Há 50 anos, o mundo do rock, e da música pop em geral, experimentava um momento de grandes mudanças. Os Beatles, muito em breve, anunciariam a sua dissolução e novos sons começavam a despontar. Em breve também, o rock se transformaria de vez em grande indústria, com mega-shows, vendas inimagináveis e muito dinheiro circulando no meio.
O rock pesado, o progressivo, o glam rock e o reggae também já iam se infiltrando no mainstream, assim como a música dos cantores e compositores (Neil Young e James Taylor foram dois que lançaram álbuns fundamentais em 1970). O ano ainda foi marcado pelo segundo (e último) disco dos Stooges ("Fun House") e também por "Loaded", o derradeiro de Lou Reed com o Velvet Underground, ambos muito ouvidos pelos jovens que anos depois mudariam tudo com o punk rock.
Ou seja, muita coisa que rolou naqueles 12 meses iria repercutir (e seguir repercutindo por décadas a fio) no mundo da música. Veja abaixo cinco discos que completam 50 anos em 2020 e marcaram época.
Difícil achar uma banda que tenha ralado tanto em tão pouco tempo quanto o Creedence e seu líder John Fogerty. Este foi o quinto disco deles em pouco mais de dois anos, e mais um ainda sairia pouco depois, "Pendulum", que chegou às lojas em dezembro.
O último ano em que os Beatles estiveram (mais ou menos) juntos foi marcado por uma série de lançamentos. Primeiro foi Ringo Starr, que lançou o discreto "Sentimental Journey" em março. Em abril, foi a vez de Paul McCartney lançar sua estreia solo, o caseiro "McCartney". Foi também promovendo esse disco que o baixista anunciou que a banda havia de fato acabado, através de uma entrevista enviada como release para a imprensa.
Em maio, chegava ao mercado "Let It Be", o derradeiro álbum dos Beatles, com gravações feitas dois anos antes. Meses depois, em novembro, quem lançou seu álbum (um disco triplo!) foi George Harrison, e o fundamental "All Things Must Pass", mas talvez o melhor entre todos esses lançamentos tenha sido mesmo o de John Lennon.
"Plastic Ono Band" saiu em dezembro e trazia o músico se abrindo em letras diretas que vinham acompanhadas de arranjos básicos - ele e Yoko Ono estavam se submetendo a um doloroso tratamento psicológico. Curiosamente, a produção foi feita por Phil Spector, criador de "sinfonias juvenis" no início dos anos 60, como "Be My Baby", das Ronettes, e responsável por ter adicionado instrumentos de corda e outros truques sonoros nas canções de "Let It Be" (McCartney nunca o perdoou pelo arranjo de "The Long And Winding Road").
O disco não gerou grandes sucessos, ainda que "Mother", "Love" e, principalmente, "Working Class Hero" sejam bem conhecidas e não só pelos fãs de carteirinha. Apesar das vendas relativamente modestas, ele se tornou um clássico imediato e é daqueles discos de cabeceira de todo cantor e compositor de veia confessional que se preze. Foi daqui também que saiu a polêmica "God", aquela em que Lennon dizia que não acreditava nos Beatles e que o sonho havia acabado.
O quinto, e último, álbum da dupla, se tornou um disco extremamente marcante e bem sucedido. Ele chegou ao número 1 em diversos países e ganhou oito discos de platina nos EUA e dez no Reino Unido.
Infelizmente as tensões entre Simon e Art Garfunkel haviam atingido um ponto em que ficou difícil para os dois seguirem juntos, e eles partiram para suas carreiras solo.
1970 foi também um ano de ouro para o rock pesado, com o Led Zepellin mostrando que era possível conciliar o som heavy com folk e baladas, e o Deep Purple com o monolítico "In Rock". Mas não se pode falar de heavy metal sem o Black Sabbath, ainda mais quando ele chega em dose dupla.
Sim, porque os dois primeiros álbuns da banda saíram há 50 anos. A estreia homônima gravada em um só dia, chegou às lojas em fevereiro e trazia uma espécie de bê a bá do metal, com os riffs marcantes, as letras com temas ocultistas e a capa assustadora. Mas eles atingiram o ápice no disco seguinte.
O terceiro disco da banda, uma das melhores, se não a melhor, já surgida no Brasil, é para muitos fãs e especialistas o seu grande momento. Ainda que um pouco menos celebrado que a estreia de 1968, esse aqui já os traz como autores de quase todo material e também mostra as várias facetas do trio. Há o pop iluminado de "Ando Meio Desligado", "Desculpe, babe" e "Hey Boy", o bom humor de "Quem Tem Medo de Brincar de Amor?", além da mistura de rock e regionalismo de "Jogo de Calçada", que começa como um baião elétrico e descamba na psicodelia pesada, a brincadeira com "Chão de Estrelas", imortalizada na voz de Silvio Caldas, a "proto-heavy" "Oh! Mulher Infiel" e a poderosa "Ave, Lucifer" (que mostrava que o interesse pelo mundo do oculto não era exclusividade dos roqueiros ingleses).
O ano de 1970 foi marcado ainda por pelo menos mais dois discos históricos da música brasileira: "Força Bruta", de Jorge Ben (nessa época ainda sem o "Jor"), e a monumental estreia de Tim Maia. Ou seja, um trio de álbuns que ainda hoje seguem atuais e influentes.
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