coisa é certa: por ali, o conceito do "não tenho mais idade, saco e físico para festivais", é uma frase que não existe.
Esse enorme descampado é usado para shows ao ar livre há um longo tempo, no dia anterior quem esteve por lá foi P!nk e a estrutura já fica basicamente montada (é possível ver um "palco 2" ao longe).
Igualmente interessante é ver um espaço que não é tomado por ações de marketing. Nada de tendas e espaços construídos por cervejarias, companhias de refrigerante ou serviços de streaming. Há apenas a barracas que vendem comida e bebida, com preços tão caros quanto os daqui, circundando o local.
Como o nome indica, o festival é voltado para artistas "com alta quilometragem", Bon Jovi, Guns n' Roses, The Police e os Rolling Stones, além do próprio Springsteen, já estiveram por lá em edições passadas.
Em 2023, complementaram a escalação o Simply Red, mais o "novato" Jack Johnson e os heróis locais do Triggerfinger que abriram a tarde com um som pesado que fica entre o Muse e o Queens of The Stone Age.
Johnson tocou em seguida, trajando camiseta do Wilco e exibindo seu som simpático que combina bem com sua persona. Bem-humorado, ele diverte a plateia fazendo um solo com garrafas de cerveja e cantando, a pedido de um dos poucos chapados vistos na audiência, "Willie Got Me Stoned".
O Simply Red veio depois. A banda é popularíssima na Europa e o público curte o soul/pop de Mick Hucknall. Com novidades e muitos hits na bagagem, "Holding Back The Years", "Come To My Aid", "Stars", "Money's Too Tight To Mention"... eles nem precisam se esforçar muito para ganhar o público. O show acaba com uma poderosa homenagem a Tina Turner com uma versão de "Nutbush City Limits", da época em que ela fazia dupla com Ike Turner.
"Bruuuuuuuuuuuuceeeee"
E, finalmente, é chegada a hora da atração principal. Como sempre, os músicos da E Street band, aqui em versão bem ampliada, vão, um a um, subindo ao palco até a chegada do "Boss". Ele conta até quatro e ataca com "No Surrender", um dos hits do blockbuster "Born In The USA", de 1984. O público, surpreendentemente, parece um pouco frio, mas isso, aos poucos irá mudar. De cara nota-se outra diferença em relação aos shows no Brasil: os celulares filmando o espetáculo são poucos - outra coisa que nos faz pensar em um festival dos anos 80 ou 90.
Nessa turnê, Bruce, optou por fazer um setlist mais ou menos fixo em todas as noites. Com isso, uma das marcas registradas dos shows do músico, os cartazes do público com pedidos de música, que, muitas vezes eram atendidos na base do improviso, ficam de fora.
Em troca, ganhamos um espetáculo com uma carga emocional muito maior. Por mais que não queiramos enxergar, quem está ali na nossa frente suando a camisa, é um artista com 72 anos de idade que sabe que, mesmo querendo, não vai fazer essas maratonas por muito mais tempos - ainda que seja um espanto ver que ele tenha conseguido chegar com tamanha vitalidade até aqui.
Bruce agora está falando menos entre as músicas, mas os discursos são sempre certeiros e emotivos, como quando, antes de cantar "Last Man Standing", ele conta a história de como entrou em sua primeira banda de rock ainda na adolescência e que, agora, ele é o último sobrevivente dos "Castilles".
Apesar do setlist mais ou menos fixo, o "chefe" preparou algumas surpresas para os belgas. "The River" foi tocada apenas pela segunda vez nesse giro, e outras como "Mary's Place", "Bobby Jean" e "My Hometown" também entraram no repertório.
Em um show onde a emoção dá o tom é difícil separar um ou dois destaques, mas a cover de "Nightshift", dos Commodores e pérolas da década de 70 como "The E Street Shuffle", "Kitty's Back", "Backstreets" e "The Promised Land" calaram fundo na plateia, além, claro, dos momentos de catarse - "Born To Run", "Thunder Road", quando ele vai até o público, "Glory Days" e "Dancing In The Dark".
Springsteen deixa o palco após 27 músicas e mais de duas horas e meia. E podemos apostar que as mais de cem mil pessoas que ali estiveram irão querer vê-lo novamente, seja pela segunda ou centésima vez. A nós, brasileiros, resta torcer para que ele cumpra a promessa feita em 2013 e retorne ao país.
Como ainda não há nenhuma indicação de que ele retornará ao Brasil, o jeito foi fazer um esforço e pegá-lo em uma parada de sua atual turnê pela Europa. A data escolhida foi a do dia 18 de junho, onde ele encerrou o TW Classic Festival na pequena Werchter, Bélgica.
Bruce não costuma se apresentar muito em festivais, já que gosta de fazer shows longos, mas o formato do TW é perfeito para ele. O evento faz lembrar nossos antigos megaconcertos, como os dois primeiros Rock In Rio ou o Hollywood Rock: apenas um palco com quatro atrações.
