A antiga União Soviética era uma terra cheia de mistérios e segredos para quem vivia no Ocidente, no século 20. Não à toa, ela exercia um enorme fascínio em muitos jovens que tinham a curiosidade em saber o que se passava por trás da chamada cortina de ferro - como o bloco dos países socialistas da Europa Oriental eram chamados.
Em um lugar onde o rock era considerado subversivo e decadente, mas muito ouvido clandestinamente, não chega a ser surpresa ver que foram raros os artistas que conseguiram tocar na Rússia durante os anos da Guerra Fria. Mas alguns conseguiram, incluindo até uma banda brasileira. Relembre alguns deles:
Elton John - 1979
O astro não foi o primeiro roqueiro britânico a conhecer o "lado de lá". Cliff Richards foi na frente, mas não se nega que Elton fez mais barulho. O cantor chegou na União Soviética em 1979 para fazer uma série de shows onde tocava solo ao piano ou com o auxílio do genial percussionista Ray Cooper, que ainda hoje toca ao seu lado.
Foram quatro concertos que geraram um documentário (e, mais recentemente, um disco ao vivo) que agradou o público e não ofendeu as autoridades - logicamente ele deixou as suas costumeiras extravagâncias de lado. Como resultado, "A Single Man", seu então mais recente álbum, se tornou o primeiro disco de música pop a ganhar um lançamento oficial no país.
Elton ainda é bastante popular na Rússia e, desde os anos 90, se apresenta com frequência em cidades como Moscou e São Petersburgo.
Billy Joel - 1987
O "Elton John dos EUA" também tocou na Rússia, mas em uma época já um pouco diferente. Empossado em 1985, Mikhail Gorbachev instituiu a Glasnost, uma série de medidas implementadas visando aumentar a transparência da União Soviética e também abri-la para outras culturas.
Joel esteve lá em 1987 e esta foi a primeira vez que os russos puderam ver um show de um grande astro do rock com a mesma produção que se via nos grandes centros do ocidente.
O cantor não é conhecido por tocar muito fora dos EUA - basta dizer que, em toda sua lona carreira, ele só fez pouco mais de 300 shows no exterior (e nenhum na América do Sul). De forma que não deixa de ser surpreendente saber que a URSS sequer foi a primeira vez em que ele se apresentou em um país comunista. Em 1979, ele se juntou a uma caravana de músicos norte-americanos e cantou no Teatro Karl Marx em Havana, Cuba.
Os shows, três em Moscou e três em São Petersburgo, foram gravados e saíram posteriormente em disco e vídeo:
Bon Jovi, Ozzy e Mötley Crüe - 1989
No final dos anos 80, o chamado "segundo mundo" começou a ruir, com a queda do Muro de Berlim, o esfacelamento da União Soviética e países do bloco socialista derrubando seus antigos líderes, em alguns casos, de maneira violenta.
O clima já estava tão diferente que até um festival de rock pesado pôde ser realizado em Moscou e com uma escalação que, ainda hoje, atrairia milhares de pessoas em qualquer país do mundo: Bon Jovi, Scorpions, Mötley Crüe e Ozzy Osbourne, mais Skid Row e Cinderella, além de três bandas locais.
O Moscow Music Peace Festival aconteceu nos dias 12 e 13 de agosto de 1989 e, ironia das ironias para um evento com Ozzy e o Mötley Crüe no lineup que buscava, além de trabalhar pela paz, estabelecer uma proposta de cooperação internacional na luta contra as drogas dentro do território russo. Mais de 100 mil pessoas viram os shows.
De todas as atrações, a que criou um vínculo maior com o país foi o Scorpions. A banda já havia tocado em São Petersburgo em 1988 e voltaria muitas vezes depois para lá - a Rússia é o quinto país onde eles mais tocaram.
Dois anos depois, os russos voltaram a ter um festival de rock pesado com uma escalação que ainda hoje impressiona. O Monsters Of Rock contou com AC/DC, Metallica, Pantera e os Black Crowes
UB40 - 1987
Apesar de ingleses e, em sua maioria, brancos, o UB40 fez um trabalho de divulgação do reggae ao redor do mundo de fazer os jamaicanos tirarem o chapéu. Em 1986, eles estavam em um ótimo momento, graças ao sucesso de "Rat In Mi Kitchen", e levaram a sua música para o russos.
Um vídeo e um disco, como de praxe, foram feitos e o que se vê é um registro fascinante, com o público, em sua maioria sentado, sem saber como se comportar diante daquela música que soava nova aos seus ouvidos. Aos poucos eles vão se soltando e no final é fácil constatar que a plateia acabou se rendendo à força do ritmo e da performance, nunca menos que contagiante, da banda.
Blitz - 1985
Acreditem ou não, mas certamente existem russos que cujo primeiro show de rock que viram na vida, e quiçá o último, foi o de uma banda brasileira, mais especificamente a Blitz, de Evandro Mesquita e Fernanda Abreu. A banda, que encerraria suas atividades pouco depois, foi convidada a representar o Brasil em um encontro da juventude, ao lado de outros artistas.
Quem os acompanhou na viagem foi o jornalista Marcelo Tas, que, na época, havia criado o personagem Ernesto Varela, um repórter que fazia, com a maior pureza do mundo, as perguntas mais desinibidas e desconcertantes para os políticos da época.
Muitos anos depois dessa viagem pra lá de inesquecível, Mesquita e Tas relembraram aqueles dias em Moscou e como uma música da banda, com palavrão e tudo, acabou sendo ouvida na rádio soviética.
