Neste 20 de setembro, quando celebramos o "Dia do Baterista" selecionamos alguns dos mais importantes do mundo e contamos um pouco de suas trajetórias, sempre com vídeos que comprovam a excelência de todos eles.

Gene Krupa e Buddy Rich

Krupa (1909-1973) e Rich (1917-1987) começaram a tocar bem antes do surgimento do rock and roll, mas criaram alguns alicerces que muitos bateristas fariam uso nas décadas seguintes, ao mostrarem que o instrumento não precisava necessariamente limitar-se a ficar marcando discretamente o tempo de uma canção. Os dois foram pioneiros da figura do "baterista showman", que impressiona o público com sua destreza com as baquetas. Esse vídeo, hoje um clássico, mostra a dupla se divertindo em um duelo feito para o programa que Sammy Davis Jr. tinha na televisão dos EUA.



Ginger Baker

De formação jazzística, Baker foi criando seu espaço nos anos 60 tocando com algumas das melhores bandas do blues britânico antes de explodir para o mundo no Cream, que tinha ainda Eric Clapton e Jack Bruce em sua formação. O trio durou pouco, entre 1966 e 1968, mas fez história abrindo caminho para inúmeras bandas de rock mais pesado nos anos seguintes. Com três músicos excepcionais, era comum que os shows também dessem espaço para longas passagens instrumentais e solos. Baker tinha sua chance em "Toad" que, ao vivo, podia passar facilmente dos 15 minutos de duração.

Com o fim do Cream, Baker, dono de um temperamento complicado, para se dizer o mínimo, montou outras bandas, gravou solo e também fez história ao se juntar ao mestre da música africana: o nigeriano Fela Kuti. O inglês morreu em 2019, aos 80 anos.




Tony Allen

Já que falamos de Kuti, não podemos nos esquecer do baterista que se tornou sinônimo de afrobeat: o inigualável Tony Allen, que ajudou a apresentar os ritmos africanos para o mundo. Chamado de "máquina polirritmica", Allen deixou sua marca nas dezenas e dezenas de álbuns gravados por Kuti, mas também lançou discos - e fez shows - como solista, e acompanhou artistas das mais diversas tendências em uma carreira longa e vitoriosa que chegou ao fim no ano passado, quando ele completou 79 anos.



Keith Moon

Maior exemplo do "baterista tresloucado", Moon tinha um estilo único e praticamente inimitável, especialmente nos anos 60/início dos 70 quando se tornava quase que um coautor das músicas do The Who ao pontuar as criações de Pete Towshend de maneira incisiva e original - durante os primeiros anos da banda ele sequer usava um chimbal, preferindo usar os pratos de ataque para fazer a condução das músicas.

O estilo amalucado dele tocar era um reflexo de sua personalidade, igualmente explosiva e brincalhona. Sua morte, em 1978 com apenas 32 anos, deixou um grande vazio no mundo do rock que nunca foi totalmente preenchido.



John Bonham

Outro monstro que partiu muito antes da hora, em 1980, com os mesmos 32 anos de Keith Moon, Bonham segue como o exemplo de baterista a ser admirado. Seu estilo era, na falta de melhor palavra, brutal, mas incrivelmente técnico. Ele encontrou no Led Zeppelin o melhor veículo para mostrar sua arte para o mundo, não apenas criando linhas incríveis ou com amplo espaço para solar, mas também por ter no guitarrista Jimmy Page um produtor igualmente talentoso que soube captá-lo de maneira originalíssima.

Nos shows, Bonham tinha o seu momento em "Moby Dick" que podia, dependendo do estado de espírito do músico, durar mais de 30 minutos, com direito a um solo sem baquetas. Bonham era tão fundamental, e único, na sonoridade do Zeppellin que a banda sentiu que não teria como continuar sem ele. Pouco depois de sua morte o grupo anunciou o seu fim.




Neil Peart

Peart deixou as já intricadas canções do Rush ainda mais complexas. Dono de uma técnica sem limites, o músico, que morreu no ano passado, com 67 anos, era também humilde o bastante para nunca se deitar sobre os seus louros - existe algum outro músico que já consagrado como um dos melhores, se não o melhor, do planeta voltou a ter aulas buscando aprimorar ainda mais o seu estilo? O vídeo abaixo traz a banda tocando "Red Barchetta" em um show, com a câmera focada somente nele. Vejam e digam se não é de impressionar:



Stewart Copeland

O baterista que fez história no The Police é o único músico ainda vivo entre os dez primeiros presentes na lista dos maiores bateristas de todos os tempos feito há alguns anos pela Rolling Stone. Copeland mostrou que havia espaço para a técnica apurada no rock de pegada mais simples e direta do fim dos anos 70, dando um colorido único para as músicas do trio que fez escola, como já veremos.



