Há exatos 30 anos, já na madrugada do dia 28, George Michael encerrava a segunda edição do Rock In Rio. O festival trouxe muitos astros pela primeira, e em alguns casos, infelizmente, única vez ao país. Dos seis headliners, três deles tocaram em duas noites, e nada menos que três deles não estão mais entre nós: O já citado George Michael (morto no natal de 2016), Prince (em abril do mesmo ano) e Michael Hutchence, o vocalista do INXS, que se foi em 1997.

A escalação teve ainda os Guns N' Roses (a atração mais aguardada), New Kids On The Block (já preparando o terreno para as atrações mais pop que veríamos no futuro) e o A-Ha que arrastou uma multidão para o Maracanã no sábado (26).
Guns N' Roses
Guns N' Roses Guns N' Roses. Show marcante no segundo Rock in Rio

Maracanã? Sim, ao contrário de todas as outras edições, essa aconteceu no maior estádio do planeta, e não na Cidade do Rock, que foi demolida logo depois do término do Rock in Rio de 1985 - ela seria reconstruída em 2001 quando, finalmente, o festival aconteceu pela terceira vez.

Além dos headliners, o RiR de 91 ainda consagrou o Faith No More, deu aos fãs de metal a chance de finalmente verem o Judas Priest (e também de ver uma das bandas do chamado "Big 4" do thrash metal: o Megadeth) e também captou o Sepultura em um momento crucial de sua carreira: quando eles se preparavam para entrar de vez na elite do som pesado.

Relembre abaixo um pouco do que rolou naqueles nove dias:

Prince - dias 18 e 24 de janeiro

Com George Michael e Axl Rose, Prince formou o trio de "superestrelas inatingíveis" daquele festival. Seu primeiro show, na abertura do evento, em 18 de janeiro, atrasou mais de duas horas e, verdade seja dita, os shows foram bons, mas um pouco abaixo do que ele realmente poderia entregar (basta comparar esse concerto com outros vários dele que estão disponíveis no YouTube).

Ainda assim, não se pode nunca reclamar de um concerto que tem "Let's Go Crazy", "Kiss", "Purple Rain" ou "Take Me With You". Todas, incrivelmente, tocadas na primeira metade da apresentação - a segunda parte praticamente não teve grandes hits.



INXS - 19 de janeiro

Os australianos, que eram bastante populares nas FMs e programas de clipes da época, nunca gozaram de muito prestígio com os críticos, mas tinham, inegavelmente, um punhado de boas canções e um vocalista de enorme carisma na figura de Michael Hutchence. O show deles pode não ter entrado para a história do festival, do mesmo modo que o do Queen (1985) ou R.E.M. (2001), mas foi bom o bastante para deixar o público mais do que satisfeito ao final da performance.



Faith No More - 20 de janeiro

Em uma note de Maracanã abarrotado, a ponto de gente com ingresso ter sido proibida de entrar por ordem do corpo de bombeiros, o FNM se consagrou definitivamente no país, com um show poderosíssimo e de grande impacto, mais ainda se pensarmos que eles eram praticamente desconhecidos por aqui. A reação do público quando eles começam a tocar "Epic" (para muitos ali a única música autoral da banda que eles conheciam) ainda hoje arrepia.



Guns 'N Roses - 20 de janeiro

O quinteto ainda não tinha lançado seu segundo álbum quando veio ao país, mas o impacto de "Appetite For Destruction" (1987) havia sido tão grande que quatro anos depois a banda ainda colhia os frutos de seu enorme sucesso - nesse meio tempo o álbum "G N' R Lies" serviu de paliativo ao juntar as faixas do primeiro EP deles no lado A, e músicas de pegada acústica, incluindo o megassucesso "Patience", no B.

Os shows no Rio serviriam então para eles mostrarem pela primeira vez algumas das músicas que estariam nos dois volumes de "Use Your Illusion", que só sairiam em setembro, de forma que quem estava no Maracanã teve a chance de ouvir em primeira mão músicas como "You Could Be Mine" e "Estranged". Os shows também foram os primeiros com o tecladista Dizzy Reed (que, ao lado de Axl, foi a única presença constante na banda nas décadas que seguiram) e do baterista Matt Sorum.



