O Ano de 1981 foi bastante interessante para a música pop, seja no mundo ou aqui no Brasil. Um período de 12 meses que começou em clima de luto - John Lennon foi assassinado em dezembro de 1980 - mas que também viu nascer uma nova geração de astros, o pop feito com sintetizadores tomando conta das paradas, o surgimento da MTV e ouviu o último hit verdadeiramente grande dos Rolling Stones.
Rita Lee se firmou como a grande rainha do pop radiofônico e a "geração 80" começava a dar os seus primeiros passos, com Lulu Santos e Gang 90, estes com ajuda inestimável de Guilherme Arantes, outra figura chave deste ano, surgindo para o grande público.
A música mais tocada do ano nos EUA e também no Brasil, era uma cover, bem diferente, da original de Jackie DeShannon. O clima country deu lugar a um aranjo sintetizado com timbres que voltaram à moda recentemente em discos de artistas tão diversos, como The Weeknd e a banda indie The War On Drugs.
Outra cover que fez muito mais sucesso que a original. O duo de tecnopop acabou, de maneira totalmente inesperada, nas paradas com essa versão para a canção gravada originalmente por Gloria Jones, em 1965. A popularidade da faixa foi tão surpreendente que Marc Almond e Dave Ball sequer se atentaram para o fato de colocar um música deles no lado B do single.
Nos shows, elas tinham o costume de seguir Tainted Love com uma versão para "Where Did Our Love Go", o hit das Supremes, e decidiram fazer o mesmo no compacto, uma decisão que lhes custou muito. Estima-se que eles deixaram de ganhar mais de um milhão de dólares por causa disso.
Outro hit inesperado e que também tem os sintetizadores em primeiro plano, "Don't You Want Me" era daquelas músicas na qual ninguém apostava muito. Não à toa, ela estava no final do, ainda hoje delicioso, álbum "Dare", e só saiu em single depois de outras três músicas do disco.
O sucesso do disco mesmo foi uma surpresa. Esse foi o primeiro trabalho lançado pela segunda encarnação da banda, com o vocalista Phil Oakey assumindo o comando do grupo. Todo mundo botava mais fé no Heaven 17, que foi formado pelos outros dois ex-integrantes, que em absoluto decepcionou, o álbum "Penthouse and Pavement" é um clássico oitentista.
Mas a League acabou cativando o público com suas melodias fortes e uma sonoridade que era nova, mas inegavelmente pop, fora o charme das cantoras Joanne e Susan. Com uma ajudinha da MTV, o single explodiu também nos EUA e chegou ao topo da Billboard em 1982. Na Inglaterra, ela ficou no "número 1 do natal" e foi o quinto compacto mais vendido de toda a década de 80.
O último sucesso realmente grande dos Rolling Stones, a única música deles lançada depois dos anos 70 que tem lugar cativo em todos os shows, por pouco não aconteceu. A música já vinha sendo trabalhada há um bom tempo. A primeira versão já tinha a levada de rock que a consagrou, mas a banda começou a dar outras abordagens para ela, deixando-a com uma levada mais para reggae. Como não ficaram satisfeitos com o resultado, a música acabou arquivada.
Em 1981, os Stones queriam sair em turnê e ter um novo disco para divulgar. Eles só não tinham músicas para o tal LP e a solução foi vasculhar o baú e ver o que dava para salvar dali. "Start Me Up" foi uma delas e, logo, ficou claro que ela deveria ser um rock. O single saiu e chegou ao top 10 no Reino Unido e no segundo lugar nos EUA, ajudando o álbum "Tattoo You" e a turnê por estádios serem grandes sucessos.
A Gang 90 foi a primeira banda new wave surgida no Brasil. Cria de Júlio Barroso, que morreu precocemente em 1985. O grupo foi apresentado ao Brasil com essa música, que teve Guilherme Arantes como um de seus autores e também o grande responsável por lhe dar uma forma mais "apresentável".
Mas por que não vemos o nome dele creditado na música? Simples, a banda decidiu inscrever a música no festival MPB Shell, e Guilherme já tinha decidido que iria concorrer com "Planeta Água". Pela regra, cada compositor só podia ter uma música inscrita. No final, o negócio foi bom para todos, com as duas canções classificadas.
A Gang, com sua performance extrovertida e fora do padrão, cativou o público e mostrou que havia espaço para o surgimento de um novo rock brasileiro. Arantes terminou com um de seus maiores hits e ficou em segundo lugar, para bronca da plateia que queria ver ele, e não Lucinha Lins com "Purpurina", no primeiro lugar.