Veja também o documentário feito por Tas (e um ainda jovem Fernando Meirelles) sobre o evento:
Em um lugar onde o rock era considerado subversivo e decadente, mas muito ouvido clandestinamente, não chega a ser surpresa ver que foram raros os artistas que conseguiram tocar na Rússia durante os anos da Guerra Fria. Mas alguns conseguiram, incluindo até uma banda brasileira. Relembre alguns deles:
Elton John - 1979
O astro não foi o primeiro roqueiro britânico a conhecer o "lado de lá". Cliff Richards foi na frente, mas não se nega que Elton fez mais barulho. O cantor chegou na União Soviética em 1979 para fazer uma série de shows onde tocava solo ao piano ou com o auxílio do genial percussionista Ray Cooper, que ainda hoje toca ao seu lado.
Foram quatro concertos que geraram um documentário (e, mais recentemente, um disco ao vivo) que agradou o público e não ofendeu as autoridades - logicamente ele deixou as suas costumeiras extravagâncias de lado. Como resultado, "A Single Man", seu então mais recente álbum, se tornou o primeiro disco de música pop a ganhar um lançamento oficial no país.
Elton ainda é bastante popular na Rússia e, desde os anos 90, se apresenta com frequência em cidades como Moscou e São Petersburgo.
Billy Joel - 1987
O "Elton John dos EUA" também tocou na Rússia, mas em uma época já um pouco diferente. Empossado em 1985, Mikhail Gorbachev instituiu a Glasnost, uma série de medidas implementadas visando aumentar a transparência da União Soviética e também abri-la para outras culturas.
Joel esteve lá em 1987 e esta foi a primeira vez que os russos puderam ver um show de um grande astro do rock com a mesma produção que se via nos grandes centros do ocidente.
O cantor não é conhecido por tocar muito fora dos EUA - basta dizer que, em toda sua lona carreira, ele só fez pouco mais de 300 shows no exterior (e nenhum na América do Sul). De forma que não deixa de ser surpreendente saber que a URSS sequer foi a primeira vez em que ele se apresentou em um país comunista. Em 1979, ele se juntou a uma caravana de músicos norte-americanos e cantou no Teatro Karl Marx em Havana, Cuba.
Os shows, três em Moscou e três em São Petersburgo, foram gravados e saíram posteriormente em disco e vídeo:
Bon Jovi, Ozzy e Mötley Crüe - 1989
No final dos anos 80, o chamado "segundo mundo" começou a ruir, com a queda do Muro de Berlim, o esfacelamento da União Soviética e países do bloco socialista derrubando seus antigos líderes, em alguns casos, de maneira violenta.
O clima já estava tão diferente que até um festival de rock pesado pôde ser realizado em Moscou e com uma escalação que, ainda hoje, atrairia milhares de pessoas em qualquer país do mundo: Bon Jovi, Scorpions, Mötley Crüe e Ozzy Osbourne, mais Skid Row e Cinderella, além de três bandas locais.
O Moscow Music Peace Festival aconteceu nos dias 12 e 13 de agosto de 1989 e, ironia das ironias para um evento com Ozzy e o Mötley Crüe no lineup que buscava, além de trabalhar pela paz, estabelecer uma proposta de cooperação internacional na luta contra as drogas dentro do território russo. Mais de 100 mil pessoas viram os shows.
De todas as atrações, a que criou um vínculo maior com o país foi o Scorpions. A banda já havia tocado em São Petersburgo em 1988 e voltaria muitas vezes depois para lá - a Rússia é o quinto país onde eles mais tocaram.
Dois anos depois, os russos voltaram a ter um festival de rock pesado com uma escalação que ainda hoje impressiona. O Monsters Of Rock contou com AC/DC, Metallica, Pantera e os Black Crowes
UB40 - 1987
Apesar de ingleses e, em sua maioria, brancos, o UB40 fez um trabalho de divulgação do reggae ao redor do mundo de fazer os jamaicanos tirarem o chapéu. Em 1986, eles estavam em um ótimo momento, graças ao sucesso de "Rat In Mi Kitchen", e levaram a sua música para o russos.
Um vídeo e um disco, como de praxe, foram feitos e o que se vê é um registro fascinante, com o público, em sua maioria sentado, sem saber como se comportar diante daquela música que soava nova aos seus ouvidos. Aos poucos eles vão se soltando e no final é fácil constatar que a plateia acabou se rendendo à força do ritmo e da performance, nunca menos que contagiante, da banda.
Blitz - 1985
Acreditem ou não, mas certamente existem russos que cujo primeiro show de rock que viram na vida, e quiçá o último, foi o de uma banda brasileira, mais especificamente a Blitz, de Evandro Mesquita e Fernanda Abreu. A banda, que encerraria suas atividades pouco depois, foi convidada a representar o Brasil em um encontro da juventude, ao lado de outros artistas.
Quem os acompanhou na viagem foi o jornalista Marcelo Tas, que, na época, havia criado o personagem Ernesto Varela, um repórter que fazia, com a maior pureza do mundo, as perguntas mais desinibidas e desconcertantes para os políticos da época.
Muitos anos depois dessa viagem pra lá de inesquecível, Mesquita e Tas relembraram aqueles dias em Moscou e como uma música da banda, com palavrão e tudo, acabou sendo ouvida na rádio soviética.
Veja também o documentário feito por Tas (e um ainda jovem Fernando Meirelles) sobre o evento: