O brasileiro Ítalo Ferreira acabou de fazer história nas Olimpíadas. O potiguar se tornou o primeiro ganhador de uma medalha de ouro no surf - esta é a primeira vez que o esporte participa dos jogos. Até o momento, esta também é a nossa única medalha dourada.

Para marcar esse dia histórico, trazemos aqui alguns momentos em que o surf se encontrou com a música, seja de forma direta, no caso dos artistas de surf music, ou indireta, com faixas que já foram, e ainda são, muito curtidas pelos praticantes do esporte.

"Surfin' USA"

Antes de alçarem voos maiores, com alguns dos discos mais sofisticados dos anos 60, os Beach Boys levaram o estilo de vida californiano para todos os EUA, e o resto do mundo, com suas canções sobre caros, garotas e surf.

"Surfin' USA", saiu em 1963 e se tornou o primeiro grande sucesso deles, chegando ao terceiro lugar da parada e se tornando um verdadeiro standard do rock'n'roll. Como o líder Brian Wilson usou a melodia de outro clássico do rock, "Sweet Little Sixteen", ele acabou obrigado a creditar Chuck Berry como coautor da faixa.

No Brasil, ela também fez sucesso, na forma da versão "Surf É O Que Eu Sei", na voz dos atores Kadu Moliterno e André de Biasi, ou Juba e Lula. A dupla surgiu na série "Armação Ilimitada" (1984), e anos depois ganhou outro programa, agora com o nome dos personagens.



"Wipe Out" - The Surfaris e "Misirlou" - Dick Dale

A surf music foi um dos vários subgêneros da música jovem, surgidos entre o final da primeira onda do rock and roll, por volta de 1958, e o surgimento dos Beatles, em 1963. Enquanto os Beach Boys cantavam o esporte, outros grupos e músicos se dedicavam a criar faixas instrumentais que tentavam transformar em som o que os surfistas faziam em cima de suas pranchas.

"Wipe Out", lançada pelos Surfaris em janeiro de 1963, está entre as mais conhecidas delas. Mas se teve um artista que personificou a "guitarra surf", este foi Dick Dale, não à toa batizado como "The King Of Surf Guitar". Mesmo sem ter explodido comercialmente, ele se mostrou um nome muito influente e querido.

Sua música, e seu timbre único, atingiu uma nova audiência nos anos 90, depois que Quentin Tarantino usou "Misirlou" durante os créditos de abertura de "Pulp Fiction" (1994)





"Rockaway Beach" - Ramones e "Misirlou" - Agent Orange

Apesar de ser um estilo marcadamente urbano e "cinza", o punk rock também teve uma faceta mais, digamos, ensolarada. Os Ramones, vindos do nada praieiro Queens nova-iorquino, amavam o rock mais simples, tido quase como descartável, da década de 60, e fizeram músicas inspiradas naquela sonoridade, bem como covers de canções da época. Nesse sentido, o terceiro disco deles, "Rocket To Russia", é onde essa dívida está mais clara, seja coma cover de "Surfin' Bird", dos Trashmen, ou na imortal "Rockaway Beach".

Como era de se esperar, o punk e o surf se encontrariam com mais força na Califórnia, especialmente no som do Agent Orange, também muito querido entre os skatistas. Essa ponte ficou clara quando, em seu disco de estreia, eles regravaram "Miserlou" - enquanto outros clássicos do gênero também passaram pelo repertório deles.






"Satisfy My Soul" - Bob Marley

A partir dos anos 70, a cultura do surf passa também a simbolizar um estilo de vida baseado em uma vida mais saudável e o contato maior com a natureza, e a sua preservação. O reggae jamaicano acaba por entrar na "dieta musical" dos praticantes e a música jamaicana, a de Bob Marley em particular, acaba criando um vínculo inquebrável com o esporte, mesmo que nenhum astro do reggae tenha entrado para a história como um grande "pegador de onda".

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Para quem quiser se aprofundar mais na conexão Marley-Surf (e skate), esse documentário, produzido pelos detentores de seu legado, mostra mais dessa história:



Rock Australiano

Com praias excelentes para a prática do surf, não é de se estranhar que a Austrália tenha gerado muitas das bandas favoritas dos fãs e praticantes do esporte, mesmo que elas fossem bem diferentes entre si e não cantassem sobre esse mundo em suas letras. Abaixo algumas das que fizeram a cabeça de muitos surfistas nos anos 80 e 90.

"Down Under" - Men At Work



"Don't Change" - INXS



"Out That Door" - Hoodoo Gurus



"Clarity Of Mind" - V Spy V Spy



"The Dead Heart" - Midnight Oil



"You And Your Heart" - Jack Johnson

No século 21, se tivemos um artista que uniu o mundo do surf com o da música, ele se chama Jack Jonson. Nascido e criado no Havaí, e filho do surfista Jeffery Johnson, Jack é não só um músico de muito sucesso, como também um surfista de alto nível. Ele abandonou o esporte em nível profissional depois de ter sofrido um acidente que lhe rendeu mais de 150 pontos na cabeça e alguns dentes quebrados.

Se o mundo perdeu um esportista, em troca, ganhou um músico muito querido, que cativou milhões de pessoas com o seu soft rock de levada acústica e sua inegável simpatia.



No Brasil

O surf e o rock barsileiro se encontraram algumas vezes. Nos anos 60, Wanderlea gravou a divertida "Exército do Surf". Nos anos 80, a surf music se mostrou uma das maiores influências na música do Ultraje a Rigor e também foi o tema central da divertidíssima "Surfista Calhorda", dos gaúchos dos Replicantes, onde eles "homenageavam" um tipo bem comum: o rapaz riquinho, "com rosto de Baby Johnson" e a melhor prancha do pedaço, que "não surfa nada".

Nos anos 90, a estética foi revivida de forma incisiva pelos Ostras e também pelos Autoramas, que tem a surf music como uma de suas maiores influências.