A estreia de "Get Back", o documentário sobre os Beatles dirigido por Peter Jackson, a partir de horas e horas de filmagem feitas por Michael Lindsay-Hogg que geraram o filme "Let It Be" (1970), foi o grande evento musical das últimas semanas, ao lado do lançamento de "30", de Adele, claro.
A minissérie, que pode ser vista no Disney+, surpreendeu por mostrar que a história que, até aqui, tinha-se como definitiva sobre o quarteto, agora teria que ser reescrita. O "Let it Be" original chegou aos cinemas bem quanto o grupo tinha se separado, e Hogg escolheu fazer um filme baseado principalmente nos momentos de tensão. Não se nega que ele tenha sido bem sucedido nesse intento.
Quem viu o doc. (que só foi lançado rapidamente em VHS nos anos 80 e, depois, sumiu de circulação) assistiu a um grupo se desintegrando, ainda que capaz de criar, não à toa eles ainda gravariam mais uma álbum, a obra-prima "Abbey Road". Agora vimos que não foi exatamente assim que se passaram aqueles dias em janeiro de 1969.
Sim, há momentos de drama, como a decisão de George Harrison de abandonar o grupo e a presença constante de Yoko Ono, que obviamente causava desconforto em muitos momentos, ainda que, e agora isso está claro, ela jamais atrapalhe os momentos de criação.
O fato é que mesmo os integrantes da banda ficaram com a ideia de aquele foi um período sombrio e que seria melhor que fosse esquecido. Daí ver o choque de McCartney e Ringo Starr, em entrevistas recentes, surpresos ao ver que, no final das contas, eles também se divertiram bastante.
Ainda que tenham passado dias e dias sem gravar muita coisa efetivamente aproveitável, quase tudo que acabou no álbum "Let It Be" foi registrado nos últimos dias de gravação, o período foi fértil. Muitas músicas que acabaram em "Abbey Road", ou nos primeiros discos solo de John, George e Paul, tiveram a sua gênese ali.
A série também mostra que muitas pessoas de fora da banda tiveram uma presença contínua na vida deles naquele momento, e além. Veja abaixo quem eram esses "personagens" e o que aconteceu com eles em seguida.
Glyn Johns
O engenheiro de som já vinha trabalhando com os Rolling Stones desde 1965 e entrou na órbita dos Beatles através de Lennon. Ele aparece muito mais nos registros do que o produtor da banda, George Martin, que, entra em cena pra valer no final das sessões.
Johns está com 79 anos e entrou para o Rock and Roll Hall Of Fame em 2012, dentro da categoria dos "não performers". Nos anos 70, ele trabalhou com Led Zeppelin, The Who, Faces, Neil Young, Eagles e, mais na frente, com o The Clash.
Foi Johns também o responsável por tentar transformar aquela montanha de material em um álbum. Ele montou um disco chamado "Get Back" e enviou para a banda, que rejeitou o trabalho (ele pode ser ouvido na íntegra na recém-lançada edição de luxo de "Let It Be").
O álbum lançado em 1970, e que conhecemos hoje em dia, foi montado pelo polêmico Phil Spector, que acabou creditado unicamente como produtor, uma grande injustiça para com Johns e Martin, como agora está claro.
O americano, morto no ano passado, adicionou overdubs, cpmo coros e orquestrações em algumas músicas, algo que muito irritou McCartney - ele ficou revoltado especialmente com o arranjo para "The Long And Winding Road".
Michael Lindsay-Hogg
O diretor convidado para registrar o processo de criação de um álbum dos Beatles começou dirigindo o "Ready Steady Go", um dois mais importantes programas britânicos dedicados à música pop. Com o quarteto de Liverpool, e também com os Stones, ele dirigiu alguns dos primeiros exemplos daqui, que, no futuro, se chamariam "videoclipes".
Depois de "Let It Be" (o filme), ele fez mais algumas produções para a TV, dirigiu filmes-concerto e, em 2000, voltou ao universo Beatle com "Two Of Us", longa que recria o dia em que, por muito pouco, não tivemos uma reunião de Lennon e McCartney ao vivo na televisão.
Foi em 1976 quando, após um período de afastamento, os dois colegas estiveram juntos em Nova Iorque assistindo ao "Saturday Night Live". Foi quando o produtor do programa fez o famoso esquete onde oferecia a quantia de 3 mil dólares para os Beatles se reunirem. Mal sabia ele que John e Paul estavam vendo o SNL e quase foram mesmo para os estúdios da NBC, infelizmente, eles mudaram de ideia em cima da hora.
