Foto: Rodrigo Gianesi

2022 foi o ano em que um dos festivais mais simpáticos do país, o Balaclava Fest, voltou a ser realizado, depois da pausa forçada pela pandemia. Mais uma vez, houve o esforço em trazer nomes que nunca haviam tocado no país e há muito eram pedidos pelos fãs brasileiros de rock alternativo, as duas principais atrações da noite: o Alvvays e os Fleet Foxes, e também uma boa banda internacional menos conhecida mas instigante, o Crumb.

Para completar a escalação, uma amostra do que anda sendo feito de artistas da nova geração brasileira, com Ombu, Bruno Berle, Jennifer Souza e Pluma, que tocaram em um palco montado no saguão do Tokio Marine Hall, em São Paulo.

Com casa cheia, as duas maiores atrações não decepcionaram. O Alvvays, de quebra, chegou por aqui no exato momento em que o terceiro álbum deles, "Blue Rev", está surgindo com destaque em várias listas de melhores do ano da imprensa especializada. E foi nesse material que o quinteto focou a sua atenção. 10, das dezoito músicas mostradas por eles vieram do novo trabalho, incluindo a linda "Belinda Says", eleita a grande música de 2022 pelo influente site Pitchfork.
Alvvays
Alvvays (Foto: Patricia Asega)

O som deles não tem muito segredo: é um indie rock bastante melódico, com as guitarras distorcidas na medida certa, e canções bastante uniformes. Aquele som ótimo para se dançar sozinho, de preferência fitando os sapatos, como convém a uma banda que certamente ouviu os grandes nomes do shoegaze noventista.

A vocalista Molly Rankin é bastante fofa, outro adjetivo que combina com o som dos canadenses, e se mostra visivelmente feliz de estar tocando para uma plateia que genuinamente gosta deles.

Logo depois foi a vez dos Fleet Foxes compensarem a longa espera por um show deles por aqui no encerramento da noite. Com influência do melhor da música americana do final dos anos 60/inícios dos 70, eles surpreendem. Ao vivo, a banda é são um septeto, com baixo, guitarra, bateria, sax, trombone e teclado, mais a voz e o violão do líder Robyn Pecknold, chamado carinhosamente de "Robinho" pela plateia e também claramente feliz por estar ali.
Fleet Foxes
Fleet Foxes (Foto: Patricia Asega)

Ao contrário dos Alvvays, que soam bem próximos do que se ouve nos discos, os FF dão nova vida para suas canções no palco, todas muito bem trabalhadas e intrincadas - especialmente as harmonias vocais, o uso criativo da bateria e as entradas dos metais.

O setlist teve músicas de todos os trabalhos, com destaque maior para "Shore", o mais recente, e mais uma cover para "Phoenix", a música que eles gravaram com o supergrupo indie Big Red Machine.

Em um concerto que soube dosar intensidade e leveza, fica difícil pescar destaques individuais, mas, claro, que os hits "White Winter Hymnal" e "Mykonos" calaram mais fundo na plateia. O final, com Tim Bernardes, talvez o maior fã da banda no Brasil, dividindo o microfone em "Going-To-The-Sun Road", e a despedida com "Helplessness Blues" fecharam aquele que foi, fácil, um dos grandes shows vistos no Brasil esse ano. Que em 2023, o Balaclava (tanto o selo quanto o festival) siga surpreendendo.

(Leandro Saueia)