Nos últimos dias, Neil Young apareceu muito nos noticiários por dois motivos bem distintos. O maior foi por ele ter decidido tirar suas músicas do Spotify por não concordar que a gigante do streaming musical siga transmitindo o podcast de Joe Rogan, que dá espaço para que pessoas contrárias às vacinas da COVID-19 falem em seu muito popular programa.
A outra foi pela celebração dos 50 anos de lançamento de "Harvest", o mais bem sucedido de seus 41 álbuns de estúdio, lançado em 1 de fevereiro de 1972.
41? Sim, e isso porque não falamos nos discos ao vivo, compilações, álbuns que gravou mas só decidiu lançar oficialmente tempos depois - ele ainda tem vários engavetados - e, claro, os trabalhos feitos com o Buffalo Springfield, a banda que o revelou, e que deixou apenas três discos, e no Crosby, Stills, Nash and Young, com quem ele conheceu o superestrelato.
Artista irrequieto, Young é daqueles que parecem nunca sofrer de falta de inspiração, ainda que, dada a profusão de lançamentos, ele também tenha um punhado de discos pouco inspirados. Ou seja, é muita coisa para um novato saber por onde se embrenhar. Daí a ideia de fazer esse guia com cinco discos fundamentais dentro desta carreira. Portanto, se você não conhece quase nada dele, ou quer ouvi-lo de maneira menos profunda, esses álbuns são o melhor ponto de partida.
Vale lembrar também que Young pode não estar no Spotify mas segue em todas outras plataformas de streaming, e também no YouTube - assim como nas lojas de discos, até porque muito antes da recente febre da redescoberta do vinil, ele já dizia que o tradicional formato era, em todos os sentidos, muito melhor que os CDs.
"After The Gold Rush" - 1970
O terceiro álbum solo do cantor é, para muitos fãs e críticos, o seu melhor. Uma das razões, além do repertório inspirado, é por ele resumir, em seus pouco mais de 30 minutos, várias das facetas que ele já havia desenvolvido, e outras que viria a desenvolver futuramente.
O disco tem rock com acompanhamento do Crazy Horse, a banda de apoio que ele busca quando quer tocar alto e pesado, ao lado de canções de inspiração country e folk. Liricamente, "After..." também junta em um só trabalho vários "Neils". A faixa-título é pioneira em trazer temas ecológicos para o pop, "Southern Man", tem o canadense em sua forma mais raivosa e virulenta. O ataque aos "homem do sul" levou o Lynyrd Skynyrd a gravar uma resposta na mesma altura: "Sweet Home Alabama". O Young delicado e romântico também tem presença garantida no LP.
"Harvest" - 1972
Na única vez em que Young quis fazer um disco para o grande público ele acertou em cheio. "Harvest" é um disco dos mais bonitos, muito bem composto, produzido, arranjado e tocado. Daqui saiu o seu maior hit na parada de singles, "Heart of Gold", número 1 nos EUA (o álbum também foi o único dele a encabeçar o ranking da Billboard).
Um LP marcado pelo folk e country, ele também toma alguns desvios. "Alabama", é outra diatribe sobre o sul dos EUA, e seus problemas raciais, e "The Needle and the Damage Done", que viraria um standard nas décadas seguintes, é uma balada acústica, onde a bela melodia acompanha uma letra pesada sobre o estrago que as drogas pesadas estavam causando em um grande número de pessoas, incluindo algumas bem próximas do músico.
"Zuma" - 1976
Young costuma brincar que , com "Harvest" deu uma passeadinha pelo mainstream, mas que não gostou muito do que viu. Seus passos seguintes mostram, isso claramente. O músico passa um período de insegurança e depressão, começa a abusar do álcool (e também exagera no consumo de marijuana) em uma tentativa quase que deliberada de alienar o público que havia conquistado.
Nessa época, entre 1973 e 1975, é comum ele não tocar seu sucessos nos shows e também subir ao palco claramente alterado - ainda que lançamentos de shows dessa época também mostrem que havia dias em que o sublime era alcançado.
Nesse clima, ele lançou uma sequência de três álbuns brilhantes mas que não são para todos os paladares. A "ditch trilogy" (algo como "a trilogia da vala") tem o ao vivo, mas só com músicas inéditas, "Time Fades Away" (1973), além de "On The Beach" (1974) e "Tonight's The Night" (gravado em 73, mas só lançado em 1975).
No ano seguinte, ele resolveu dar uma sacudida na poeira. O Crazy Horse estava de volta, pela primeira vez para acompanhá-lo por todo um álbum desde 1969, e "Zuma" resultou em um trabalho de pegada predominantemente roqueira, cheio de canções memoráveis e alguns desvios por músicas de levada acústica.