Billy Preston
É visível na série o quanto o clima e a música melhoram assim que o tecladista Billy Preston entra em cena. Um amigo de uma época pré-fama do grupo - eles se conheceram em Hamburgo, onde os Beatles aprenderam a ser uma banda de verdade tocando por horas seguidas nos inferninhos da cidade - Preston chega só para dar um olá aos velhos conhecidos e acaba convidado a ficar. Sem que ele soubesse, vemos também o quarteto discutindo se ele deveria ser incorporado à banda.
Isso, claro, não aconteceu, mas ele ainda tocou em duas músicas de "Abbey Road" e foi creditado no single "Get Back" - que saiu como "The Beatles with Billy Preston". O tecladista ainda gravou dois discos pela Apple, ambos produzidos por Harrison, e participou de discos solo de todos eles, com exceção de McCartney.
Ele ainda pode ser ouvido em trabalhos de Joe Cocker, Rolling Stones, e chegou duas vezes, por conta própria, no topo da parada americana de singles, com "Will It Go Round In Circles" e "Nothing From Nothing".
Infelizmente, Billy também teve sérios problemas com drogas que atrapalharam não só a sua carreira, como a vida. Uma prisão por tentar abusar sexualmente de um garoto de 16 anos também deixou sua reputação para sempre abalada. Ele morreu em junho de 2006, aos 59 anos.
Mal Evans
Outra figura do círculo dos Beatles com uma morte trágica e precoce, Evans era o "faz-tudo" da banda e os conhecia desde os tempos de Cavern Club, ele foi segurança do clube onde o quarteto começou a despontar para o sucesso. Posteriormente, ele se tornou roadie do grupo e quando eles pararam de fazer shows, seguiu como parte importante da engrenagem da banda, algo facilmente perceptível em "Get Back".
Evans estava sempre a postos para ajudar os Beatles em estúdio - seja tocando "bigorna" em "", "despertador" em A Day In The Life" ou participando do coro em Yellow Submarine". Ele ainda produziu um grande clássico do power-pop, "No Matter What", do Badfinger, banda que ele descobriu e levou para a Apple.
Mal também teve problema com drogas e morreu assassinado em 1976, aos 40 anos, por policiais nova-iorquinos, depois que ele os ameaçou com uma espingarda, que era apenas uma arma de ar comprimido, algo que os oficiais não sabiam. Nenhum ex-Beatle foi à sua cerimônia de cremação, mas Harrison enviou uma quantidade em dinheiro para a família de seu antigo empregado.
A minissérie, que pode ser vista no Disney+, surpreendeu por mostrar que a história que, até aqui, tinha-se como definitiva sobre o quarteto, agora teria que ser reescrita. O "Let it Be" original chegou aos cinemas bem quanto o grupo tinha se separado, e Hogg escolheu fazer um filme baseado principalmente nos momentos de tensão. Não se nega que ele tenha sido bem sucedido nesse intento.
Quem viu o doc. (que só foi lançado rapidamente em VHS nos anos 80 e, depois, sumiu de circulação) assistiu a um grupo se desintegrando, ainda que capaz de criar, não à toa eles ainda gravariam mais uma álbum, a obra-prima "Abbey Road". Agora vimos que não foi exatamente assim que se passaram aqueles dias em janeiro de 1969.
Sim, há momentos de drama, como a decisão de George Harrison de abandonar o grupo e a presença constante de Yoko Ono, que obviamente causava desconforto em muitos momentos, ainda que, e agora isso está claro, ela jamais atrapalhe os momentos de criação.
O fato é que mesmo os integrantes da banda ficaram com a ideia de aquele foi um período sombrio e que seria melhor que fosse esquecido. Daí ver o choque de McCartney e Ringo Starr, em entrevistas recentes, surpresos ao ver que, no final das contas, eles também se divertiram bastante.
Ainda que tenham passado dias e dias sem gravar muita coisa efetivamente aproveitável, quase tudo que acabou no álbum "Let It Be" foi registrado nos últimos dias de gravação, o período foi fértil. Muitas músicas que acabaram em "Abbey Road", ou nos primeiros discos solo de John, George e Paul, tiveram a sua gênese ali.
A série também mostra que muitas pessoas de fora da banda tiveram uma presença contínua na vida deles naquele momento, e além. Veja abaixo quem eram esses "personagens" e o que aconteceu com eles em seguida.
Glyn Johns
O engenheiro de som já vinha trabalhando com os Rolling Stones desde 1965 e entrou na órbita dos Beatles através de Lennon. Ele aparece muito mais nos registros do que o produtor da banda, George Martin, que, entra em cena pra valer no final das sessões.
