Nos próximos dias, os dois discos mais emblemáticos gravados por Ozzy Osbourne completarão, respectivamente, 50 e 40 anos de lançamento, e os aniversários serão celebrados com novas edições luxuosas, trazendo vários extras. "Paranoid", o segundo álbum do Black Sabbath onde ele foi o vocalista até 1978, chegou às lojas do Reino Unido em 18 de setembro de 1970, enquanto "Blizzard Of Ozz", sua estreia em carreira solo, dez anos mais tarde, no dia 20 do mesmo mês.
O cantor obviamente lançou outros discos influentes e de sucesso, mas seguramente, esses são os dois mais importantes, também pelo seu enorme alcance, inclusive para fora do círculo do heavy metal e do hard rock. Não à toa, eles formam a espinha dorsal dos seus shows até hoje.
Para se ter uma ideia, das dez canções que ele mais tocou ao vivo, sete, incluindo as seis primeiras, saíram desses discos. Enquanto "Paranoid" rendeu as três músicas mais tocadas na história do Sabbath (mesmo com outros vocalistas, eles sempre tocaram a faixa-título, "Iron Man" e "War Pigs" nos shows).
"Paranoid"
O Sabbath já tinha deixado uma boa impressão com seu assustador disco de estreia, um álbum pesado, brutal e básico que acabaria se mostrando a pedra fundamental para praticamente toda a música pesada surgida no planeta nas décadas seguintes. Mesmo sem agradar aos críticos, o quarteto conquistou um público enorme tanto na Europa quanto nos EUA, e ampliaria muito esse sucesso graças ao seu segundo álbum, que, merecidamente, virou um clássico indiscutível do rock.
O mais curioso é que, a princípio, ele iria se chamar "War Pigs", em alusão á sua faixa de abertura, e a capa foi feita em cima dessa ideia. Mas havia um problema: o disco havia ficado muito curto e mais uma canção era necessária para completá-lo. Ou seja, tudo levava a crer que essa faixa seria simplesmente um filler (ou "encheção de linguiça"), aquela música feita só para fazer número.
E parecia que esse seria mesmo o caso. O guitarrista Tony Iommi começou a tocar um riff básico, Ozzy foi improvisando uma melodia, o baixista (e também letrista) Geezer Butler e o baterista Bill Ward se juntaram e logo estava claro que, eles não só que tinham se saído com uma canção fortíssima, mas com uma que tinha até, pasmem, cara de hit.
O Sabbath, e as grandes bandas daquele período como o Led Zeppelin, gostavam de ser vistos como "artistas de álbum". O mercado de singles era considerado algo "inferior", apenas para artistas mais pop e um público mais infantil (ou infantilizado). Mas era óbvio que ter uma música nas rádios não iria fazer mal e foi isso o que aconteceu com "Paranoid", lançada um mês antes do álbum, e que acabou chegando no quarto lugar da parada, uma marca que, nem de longe, eles chegaram perto de atingir novamente.
O álbum também se tornou um hit instantâneo, graças também às suas outras duas faixas mais emblemáticas, as já citadas "War Pigs" e "Iron Man". Mas "Paranoid" não se resumia a esses três momentos. A mais lenta e psicodélica "Planet Caravan" mostrava um lado até então desconhecido deles e o lado b, nem menos famoso, mantinha o bom nível com a soturna, e com uma pegada de jazz, "Electric Funeral", e a épica "Fairies Wear Boots", que encerrava o trabalho.
"Paranoid" chegou ao topo da parada no Reino Unido, feito que eles só repetiriam em 2013 com "13", o álbum que marcou o retorno de três quartos da formação original (Bill Ward acabou não participando). Nos EUA ele chegou à 12ª posição e ganhou quatro discos de platina, o que faz deste o mais bem sucedido disco da banda de Birmingham naquele mercado.
A edição de luxo
A edição comemorativa pelas cinco décadas do trabalho será lançada em 9 de outubro. E terá, em seu formato mais completo, e caro, cinco LPs e 4 CDs, além de um livro contando toda a história deste grande clássico. O maior destaque entre os extras está na íntegra de dois shows realizados naquele ano.
Ouça:
"Blizzard Of Ozz"
Avançando dez anos no tempo, a situação, tanto para o Sabbath quanto para Ozzy, não era das mais animadoras. O cantor já havia sido expulso da banda por causa dos seus excessos, isso em um grupo que não tinha a menor fama de regrado, e readmitido para gravar o pouco memorável "Never Say Die" (1978) antes de finalmente sair de vez. O cenário também já não era dos mais favoráveis, em uma época de punk, pós punk, new wave e também com uma nova geração de bandas pesadas surgindo sob a bandeira da "New Wave Of British Heavy Metal", ou seja, era uma época em que as mudanças no mundo do rock ainda aconteciam de maneira vertiginosa e, em poucos anos, era possível você passar de novidade a dinossauro.