João Brone

O maior baterista do rock nacional - alguém tem dúvidas? - baseou seu estilo, especialmente nos primórdios dos Paralamas do Sucesso, no de Copeland. A ponto de até os kits de bateria de ambos serem bem semelhantes. Com o tempo, Barone foi incorporando outras influências em seu estilo, do reggae aos ritmos tradicionais do Brasil, sem nunca perder a pegada rock and roll.

Nesse vídeo podemos ver, em detalhes, a sua técnica:



Iggor Cavalera e Eloy Casagrande

Nos primeiros anos do Sepultura, Igor (o "segundo G" só foi incorporado mais tarde) surpreendia por sua velocidade e destreza. A novidade era ver um brasileiro tocando na mesma pegada que os monstros da nova cena do metal mundial. Ele ajudou a elevar o gênero para outro patamar quando adicionou novas sonoridades ao seu repertório, incluindo os ritmos do Brasil, ganhando merecido respeito global pelas inovações.

Cavalera hoje não está mais na banda, mas seu atual substituto, Eloy Casagrande, é forte concorrente a melhor baterista de heavy-metal em atividade nesta segunda década do século 21, algo que seu trabalho no elogiado "Quadra", o mais recente álbum da banda, comprova.





Hal Blaine e os bateristas acompanhantes

Terminamos essa lista lembrando de grandes músicos que não se tornaram superestrelas, mas que abrilhantaram centenas e centenas de shows e gravações. Hal Blaine (1929-2019) é um caso a parte. Em uma carreira brilhante como músico de estúdio, ele tocou em 150 músicas que chegaram no top 10 e 40 singles que encabeçaram o Hot 100 da Billboard. Quando você escuta "Be My Baby" (Ronettes), "California Dreaming" e "Monday, Monday" (Mamas and Papas) e em várias canções dos Beach Boys, Simon and Garfunkel, The Carpenters e até o tema do seriado Batman, é Blaine quem se ouve na bateria.



Benny Benjamin morreu precocemente, em 1969, mas entrou para a história como o baterista que tocou em vários dos maiores hits da Motown, entre eles "My Girl", dos Temptations. Al Jackson fez algo semelhante na outra grande gravadora de música negra dos EUA: a Stax. Conhecido como "O metrônomo humano", ele gravou com Otis Redding, Booker T And The Mg's e, logo, passou a ser procurado por outros astros da música negra e também do rock. Morto em 1975, aos 40 anos, suas batidas certamente ajudaram a criar as fundações do hip-hop.





Por falar em hip-hop não se pode esquecer a dupla Clyde Stubblefield (1943 - 2017) e John "Jabo" Starks (1938 - 2018) que acompanhou James Brown em sua fase mais inovadora e funky. Quando se diz que Brown é um dos artistas mais sampleado do planeta é preciso lembrar que quem tocou aquelas viradas inesquecíveis de bateria foram esses dois nomes.



Dentro do pop/rock também precisam ser lembrados os nomes de Jeff Porcaro, morto em 1992, que tocou no Toto e em diversas sessões, incluindo quatro músicas de "Thriller" de Michael Jackson, e Jim Keltner, que tem uma longa lista de sessões creditadas, incluindo várias com George Harrison e John Lennon.





Nandi Bushell

Chegamos ao fim notando que essa lista é toda composta por homens, a maioria já mortos. Mas não queremos dar a impressão de que a bateia é um instrumento em extinção e masculino. Karen Carpenter e Sheila E (que tocava com Prince) são dois exemplos óbvios, mas encerramos também acenando para o futuro com a muito jovem Nandi Bushell. Com apenas 11 anos, ela é dona de uma técnica e alegria de tocar que dá gosto de ver.

Ela se tornou conhecida com seus vídeos no YouTube que foram ganhando público e chamando a atenção de vários pesos pesados da música. Há algumas semanas, ela teve a chance de subir ao palco com os Foo Fighters e não se intimidou nem com a banda ou com a multidão que a assistia. Antes, ela já havia sido convidada a participar de um tributo a David Bowie com uma série de músicos do primeiro escalão. Enquanto pessoas como ela continuarem a surgir podemos dizer que o futuro da bateria está mais do que garantido.