Johns está com 79 anos e entrou para o Rock and Roll Hall Of Fame em 2012, dentro da categoria dos "não performers". Nos anos 70, ele trabalhou com Led Zeppelin, The Who, Faces, Neil Young, Eagles e, mais na frente, com o The Clash.
Foi Johns também o responsável por tentar transformar aquela montanha de material em um álbum. Ele montou um disco chamado "Get Back" e enviou para a banda, que rejeitou o trabalho (ele pode ser ouvido na íntegra na recém-lançada edição de luxo de "Let It Be").
O álbum lançado em 1970, e que conhecemos hoje em dia, foi montado pelo polêmico Phil Spector, que acabou creditado unicamente como produtor, uma grande injustiça para com Johns e Martin, como agora está claro.
O americano, morto no ano passado, adicionou overdubs, cpmo coros e orquestrações em algumas músicas, algo que muito irritou McCartney - ele ficou revoltado especialmente com o arranjo para "The Long And Winding Road".
Michael Lindsay-Hogg
O diretor convidado para registrar o processo de criação de um álbum dos Beatles começou dirigindo o "Ready Steady Go", um dois mais importantes programas britânicos dedicados à música pop. Com o quarteto de Liverpool, e também com os Stones, ele dirigiu alguns dos primeiros exemplos daqui, que, no futuro, se chamariam "videoclipes".
Depois de "Let It Be" (o filme), ele fez mais algumas produções para a TV, dirigiu filmes-concerto e, em 2000, voltou ao universo Beatle com "Two Of Us", longa que recria o dia em que, por muito pouco, não tivemos uma reunião de Lennon e McCartney ao vivo na televisão.
Foi em 1976 quando, após um período de afastamento, os dois colegas estiveram juntos em Nova Iorque assistindo ao "Saturday Night Live". Foi quando o produtor do programa fez o famoso esquete onde oferecia a quantia de 3 mil dólares para os Beatles se reunirem. Mal sabia ele que John e Paul estavam vendo o SNL e quase foram mesmo para os estúdios da NBC, infelizmente, eles mudaram de ideia em cima da hora.
Billy Preston
É visível na série o quanto o clima e a música melhoram assim que o tecladista Billy Preston entra em cena. Um amigo de uma época pré-fama do grupo - eles se conheceram em Hamburgo, onde os Beatles aprenderam a ser uma banda de verdade tocando por horas seguidas nos inferninhos da cidade - Preston chega só para dar um olá aos velhos conhecidos e acaba convidado a ficar. Sem que ele soubesse, vemos também o quarteto discutindo se ele deveria ser incorporado à banda.
Isso, claro, não aconteceu, mas ele ainda tocou em duas músicas de "Abbey Road" e foi creditado no single "Get Back" - que saiu como "The Beatles with Billy Preston". O tecladista ainda gravou dois discos pela Apple, ambos produzidos por Harrison, e participou de discos solo de todos eles, com exceção de McCartney.
Ele ainda pode ser ouvido em trabalhos de Joe Cocker, Rolling Stones, e chegou duas vezes, por conta própria, no topo da parada americana de singles, com "Will It Go Round In Circles" e "Nothing From Nothing".
Infelizmente, Billy também teve sérios problemas com drogas que atrapalharam não só a sua carreira, como a vida. Uma prisão por tentar abusar sexualmente de um garoto de 16 anos também deixou sua reputação para sempre abalada. Ele morreu em junho de 2006, aos 59 anos.
Mal Evans
Outra figura do círculo dos Beatles com uma morte trágica e precoce, Evans era o "faz-tudo" da banda e os conhecia desde os tempos de Cavern Club, ele foi segurança do clube onde o quarteto começou a despontar para o sucesso. Posteriormente, ele se tornou roadie do grupo e quando eles pararam de fazer shows, seguiu como parte importante da engrenagem da banda, algo facilmente perceptível em "Get Back".
Evans estava sempre a postos para ajudar os Beatles em estúdio - seja tocando "bigorna" em "", "despertador" em A Day In The Life" ou participando do coro em Yellow Submarine". Ele ainda produziu um grande clássico do power-pop, "No Matter What", do Badfinger, banda que ele descobriu e levou para a Apple.
Mal também teve problema com drogas e morreu assassinado em 1976, aos 40 anos, por policiais nova-iorquinos, depois que ele os ameaçou com uma espingarda, que era apenas uma arma de ar comprimido, algo que os oficiais não sabiam. Nenhum ex-Beatle foi à sua cerimônia de cremação, mas Harrison enviou uma quantidade em dinheiro para a família de seu antigo empregado.