Em um trabalho cheio de pontos altos, o destaque maior vai para a longa "Cortez the Killer, uma das melhores performances de já registradas de Neil com o Crazy Horse.
Rust Never Sleeps - 1979
Neil se despediu dos anos 70 com um de seus trabalhos mais poderosos e emblemáticos. Um álbum de duas metades, com o lado A acústico e o B elétrico, "Rust..." abre e fecha com variações daquele que se tornou um dos maiores clássicos do rock: "My My, Hey Hey (Out of the blue)" (ou "Hey Hey, My My (Into the Black)", na versão elétrica).
Quase todo gravado ao vivo, ele tem ainda dois clássicos incontestáveis do músico: do lado "voz e violão" "Pocahontas" e do "com banda" "Powderfinger"
Ragged Glory - 1990
Os anos 80 foram um período de estranheza. Neil abriu a década com dois discos menores, "Hawks and Doves" e "Re·ac·tor", antes de mudar de gravadora e começar a fazer uma série de experimentos em estilos como a música eletrônica ("Trans"), o rock and roll dos anos 50 ("Everybody's Rockin'"), s country music ("Old Ways") e o rock típico dos anos 80 ("Landing On The Water"), foi quando o cantor foi famosamente foi processado pela gravadora por deliberadamente estar lançando discos que não soavam como ele.
Em 1988 ele retornou para a Reprise, sua gravadora de longa data, e, ironicamente, voltou a "soar como Neil Young'. Primeiro timidamente em "This Note's For You", que lhe valeu um VMA de clipe do ano pelo vídeo da faixa título, onde ele ironizava, a onda dos astros do pop e rock estarem se vendendo para as grandes corporações, através de parcerias comerciais de patrocínio, e depois para valer.
A partir de 1989, com "Freedom", ele engatou uma série impressionante de grandes álbuns - incluindo dois ao vivo - que se estenderia até 1995. Desses, dois se sobressaem: "Harvest Moon", a bela sequência de "Harvest", de 1992, e "Ragged Glory", onde, novamente com o Crazy Horse, ele lançou seu melhor disco desde os anos 70, e um que, ainda hoje, ele não superou, mesmo que álbuns posteriores como "Living With War", "Le Noise", "Psychedelic Pill" e mesmo o seu mais recente, "Barn", que saiu no finzinho de 2021, mostrem que ele ainda tem bastante a oferecer, aos seus fãs.
A outra foi pela celebração dos 50 anos de lançamento de "Harvest", o mais bem sucedido de seus 41 álbuns de estúdio, lançado em 1 de fevereiro de 1972.
41? Sim, e isso porque não falamos nos discos ao vivo, compilações, álbuns que gravou mas só decidiu lançar oficialmente tempos depois - ele ainda tem vários engavetados - e, claro, os trabalhos feitos com o Buffalo Springfield, a banda que o revelou, e que deixou apenas três discos, e no Crosby, Stills, Nash and Young, com quem ele conheceu o superestrelato.
Artista irrequieto, Young é daqueles que parecem nunca sofrer de falta de inspiração, ainda que, dada a profusão de lançamentos, ele também tenha um punhado de discos pouco inspirados. Ou seja, é muita coisa para um novato saber por onde se embrenhar. Daí a ideia de fazer esse guia com cinco discos fundamentais dentro desta carreira. Portanto, se você não conhece quase nada dele, ou quer ouvi-lo de maneira menos profunda, esses álbuns são o melhor ponto de partida.
Vale lembrar também que Young pode não estar no Spotify mas segue em todas outras plataformas de streaming, e também no YouTube - assim como nas lojas de discos, até porque muito antes da recente febre da redescoberta do vinil, ele já dizia que o tradicional formato era, em todos os sentidos, muito melhor que os CDs.
"After The Gold Rush" - 1970
O terceiro álbum solo do cantor é, para muitos fãs e críticos, o seu melhor. Uma das razões, além do repertório inspirado, é por ele resumir, em seus pouco mais de 30 minutos, várias das facetas que ele já havia desenvolvido, e outras que viria a desenvolver futuramente.
O disco tem rock com acompanhamento do Crazy Horse, a banda de apoio que ele busca quando quer tocar alto e pesado, ao lado de canções de inspiração country e folk. Liricamente, "After..." também junta em um só trabalho vários "Neils". A faixa-título é pioneira em trazer temas ecológicos para o pop, "Southern Man", tem o canadense em sua forma mais raivosa e virulenta. O ataque aos "homem do sul" levou o Lynyrd Skynyrd a gravar uma resposta na mesma altura: "Sweet Home Alabama". O Young delicado e romântico também tem presença garantida no LP.