A vida de Osbourne estava em uma de suas piores fases, mas ele foi em frente. O cantor se juntou ao baterista Lee Kerslake (ex-Uriah Heep), ao baixista Bob Daisley e, crucialmente, ao prodígio da guitarra Randy Rhoads, de apenas 23 anos e dono de uma técnica única, capaz de rivalizar com a de outro novo herói da guitarra: Eddie Van Halen.
A princípio, "Blizzard Of Ozz" deveria ser o nome de uma banda, que teria Ozzy como figura principal e grande chamariz, mas com os outros tendo status de integrantes e não de meros músicos contratados. A ideia, de qualquer forma, foi abandonada e "Blizzard..." se tornou o nome do álbum.
E que álbum! Contrariando as expectativas, Osbourne se saiu com um trabalho fortíssimo, que soava moderno e comercial e o reposicionava no mercado.
O clima "macabro" e soturno que havia feito a fama do Black Sabbath estava presente no disco, especialmente em "Mr. Crowley", e na foto da capa, com Osbourne vestindo uma capa segurando ameaçadoramente um crucifixo. Mas o material era bem variado, com direito a uma bela balada, "Goodbye To Romance", canções de grande apelo pop, "Crazy Train" em especial, mais "I Don't Know", a polêmica "Suicide Solution" e "No Bone Movies" também, além de um épico de pegada mais progressiva, "Revelation (Mother Earth)" e, encerrando, "Steal Away (The Night)", uma música tipicamente, como se dizia nos anos 70, "pauleira".
Assim que o álbum chegou ao mercado, ficou claro que Ozzy estava de volta. O álbum chegou ao sétimo posto no Reino Unido e 21° nos EUA, desde 1975 que ele não ia tão longe. O resultado também foi um pouco melhor que o apresentado pelo Sabbath, que também havia se reinventado na mesma época, com o vocalista Ronnie James Dio no álbum "Heaven and Hell" (nono no Reino Unido e 28° nos EUA).
Infelizmente a fase boa não durou muito. Daisley e Kerslake se desentenderam com a nova empresária, e esposa de Ozzy, Sharon Osbourne, e acabaram demitidos logo depois das gravações de "Diary Of A Madman", o segundo álbum do cantor. Bem mais trágica foi a morte de Randy Rhoads em um estúpido acidente aéreo, com apenas 25 anos, em março de 1982.
Osbourne se entregaria ao álcool e drogas, e isso se fez notar em seus álbuns posteriores, mas ele sobreviveria para se tornar um dos maiores, e mais divertidos, ícones do rock.
A edição de luxo
Uma versão especial de "Blizzard Of Ozz" chegará amanhã (18) nos serviços de streaming musical com mais dez músicas, sendo sete ao vivo acrescidas às outras três que já tinham saído nas edições especiais em CD do disco.
Ouça:
O cantor obviamente lançou outros discos influentes e de sucesso, mas seguramente, esses são os dois mais importantes, também pelo seu enorme alcance, inclusive para fora do círculo do heavy metal e do hard rock. Não à toa, eles formam a espinha dorsal dos seus shows até hoje.
Para se ter uma ideia, das dez canções que ele mais tocou ao vivo, sete, incluindo as seis primeiras, saíram desses discos. Enquanto "Paranoid" rendeu as três músicas mais tocadas na história do Sabbath (mesmo com outros vocalistas, eles sempre tocaram a faixa-título, "Iron Man" e "War Pigs" nos shows).
"Paranoid"
O Sabbath já tinha deixado uma boa impressão com seu assustador disco de estreia, um álbum pesado, brutal e básico que acabaria se mostrando a pedra fundamental para praticamente toda a música pesada surgida no planeta nas décadas seguintes. Mesmo sem agradar aos críticos, o quarteto conquistou um público enorme tanto na Europa quanto nos EUA, e ampliaria muito esse sucesso graças ao seu segundo álbum, que, merecidamente, virou um clássico indiscutível do rock.
O mais curioso é que, a princípio, ele iria se chamar "War Pigs", em alusão á sua faixa de abertura, e a capa foi feita em cima dessa ideia. Mas havia um problema: o disco havia ficado muito curto e mais uma canção era necessária para completá-lo. Ou seja, tudo levava a crer que essa faixa seria simplesmente um filler (ou "encheção de linguiça"), aquela música feita só para fazer número.
E parecia que esse seria mesmo o caso. O guitarrista Tony Iommi começou a tocar um riff básico, Ozzy foi improvisando uma melodia, o baixista (e também letrista) Geezer Butler e o baterista Bill Ward se juntaram e logo estava claro que, eles não só que tinham se saído com uma canção fortíssima, mas com uma que tinha até, pasmem, cara de hit.
O Sabbath, e as grandes bandas daquele período como o Led Zeppelin, gostavam de ser vistos como "artistas de álbum". O mercado de singles era considerado algo "inferior", apenas para artistas mais pop e um público mais infantil (ou infantilizado). Mas era óbvio que ter uma música nas rádios não iria fazer mal e foi isso o que aconteceu com "Paranoid", lançada um mês antes do álbum, e que acabou chegando no quarto lugar da parada, uma marca que, nem de longe, eles chegaram perto de atingir novamente.
