(Foto: Marcos Hermes)
Gal Costa

Gal Costa, morta nesta quarta-feira (9), aos 77 anos, deixou uma obra vasta e de inegável relevo artístico e cultural. São mais de 30 álbuns entre discos de estúdio, ao vivo e em parceria com outros artistas.

Com tamanha quantidade de trabalhos, quem se debruça sobre a discografia da baiana encontra álbuns há muito tidos como clássicos da MPB, trabalhos cult, LPs que venderam centenas de milhares de cópias, discos que merecem ser conhecidos ou reavaliados e, como também não poderia deixar de ser, alguns trabalhos de menor fôlego, ainda que nenhum possa ser de todo descartado.

O ecletismo é outra marca. Bossa-nova, samba, jazz, rock, pop, baião, MPB, bolero... Gal cantava de tudo, e sempre com personalidade, até porque ela era daquelas intérpretes que se apoderavam das canções que gravava, ou cantava ao vivo, tornando-se praticamente autora delas.

Selecionamos abaixo alguns discos da artista que merecem ser conhecidos por quem quer que se interesse pela nossa música. Aqui estão aqueles que os fãs de longa data estão tirando da prateleira, ou dando o play nas plataformas de streaming, para homenagear a artista, e outros menos óbvios, mas igualmente antológicos.

"Gal Costa" - 1968
Gal Costa

Depois um LP mais "classicista" gravado ao lado de Caetano Veloso ("Domingo", de 1967), Gal estreia solo em um álbum em que ela está plenamente integrada ao Tropicalismo, em um disco, no geral, de pegada experimental e roqueira, No repertório, estão cinco músicas de Caetano, incluindo "Baby", "Não Identificado", "Divino Maravilhoso", esta em parceria com Gilberto Gil que se tornaria uma das marcas registradas da cantora e a bossa "Saudosismo". O disco tem ainda canções de Tom Zé, Jorge Ben Jor e de Roberto e Erasmo Carlos. Os dois LPs seguintes seguem essa receita e são igualmente fundamentais.



"FA-TAL" - 1971
Gal Costa

O clássico inquestionável dessa longa discografia, "FA-TAL" trazia o registro em vinil do show que Gal fez em um dos períodos mais conturbados da nossa história. Com Gil e Caetano exilados, coube a ela manter a chama tropicalista viva por aqui. Um álbum duplo perfeito, "FA-TAL" começa com a cantora sendo acompanhada apenas pelo violão e tem três momentos de pura transcendência musical: "Pérola Negra" (de um então desconhecido Luiz Melodia), "Dê Um Rolê", gravada originalmente pelos "Novos Baianos e "Vapor Barato, de Jards Macalé e Wally Salomão.

Era justamente esse álbum que ela iria recriar no sábado passado no Primavera Sound naquele que prometia ser não só um dos melhores shows do festival como, no mínimo, deste ano.



"Cantar" - 1974
Gal Costa

Um disco mais cool marcado por grandes momentos. Os destaques maiores vão para as canções escritas por João Donato (com a cantora na foto acima), em particular "Flor de Maracujá", com arranjo cheio de suingue, daqueles que deixam os DJs estrangeiros com água na boca, e a doída "Até Quem Sabe". "Cantar" traz também músicas de, entre outros, Caetano ( "Lua, Lua, Lua, Lua") e uma pérola de Gilberto Gil, "Barato Total".



"Gal Canta Caymmi" - 1976
Gal Costa

Assim como as grandes damas do jazz, Gal também se aventurou no formato "songbook" gravando todo um disco dedicado apenas a obra de um compositor. "Gal canta Caymmi" foi um grande sucesso de vendas e também um acerto artístico, inclusive pela opção de tirar o aspecto sisudo que um projeto destes poderia tomar ao deixar as canções com uma cara mais contemporânea, trazendo as canções gravadas há décadas por Dorival Caymmi para o meio dos anos 70.



"Fantasia" - 1981
Gal Costa

Gal Costa atingiu seu auge de popularidade entre o final dos anos 70 e meados dos 80, quando seus álbuns vendiam em quantidades enormes, emplacavam músicas nas rádios e novelas e se transformavam em shows de enorme sucesso.

Os críticos nem sempre aprovavam, mas, ainda que alguns LPs possam ter arranjos um tanto datados, é inegável o charme pop desses discos, que hoje podem ser desfrutados com enorme prazer, até por quem torcia o nariz para eles quando de seus lançamentos.

Escolhemos o álbum "Fantasia" para marcar esse momento da estrela, já que ele tem clássicos eternos como "Meu Bem, Meu Mal", "Festa do Interior", "Açaí" e "Massa Real", mas pode ir sem medo em outros como "Gal Tropical" ou "Aquarela do Brasil".



"Nenhuma Dor" - 2021

Lançado no ano passado, o derradeiro álbum de Gal foi uma obra revisionista, com a cantora revisitando clássicos de seu repertório ao lado de novos artistas - Silva, Criolo, Seu Jorge e Tim Bernardes entre eles.

Os convidados surgem respeitosamente, e os arranjos não buscam reinventar a roda. Acima de tudo chama a atenção de como Gal manteve sua voz belamente conservada, mesmo que em um timbre, agora, um pouco mais grave.