"Harvest" - 1972
Na única vez em que Young quis fazer um disco para o grande público ele acertou em cheio. "Harvest" é um disco dos mais bonitos, muito bem composto, produzido, arranjado e tocado. Daqui saiu o seu maior hit na parada de singles, "Heart of Gold", número 1 nos EUA (o álbum também foi o único dele a encabeçar o ranking da Billboard).
Um LP marcado pelo folk e country, ele também toma alguns desvios. "Alabama", é outra diatribe sobre o sul dos EUA, e seus problemas raciais, e "The Needle and the Damage Done", que viraria um standard nas décadas seguintes, é uma balada acústica, onde a bela melodia acompanha uma letra pesada sobre o estrago que as drogas pesadas estavam causando em um grande número de pessoas, incluindo algumas bem próximas do músico.
"Zuma" - 1976
Young costuma brincar que , com "Harvest" deu uma passeadinha pelo mainstream, mas que não gostou muito do que viu. Seus passos seguintes mostram, isso claramente. O músico passa um período de insegurança e depressão, começa a abusar do álcool (e também exagera no consumo de marijuana) em uma tentativa quase que deliberada de alienar o público que havia conquistado.
Nessa época, entre 1973 e 1975, é comum ele não tocar seu sucessos nos shows e também subir ao palco claramente alterado - ainda que lançamentos de shows dessa época também mostrem que havia dias em que o sublime era alcançado.
Nesse clima, ele lançou uma sequência de três álbuns brilhantes mas que não são para todos os paladares. A "ditch trilogy" (algo como "a trilogia da vala") tem o ao vivo, mas só com músicas inéditas, "Time Fades Away" (1973), além de "On The Beach" (1974) e "Tonight's The Night" (gravado em 73, mas só lançado em 1975).
No ano seguinte, ele resolveu dar uma sacudida na poeira. O Crazy Horse estava de volta, pela primeira vez para acompanhá-lo por todo um álbum desde 1969, e "Zuma" resultou em um trabalho de pegada predominantemente roqueira, cheio de canções memoráveis e alguns desvios por músicas de levada acústica.
Em um trabalho cheio de pontos altos, o destaque maior vai para a longa "Cortez the Killer, uma das melhores performances de já registradas de Neil com o Crazy Horse.
Rust Never Sleeps - 1979
Neil se despediu dos anos 70 com um de seus trabalhos mais poderosos e emblemáticos. Um álbum de duas metades, com o lado A acústico e o B elétrico, "Rust..." abre e fecha com variações daquele que se tornou um dos maiores clássicos do rock: "My My, Hey Hey (Out of the blue)" (ou "Hey Hey, My My (Into the Black)", na versão elétrica).
Quase todo gravado ao vivo, ele tem ainda dois clássicos incontestáveis do músico: do lado "voz e violão" "Pocahontas" e do "com banda" "Powderfinger"
Ragged Glory - 1990
Os anos 80 foram um período de estranheza. Neil abriu a década com dois discos menores, "Hawks and Doves" e "Re·ac·tor", antes de mudar de gravadora e começar a fazer uma série de experimentos em estilos como a música eletrônica ("Trans"), o rock and roll dos anos 50 ("Everybody's Rockin'"), s country music ("Old Ways") e o rock típico dos anos 80 ("Landing On The Water"), foi quando o cantor foi famosamente foi processado pela gravadora por deliberadamente estar lançando discos que não soavam como ele.
Em 1988 ele retornou para a Reprise, sua gravadora de longa data, e, ironicamente, voltou a "soar como Neil Young'. Primeiro timidamente em "This Note's For You", que lhe valeu um VMA de clipe do ano pelo vídeo da faixa título, onde ele ironizava, a onda dos astros do pop e rock estarem se vendendo para as grandes corporações, através de parcerias comerciais de patrocínio, e depois para valer.
A partir de 1989, com "Freedom", ele engatou uma série impressionante de grandes álbuns - incluindo dois ao vivo - que se estenderia até 1995. Desses, dois se sobressaem: "Harvest Moon", a bela sequência de "Harvest", de 1992, e "Ragged Glory", onde, novamente com o Crazy Horse, ele lançou seu melhor disco desde os anos 70, e um que, ainda hoje, ele não superou, mesmo que álbuns posteriores como "Living With War", "Le Noise", "Psychedelic Pill" e mesmo o seu mais recente, "Barn", que saiu no finzinho de 2021, mostrem que ele ainda tem bastante a oferecer, aos seus fãs.