O público também é bem diferente do que vemos por aqui: a maioria esmagadora já está aposentada, ou em vias de se aposentar, e parece ser fã do artista desde, pelo menos, os anos 80. Muitos levam cadeiras de metal, sim elas são aceitas, puffs ou tapetes para se sentar - e todos somem de vista, como que por milagre, no momento em que a atração principal sobe ao palco. Uma coisa é certa: por ali, o conceito do "não tenho mais idade, saco e físico para festivais", é uma frase que não existe.
Esse enorme descampado é usado para shows ao ar livre há um longo tempo, no dia anterior quem esteve por lá foi P!nk e a estrutura já fica basicamente montada (é possível ver um "palco 2" ao longe).
Igualmente interessante é ver um espaço que não é tomado por ações de marketing. Nada de tendas e espaços construídos por cervejarias, companhias de refrigerante ou serviços de streaming. Há apenas a barracas que vendem comida e bebida, com preços tão caros quanto os daqui, circundando o local.
Como o nome indica, o festival é voltado para artistas "com alta quilometragem", Bon Jovi, Guns n' Roses, The Police e os Rolling Stones, além do próprio Springsteen, já estiveram por lá em edições passadas.
Em 2023, complementaram a escalação o Simply Red, mais o "novato" Jack Johnson e os heróis locais do Triggerfinger que abriram a tarde com um som pesado que fica entre o Muse e o Queens of The Stone Age.
Johnson tocou em seguida, trajando camiseta do Wilco e exibindo seu som simpático que combina bem com sua persona. Bem-humorado, ele diverte a plateia fazendo um solo com garrafas de cerveja e cantando, a pedido de um dos poucos chapados vistos na audiência, "Willie Got Me Stoned".
O Simply Red veio depois. A banda é popularíssima na Europa e o público curte o soul/pop de Mick Hucknall. Com novidades e muitos hits na bagagem, "Holding Back The Years", "Come To My Aid", "Stars", "Money's Too Tight To Mention"... eles nem precisam se esforçar muito para ganhar o público. O show acaba com uma poderosa homenagem a Tina Turner com uma versão de "Nutbush City Limits", da época em que ela fazia dupla com Ike Turner.
"Bruuuuuuuuuuuuceeeee"
E, finalmente, é chegada a hora da atração principal. Como sempre, os músicos da E Street band, aqui em versão bem ampliada, vão, um a um, subindo ao palco até a chegada do "Boss". Ele conta até quatro e ataca com "No Surrender", um dos hits do blockbuster "Born In The USA", de 1984. O público, surpreendentemente, parece um pouco frio, mas isso, aos poucos irá mudar. De cara nota-se outra diferença em relação aos shows no Brasil: os celulares filmando o espetáculo são poucos - outra coisa que nos faz pensar em um festival dos anos 80 ou 90.
Nessa turnê, Bruce, optou por fazer um setlist mais ou menos fixo em todas as noites. Com isso, uma das marcas registradas dos shows do músico, os cartazes do público com pedidos de música, que, muitas vezes eram atendidos na base do improviso, ficam de fora.
Em troca, ganhamos um espetáculo com uma carga emocional muito maior. Por mais que não queiramos enxergar, quem está ali na nossa frente suando a camisa, é um artista com 72 anos de idade que sabe que, mesmo querendo, não vai fazer essas maratonas por muito mais tempos - ainda que seja um espanto ver que ele tenha conseguido chegar com tamanha vitalidade até aqui.
Bruce agora está falando menos entre as músicas, mas os discursos são sempre certeiros e emotivos, como quando, antes de cantar "Last Man Standing", ele conta a história de como entrou em sua primeira banda de rock ainda na adolescência e que, agora, ele é o último sobrevivente dos "Castilles".
Apesar do setlist mais ou menos fixo, o "chefe" preparou algumas surpresas para os belgas. "The River" foi tocada apenas pela segunda vez nesse giro, e outras como "Mary's Place", "Bobby Jean" e "My Hometown" também entraram no repertório.
Em um show onde a emoção dá o tom é difícil separar um ou dois destaques, mas a cover de "Nightshift", dos Commodores e pérolas da década de 70 como "The E Street Shuffle", "Kitty's Back", "Backstreets" e "The Promised Land" calaram fundo na plateia, além, claro, dos momentos de catarse - "Born To Run", "Thunder Road", quando ele vai até o público, "Glory Days" e "Dancing In The Dark".
Springsteen deixa o palco após 27 músicas e mais de duas horas e meia. E podemos apostar que as mais de cem mil pessoas que ali estiveram irão querer vê-lo novamente, seja pela segunda ou centésima vez. A nós, brasileiros, resta torcer para que ele cumpra a promessa feita em 2013 e retorne ao país.