Em um passado mais ou menos distante, o fã brasileiro de música pop internacional não tinha, nem de longe, as facilidades do mundo atual. Lançamentos simultâneos? Músicas de ontem e hoje ao alcance dos dedos? Sites e mais sites distribuindo informação? Nada disso.

Nesse cenário, podia se contar com algumas revistas e a parte cultural dos jornais, as rádios e também a televisão. A chegada da MTV nos EUA, em 1981, sim, há 40 anos, forçou a profissionalização dos clipes. Os "promos", como eram conhecidos anteriormente, eram feitos, mas sem maiores preocupações, ainda que Queen e ABBA tenham percebido que aquela era uma excelente ferramenta para alavancar as suas carreiras, já que levava a música deles para qualquer canto do planeta.

A emissora a cabo dos EUA forçou uma mudança de mentalidade. Logo ficou claro que um clipe na MTV podia mudar toda a trajetória de uma carreira - Duran Duran, Madonna e Michael Jackson que o digam. Como resultado, os clipes passaram a ser feitos em escala industrial e com qualidade cada vez maior.
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No Brasil dos anos 80 não se podia nem sonhar com uma emissora que passasse clipes 24 horas, mas, ao menos, as redes televisivas abriam espaço nas suas programações para exibir um pouco dessa produção.

Com exceção do SBT, todas as tevês tiveram os seus programas, algumas os mantiveram no ar por bastante tempo. O auge se deu por volta de 1984 e 1989. Com o tempo, o interesse do público geral foi diminuindo e, aí sim, a chegada da MTV Brasil, em 1990, acabou suprindo toda a necessidade que se tinha de música na televisão.

Nesse #TBT recordamos alguns dos programas que fizeram história e deixam saudades. É uma pena que o YouTube não tenha a íntegra de nenhum, e mesmo trechos mais expressivos de vários casos, mas juntamos algumas amostras para que os mais novos conheçam um pouco dessa história e os mais velhos matem as saudades.

Rede Globo: "Clip Clip"

O "Clip Clip" estreou em 1984 e durou até 1987. A aposta da Globo para faturar em cima do filão de clipes musicais na década de 80 marcou a estreia na direção do hoje todo-poderoso Boninho. O programa tinha uma produção mais caprichada que a da concorrência, conseguia mostrar vídeos em primeira mão e tinha nos bonecos do grupo Cem Modos, de Porto Alegre, os "VJs" mais inusitados que já se viu.

Ainda assim, mais do que os clipes internacionais, talvez a melhor coisa que o programa trouxe foram os vídeos exclusivos gravados pelos maiores nomes do rock nacional - então passando pelo seu auge artístico e comercial - em sessões exclusivas de estúdio.







Rede Manchete: "FM TV", "Clip Show" e "Shock"

A saudosa emissora carioca, inaugurada em 1983, sempre abriu espaço para a música em sua programação. O "FM TV" mostrava as novidades do momento - Van Halen, Kiss e Madonna eram exibidos com frequência - e teve entre os seus apresentadores gente como João Kleber e Patrícia Pillar.

O "Shock", que entrou no ar no final dos anos 80, não passava somente clipes, mas também exibia trechos de shows, reportagens sobre as estreias do cinema e mostrava resenhas de discos. A atriz Carolina Ferraz também teve seus "dias de VJ" por lá.

A Manchete também mostrava shows e especiais e criou programas de curta duração como o "Clip Show".









Band - "Super Special"

O "Super Special" começou ainda na primeira metade dos anos 80 como um programa semanal que apenas exibia vídeos musicais. O programa foi reconfigurado a partir de 1986, quando passou a ser apresentado diariamente, um pouco depois da hora do almoço, por Serginho Caffé, e passou a trazer também algumas entrevistas, apresentações ao vivo, sorteios e até momentos de humor.







Record: Vídeo Clipe, BB Video e Kliptonita

Nos anos 80, a Record não tinha uma grade nacional, de forma que as programações variavam em cada praça. Os cariocas assistiam o divertido "BB Video Clip" produzido por Billy Bond, a lenda do rock argentino que se exilou por aqui ainda na década de 70. O programa teve entre seus apresentadores Mylena Ciribelli e, acreditem, Paulo "íííçaaaa" Cintura.

Em São Paulo havia o "Video Clip", de curta duração e apresentado, de maneira bem desajeitada como se vê no vídeo abaixo, pelo saudoso humorista Serginho Leite.

Já adentrando os anos 90, a emissora voltou a apostar no filão com o Kliptonita, que era apresentado por Serginho Caffé, o mesmo que anos antes estava na Band.







TV Gazeta (SP): Realce Baby e Clip Trip

Nos anos 80 e início dos 90, a emissora paulistana descobriu na música, e programas jovens, um grande filão - Fausto Silva, Serginho Groissman, Marcelo Tas e Astrid Fontenelle são alguns dos nomes que foram vistos pela primeira vez na telinha na Gazeta.

Não à toa, por muito pouco ela não cedeu o seu sinal para a MTV, quando ela chegou ao país em 1990. A tevê também legou dois programas que quem viveu nos anos 80 e 90 não se esquecem: o Realce Baby, apresentado pelo impagável Mister Sam, era ótimo para quem curtia heavy-metal, mas não só, e também tinha algumas bandas fazendo playback. O programa depois seria assumido por Beto River e o boneco Capivara.

Também na emissora, Rivera, que hoje é diretor superintendente da Gazeta FM, comandou o Clip Trip, de pegada mais pop e que teve vida longa.







TV Cultura: Som Pop

Talvez o maior clássico entre os programas de clipes, o Som Pop começou a ser exibido pela emissora paulistana ainda nos anos 70 e só foi extinto quando a MTV ganhou terreno e tornou-o desnecessário.

Nessas décadas ele teve diversos formatos e apresentadores, KId Vinil foi o último deles, mas uma coisa era certa: O Som Pop era o único a exibir não só as novidades, mas também vídeos raros. Se hoje é possível achar qualquer clipe ou promo da história do rock, e coisas que nem em sonho se imaginava existir, naquela época não era fácil ter acesso nem mesmo a algo simples, como o vídeo de "Bohemian Rhapsody", do Queen.

O programa era o favorito dos roqueiros, e quem tinha um videocassete em casa já sabia que era bom sempre estar com uma fita engatilhada para gravar aquele clipe que, sabe-se lá quando, seria mostrado novamente.

Saber de quem seria o "especial do Som Pop" - a banda ou artista de quem seriam mostrados uma sequência de quatro ou cinco clipes no final - também era um passatempo da época.