Sepultura - 23 de janeiro

A banda mineira entrou na escalação em cima da hora, e teve a, nunca muito boa, missão de ser a primeira atração da "noite do metal". Pelo vídeo abaixo, nota-se que o som estava longe do ideal, mas o quarteto compensou com entrega e energia (e um público disposto a aplaudi-los).

O grupo estava prestes a lançar o aclamado "Arise" - que chegou a ser lançado em vinil no Brasil em uma pré-mixagem para aproveitar a exposição no festival (um item aliás bastante raro hoje em dia) e partiria dali para grandes voos. Esta também foi a única vez em que eles estiveram no RiR com a sua formação clássica, com Max Cavalera à frente.



Judas Priest - 23 de janeiro

Se em 1985 tivemos Iron Maiden e Ozzy, desta vez o festival trouxe outra lenda do metal britânico pela primeira vez ao Brasil. Rob Halford e cia. estavam em um excelente momento, o álbum "Painkiller" estava sendo saudado como um grande retorno à velha forma e eles não decepcionaram, em um show com hits, novidades, faixas mais obscuras e uma presença de palco digna de uma banda acostumada a tocar em estádios e arenas.




George Michael - 25 de janeiro e 27 de janeiro

O inglês fez algo totalmente inesperado no Maracanã. Apesar de ter acabado de lançar um ótimo álbum ("Listen Without Prejudice Vol. 1" não tinha nem cinco meses no mercado), ele fez dois concertos praticamente só de covers (todas muito bem escolhidas, diga-se). Das 16 músicas mostradas, 11 eram de outros autores - de Elton John aos Temptations, passando por Chaka Khan e Aretha Franklin.

Das cinco restantes, três eram da época do Wham (ainda que "Careless Whisper" tenha saído como single solo) e apenas duas de seus álbuns lançados depois do fim da dupla: "Father Figure", de "Faith" (1987) e "Freedom '90", de "Listen...". Uma curiosidade: Andrew Ridgeley, seu antigo parceiro no Wham, fez uma participação especial no show de domingo.



"Faixas Bônus"

Happy Mondays - Dia 26 de Janeiro
A banda inglesa era provavelmente a mais cool do planeta naquele momento. Seu disco mais recente "Pills And Thrills And Bellyaches" tinha dominado as listas de melhores do ano das revistas britânicas e a fusão proposta por eles de rock com a música das raves era moderna e arrojada. Em cima da hora, a organização do festival foi esperta o bastante para inclui-los na grade do evento.

Os Mondays também eram famosos usuários de drogas e donos de um senso de humor único, que culminou com eles prometendo em entrevista à Folha de S. Paulo trazer centenas de comprimidos de ecstasy para o Brasil (isso quando a droga sequer circulava por aqui).

Em resumo, eles tinham tudo para ser, ao lado do Faith No More (e do Dee Lite, que acabou não convencendo em cima do palco) a grande revelação daquele Rock in Rio. Infelizmente, o show deles, marcado para o dia 25, não pôde acontecer devido a um problema de logística e foi transferido para a noite seguinte, DEPOIS do show principal do A-Ha.

Dessa forma, eles acabaram tocando para um público muito reduzido, ainda que bom, já que aquela tinha sido uma noite de ingressos esgotados, mas que quase ninguém tomou conhecimento, já que a Globo também não transmitiu sequer um trecho dele na televisão. No YouTube, é possível vê-los tocando "Kinky Afro" no Maracanã, mas não a íntegra da apresentação.



Lobão - Dia 23 de janeiro

Em 85, quem sofreu com os fãs de metal foi Erasmo Carlos. Em 2001, Carlinhos Brown recebeu uma chuva de garrafas plásticas de fãs do Oasis e do Guns N' Roses. Há 20 anos, foi Lobão que se viu obrigado a encarar uma multidão que não estava lá muito interessado na sua música, e muito menos em sua fusão de rock e bateria de escola de samba. Ainda mais quando o seu show estava ensanduíchado entre o do Sepultura e o do Megadeth. Resultado? Sob uma chuva de projéteis (anos depois ele brincaria "jogaram até pilha e bolacha Piraquê em cima de mim") ele abandonou o palco depois de apenas duas canções.