Existem duas versões da música: a que saiu em compacto e no disco do festival é mais roqueira. A presente no disco da Gang de 1983, o único da banda com a presença de Barroso, foi gravada como um reggae.
Menos conhecida que todas as outras músicas aqui selecionadas, ao menos no Brasil, esse foi o single eleito o melhor do ano de 1981 pelos dois principais semanários britânicos da época, a Melody Maker e o NME. A música foi a trilha sonora de uma época bastante sombria no Reino Unido, com seu clima claustrofóbico, que foi bastante copiado nos anos seguintes e mostrou que o grupo não fazia apenas ótimas canções dançantes em ritmo de ska. Desnecessário dizer que a canção, que se chama "Cidade Fantasma", ganhou todo um novo sentido em um mundo tomado pela Covid-19, com as ruas esvaziadas e um clima de medo generalizado.
Roberto já era rei há tempos, mas com seu disco de 1981, ele se tornou também uma megaestrela pop. O fato é que ele teve outros discos de sucesso nas décadas seguintes, mas nenhum com a mesma quantidade de canções fortes como esse de 1981, com "Tudo Para", "As Baleias", "Ele Está Pra Chegar" e dois de seus maiores hits: "Cama E Mesa" e "Emoções", que desde então passou a abrir os seus shows (ainda que, curiosamente, ela não fosse a primeira música do LP).
O álbum também rendeu a turnê mais memorável de sua carreira. O "Projeto Emoções" buscou levar para todos os cantos do país o mesmo show superproduzido do cantor que, até então, apenas as grandes capitais tinham tido a oportunidade de ver em toda sua grandiosidade.
Não foi só Roberto que entrou em 1982 no auge. O "seu amigo" Erasmo também viveu um período de bonança e também teve seus dias de astro pop. O álbum "Mulher" se tornou o mais bem sucedido da carreira dele e veio com uma quantidade de hits que, desde a Jovem-Guarda, o Tremendão não via: "Mulher (Sexo Frágil)", "Minha Superstar" e, o maior deles, a divertida "Pega Na Mentira", uma das mais tocadas nas rádios naquele ano.
Outro caso de sucesso inesperado, já que ninguém esperava que o vocalista e baterista do Genesis pudesse fazer tanto sucesso assim, incluindo o próprio músico e seus colegas de banda. Menos ainda que ele, com o produtor Hugh Padgham, também por acidente, fosse criar O som de bateria dos anos 80. Mas o pop tem os seus mistérios e aqui isso pôde ser comprovado. O single abriu caminho tanto para o Genesis, que atingiria picos de popularidade cada vez maiores em seus discos, quanto para Collins, que se tornaria quase que um sinônimo da música popular da década de 80.
o single de estreia do quinteto e também a faixa escolhida para abrir o primeiro álbum deles, "Planet Earth", com sua mistura de Chic e Roxy Music, fez história, graças também ao seu memorável clipe. A banda foi pioneira em perceber que os clipes iriam ser peça fundamental em qualquer carreira musical e tratou de caprichar nos seus - incluindo uma versão "soft-porn" para o de "Girls On Film", feito para ser exibido em clubes noturnos.
No ano seguinte, eles foram ainda além ao gravarem clipes sofisticados feitos em locações "exóticas", como o Sri Lanka. Mas essa história, que ainda está em andamento, começou aqui.
Com uma das linhas de baixo mais irresistíveis já criadas, Rick James conquistou fãs de pop, rock e black music de maneira indistinta e se tornou, ao menos por algum tempo, o grande rei do funk, com alto teor de sensualidade. O seu reinado foi breve, já que Prince, que em 1981 lançou o álbum "Controversy", em breve iria ocupar esse posto (e muitos outros), mas este single, e o álbum "Street Songs" que ele ancorou, marcaram época e ainda impressionam 40 anos depois.
Gil chegou ao mainstream com "Realce" (1979), seu disco anterior, gravado em Los Angeles, com a presença de músicos americanos e uma qualidade sonora raramente vista por aqui. "Luar" foi gravado no Brasil, mas manteve a sonoridade de seu antecessor e trouxe uma faixa que acabou dialogando diretamente com "Emoções", de Roberto Carlos. "Palco" também versava sobre o prazer que se sente ao encarar uma plateia e se tornou igualmente um standard tanto de Gil, que sempre a toca em seus espetáculos, como da música brasileira.