O álbum também se tornou um hit instantâneo, graças também às suas outras duas faixas mais emblemáticas, as já citadas "War Pigs" e "Iron Man". Mas "Paranoid" não se resumia a esses três momentos. A mais lenta e psicodélica "Planet Caravan" mostrava um lado até então desconhecido deles e o lado b, nem menos famoso, mantinha o bom nível com a soturna, e com uma pegada de jazz, "Electric Funeral", e a épica "Fairies Wear Boots", que encerrava o trabalho.
"Paranoid" chegou ao topo da parada no Reino Unido, feito que eles só repetiriam em 2013 com "13", o álbum que marcou o retorno de três quartos da formação original (Bill Ward acabou não participando). Nos EUA ele chegou à 12ª posição e ganhou quatro discos de platina, o que faz deste o mais bem sucedido disco da banda de Birmingham naquele mercado.
A edição de luxo
A edição comemorativa pelas cinco décadas do trabalho será lançada em 9 de outubro. E terá, em seu formato mais completo, e caro, cinco LPs e 4 CDs, além de um livro contando toda a história deste grande clássico. O maior destaque entre os extras está na íntegra de dois shows realizados naquele ano.
Ouça:
"Blizzard Of Ozz"
Avançando dez anos no tempo, a situação, tanto para o Sabbath quanto para Ozzy, não era das mais animadoras. O cantor já havia sido expulso da banda por causa dos seus excessos, isso em um grupo que não tinha a menor fama de regrado, e readmitido para gravar o pouco memorável "Never Say Die" (1978) antes de finalmente sair de vez. O cenário também já não era dos mais favoráveis, em uma época de punk, pós punk, new wave e também com uma nova geração de bandas pesadas surgindo sob a bandeira da "New Wave Of British Heavy Metal", ou seja, era uma época em que as mudanças no mundo do rock ainda aconteciam de maneira vertiginosa e, em poucos anos, era possível você passar de novidade a dinossauro.
A vida de Osbourne estava em uma de suas piores fases, mas ele foi em frente. O cantor se juntou ao baterista Lee Kerslake (ex-Uriah Heep), ao baixista Bob Daisley e, crucialmente, ao prodígio da guitarra Randy Rhoads, de apenas 23 anos e dono de uma técnica única, capaz de rivalizar com a de outro novo herói da guitarra: Eddie Van Halen.
A princípio, "Blizzard Of Ozz" deveria ser o nome de uma banda, que teria Ozzy como figura principal e grande chamariz, mas com os outros tendo status de integrantes e não de meros músicos contratados. A ideia, de qualquer forma, foi abandonada e "Blizzard..." se tornou o nome do álbum.
E que álbum! Contrariando as expectativas, Osbourne se saiu com um trabalho fortíssimo, que soava moderno e comercial e o reposicionava no mercado.
O clima "macabro" e soturno que havia feito a fama do Black Sabbath estava presente no disco, especialmente em "Mr. Crowley", e na foto da capa, com Osbourne vestindo uma capa segurando ameaçadoramente um crucifixo. Mas o material era bem variado, com direito a uma bela balada, "Goodbye To Romance", canções de grande apelo pop, "Crazy Train" em especial, mais "I Don't Know", a polêmica "Suicide Solution" e "No Bone Movies" também, além de um épico de pegada mais progressiva, "Revelation (Mother Earth)" e, encerrando, "Steal Away (The Night)", uma música tipicamente, como se dizia nos anos 70, "pauleira".
Assim que o álbum chegou ao mercado, ficou claro que Ozzy estava de volta. O álbum chegou ao sétimo posto no Reino Unido e 21° nos EUA, desde 1975 que ele não ia tão longe. O resultado também foi um pouco melhor que o apresentado pelo Sabbath, que também havia se reinventado na mesma época, com o vocalista Ronnie James Dio no álbum "Heaven and Hell" (nono no Reino Unido e 28° nos EUA).
Infelizmente a fase boa não durou muito. Daisley e Kerslake se desentenderam com a nova empresária, e esposa de Ozzy, Sharon Osbourne, e acabaram demitidos logo depois das gravações de "Diary Of A Madman", o segundo álbum do cantor. Bem mais trágica foi a morte de Randy Rhoads em um estúpido acidente aéreo, com apenas 25 anos, em março de 1982.
Osbourne se entregaria ao álcool e drogas, e isso se fez notar em seus álbuns posteriores, mas ele sobreviveria para se tornar um dos maiores, e mais divertidos, ícones do rock.
A edição de luxo
Uma versão especial de "Blizzard Of Ozz" chegará amanhã (18) nos serviços de streaming musical com mais dez músicas, sendo sete ao vivo acrescidas às outras três que já tinham saído nas edições especiais em CD do disco.
Ouça: