Ser fã de rock de pegada mais pesada em 1991 era um ótimo passatempo, ainda que não muito barato em uma época em que se precisava comprar os discos para escutar as suas bandas favoritas.

É incrível a quantidade de grandes lançamentos que se atropelavam nas lojas durante aquele ano e hoje relembramos aqui dois, ou melhor dizendo, três que chegaram juntos nos EUA, em 17 de setembro, e que se tornaram clássicos do hard rock: os dois volumes de "Use Your Illusion", do Guns N' Roses, e "No More Tears", do já veterano Ozzy Osbourne.

Começando com Ozzy, "No More Tears" é visto, ainda hoje, como seu melhor trabalho solo depois dos seus dois emblemáticos primeiros álbuns. Assim como "Blizzard Of Ozz" e "Diary of A Madman", de 1980 e 1981, se beneficiaram do excelente trabalho de guitarra de Randy Rhoads (1956 - 1982), "... Tears" foi marcado por Zakk Wylde. O músico havia estreado na banda de Ozzy no trabalho anterior, "No Rest For The Wicked" (1989), mas foi aqui que ele realmente brilhou já que o material era obviamente muito mais forte do que o do disco anterior.




O álbum trouxe um novo público para o cantor, estamos aqui ainda há mais de uma década antes da série "The Osbournes", e também reanimou os antigos admiradores, que possam ter se decepcionado com a sonoridade claramente mais comercial de seus últimos discos. Não que "No More Tears" fosse avesso ao pop. Longe disso, mas tudo aqui soava com mais força e com o cantor claramente mais motivado.

Simultaneamente, Ozzy também se beneficiou de uma nova cena que, em breve, explodiria: a do grunge de Seattle. "Nevermind", do Nirvana, e "Badmotorfinger", do Soundgarden, foram lançados poucos dias depois e logo causariam uma revolução única no rock.

Essas bandas podiam ter um som distinto, mas tinham em comum uma verdadeira adoração pelo som do Black Sabbath, que teve Ozzy como vocalista até 1978. A banda nunca foi vista com muita simpatia por críticos e fãs de "rock cool", mas isso logo mudaria. Se hoje em dia não se discute mais a influência e poder dos melhores discos do Sabbath, o grunge teve muito a ver com isso.




Em resumo: Ozzy tinha um bom disco na mão e ainda ganhava prestígio, a tal tempestade perfeita. "No More Tears" entrou no top 20 norte-americano - naquela época para se chegar ao topo precisava-se vender muitas cópias, e colocou seus singles em alta rotação na MTV e nas rádios rock. Ele atingiria a marca de platina quádrupla e várias de suas músicas se tornaram obrigatórias em todos os concertos que ele fez desde então.

Na última vez em que subiu ao palco, ele cantou quatro de suas canções, o mesmo número que as de "Blizzard Of Ozz": "No More Tears", "I Don't Want To Change The World", a balada "Mama, I'm Coming Home" e "Road To Nowhere".

Ouça o álbum que acaba de ganhar uma edição de 30 anos, com demos e versões ao vivo de bônus:



"Use Your Illusion"

Guns N' Roses


A situação do Guns N' Roses era bem distinta. Naquele momento eles eram muito, provavelmente, a banda mais quente da América depois que "Appetite For Destruction" vendeu milhões e milhões de cópias. A expectativa por um novo trabalho era enorme, ainda mais porque não era comum que artistas em ascensão demorassem tanto tempo entre os discos de estúdio. O fato do paliativo "GNR Lies", que juntava o primeiro EP deles com quatro canções acústicas, também tenha se tornado um sucesso de vendas, só fez aumentar a ansiedade.

Nesse tempo outra coisa importante aconteceu: os CDs se tornaram onipresentes causando uma onda de discos longos no mercado. Afinal não havia mais a necessidade de se limitar aos 45 minutos do vinil. O Guns decidiu ir além e lançar não um CD duplo, mas dois discos separados, ambos com duração batendo no limite técnico permitido, ou seja, 75 minutos.

A expectativa aumentou com a chegada do single "You Could Be Mine", espertamente usada na trilha sonora de "O Exterminador do Futuro 2", o maior blockbuster daquela temporada. Curiosamente uma música que nós já conhecíamos bem, por ter sido tocada, com outras cinco novidades, nos dois shows que eles fizeram no Rock in Rio e que foram televisionados - algo totalmente impensável hoje em dia com o mundo totalmente online. Esses concertos também marcaram a estreia do baterista Matt Sorum e do tecladista Dizzy Reed na banda.



Por aqui, os CDs já estavam em alta, mas o vinil ainda era o formato mais popular - e usado "como medida". Assim, para os brasileiros, quando os dois volumes de "Use Your Illusion" chegaram às lojas, a notícia foi a de que o Guns havia lançado dois álbuns duplos simultâneos (lembra quando dissemos que ser fã de rock nessa época não era um passatempo muito barato?).




Apesar da estratégia arriscada, o projeto se mostrou mais do que bem sucedido. A crítica, obviamente achou que seria mais do que possível editar essas 30 faixas, para um número mais dentro do padrão - ainda que nunca se chegue a um consenso sobre quais deveriam ser arquivadas.

O fato é que, tão logo saíram, os dois discos foram parar nos dois primeiros lugares da parada da Billboard (o volume 2 encabeçou o ranking) e o Guns embarcou em uma das maiores turnês já vistas.

O sucesso foi grande, os clipes de "Don't Cry" e da épica "November Rain", eram vistos constantemente na televisão, nesses casos não só na MTV, e ampliaram ainda mais o alcance do grupo, e Axl Rose se tornou um dos maiores alvos dos paparazzi.




O preço cobrado acabou sendo alto. Pouco a pouco a banda foi se esfacelando e, depois de um disco de covers, foi preciso esperar 17 anos por um novo disco. Quando "Chinese Democracy" saiu, em novembro de 2008, o Guns N' Roses era uma banda bem diferente que tinha apenas Axl Rose, e o fiel escudeiro Dizzy Reed, daquela formação que causou um tremendo estrago nos anos 90.

Depois de muito bate boca, o cantor se reconciliou com o guitarrista Slash e o baixista Duff McKagan também retornou. O Guns N' Roses segue fazendo shows em estádios, arenas e grandes festivais, mas a espera por um álbum novo já dura 13 anos.

Ouça: