Jeff Buckley - You and I
A cada dia fica mais claro que a morte precoce de Jeff Buckley foi um dos maiores baques sofridos pela música contemporânea. Naquele fatídico 29 de maio de 1997 em que ele resolveu dar um mergulho no rio Mississipi para nunca mais retornar, o mundo perdia um de seus talentos mais promissores e a nome Buckley definitivamente se tornava sinônimo de tragédia.
Afinal, em 1975 seu pai, o igualmente talentoso Tim Buckley morreu vítima de overdose. Apesar de ter vivido cerca de dois anos a mais que Tim, o volume de suas obras difere radicalmente.
Enquanto seu pai deixou nove álbuns, fora o material de arquivo e gravações ao vivo, Jeff só teve tempo de completar um único álbum, o hoje clássico indiscutível "Grace" de 1995 e, influenciar definitivamente as gerações seguintes - Thom Yorke e Chris Martin estão entre os nomes que foram profundamente tocados por sua música.
É por isso que esse álbum, que certamente não seria lançado caso ele não tivesse morrido, adquire um status importante. Afinal qualquer oportunidade de ouvi-lo novamente é sempre bem-vinda.
"You and I" foi feito em 1993, pouco depois do cantor ter assinado contrato com a Columbia em uma época em que ele ainda não sabia exatamente que tiopo de artista seria.
Para quebrar o gelo, o produtor Steve Berkowitz o levou para o estúdio e o deixou livre para fazer o que quisesse. Jeff então cantou um punhado de canções que gostava de cantar no Sin-é - a cafeteria onde ele se apresentava regularmente.
O repertório mostra seu ecletismo, indo de Bob Dylan e Sly Stone a Led Zeppelin e Smiths. Ele ainda registrou uma versão daquela que seria a faixa-título de seu primeiro (e último) álbum e exibiu um rascunho de composição: a canção que dá nome a esse trabalho, que, infelizmente, nunca foi completada.
Assim, é fascinante ver o talento dele desabrochando e admirar o seu talento para dar nova vida à canções alheias de fontes tão diversas- não por acaso Berkowitz diz que Jeff era uma espécie de serviço de streaming musical ambulante.
O produtor também diz que nessas sessões foram feitas cerca de 40 gravações, e que essas não são, em absoluto, as únicas que merecem ser lançadas oficialmente. Sendo assim, podemos esperar mais discos com esse tipo de material no futuro.
Ouça Jeff Buckley tocar "I Know It's Over" dos Smiths em faixa presente em "You and I"
Ed Motta - Perpetual Gateways
Dados os seus amplos, e no geral super sempre sofisticados, gostos musicais, os fãs de Ed Motta sabem que as chances de seu próximo disco ser radicalmente do anterior são sempre altas. Desta vez o carioca surpreendeu ao lançar um disco de jazz cantado totalmente em inglês.
"Perpetual Gateways" tem um lado pop e a indefectível influência do Steely Dan e do soulman Donny Hathaway - o cantor que provavelmente mais inspira o músico - mas definitivamente não é um álbum feito para o público daqui fã de seu lado mais dançante.
Para realizar esse trabalho, Motta conseguiu reunir um time invejável de músicos. Entre eles o pianista Greg Phillinganes (que foi diretor musical de Michael Jackson), o baterista Marvin "Smitty" Smith e, uma verdadeira lenda viva da música americana: o flautista Hubert Laws, que embeleza duas canções do álbum.
Obviamente, de nada adiantaria juntar um time desses, se o material a ser apresentado não fosse dos melhores, mas Motta se preparou bem para a tarefa e entregou dez composições mais do que dignas e que abrem espaço para que os músicos brilhem e engrandeçam cada uma dessas músicas.
A outra novidade aqui está no fato de Ed ter decidido ele mesmo escrever as suas letras, área em que ele raramente se aventurou em seus quase 30 anos de estrada.
Pode-se reclamar de que ele esteja aparentemente muito preocupado com as polêmicas em que vira e mexe se envolve pelas redes sociais ou com os hipsters que agora, assim como ele, bebem vinhos caros, ou gastam fortunas em discos de vinil - mas é no mínimo interessante vê-lo se abrindo desse jeito.
Nesse caso a escolha do inglês para o álbum acaba fazendo muito sentido. Além de ser o idioma jazzístico por natureza, Ed há tempos tem uma carreira estabelecida lá fora ("AOR", o álbum anterior, saiu em edição bilíngue), e o idioma pode, e deve, ajudar o disco a alçar voos maiores no exterior. Ao mesmo tempo a língua pode ter funcionado como um escudo para que ele conseguisse externar seus sentimentos. Independente dessas conjecturas, uma coisa é certa, "Perpetual Gateways" é um belíssimo trabalho, que deve ser lembrado como um dos grandes discos de 2016.
Ouça "Overblown Overweight" com Ed Motta, presente no álbum "Perpetual Gateways"
Brian Fallon - Painkillers
Brian Fallon despontou como vocalista do Gaslight Anthem, uma boa banda que nunca fez o sucesso a que, aparentemente estava destinada.
Nesse momento, o grupo está em "hiato por tempo indefinido", e Fallon decidiu lançar seu primeiro disco solo onde segue basicamente a rota de sua banda ao invés de optar por novos caminhos.
Assim, "Painkillers" traz mais uma vez as óbvias influências de Bruce Springsteen e também dos punks do Social Distortion.
Verdade seja dita, às vezes Fallon emula tanto os seus ídolos que isso pode incomodar alguns ouvintes - lembrando que o próprio Springsteen é um grande fã dele.
Mas fica difícil reclamar de um álbum com tantas canções fortes e, em vários casos, emocionantes e que soa bem melhor que os dois últimos discos de sua banda.
Muitas dessas canções têm potencial para serem hits - podendo inclusive atingir os fãs de bandas como Killers ou Kings Of Leon. Ao mesmo tempo, ele mostra muito talento e maturidade como compositor, o que garante o sucesso com os críticos e faz com que suas canções também agradem a um público já com certa idade.
Ouça "A Wonderful Life" com Brian Fallon presente no álbum "Painkillers"