"We Love Disney" - Vários Artistas
Esse tributo é a versão norte-americana de uma série que já havia se mostrado muito bem sucedida na França e Austrália. O formato é conhecido: artistas do universo pop regravam suas canções mais queridas presentes em filmes e desenhos feito pelo tradicional estúdio.
Como é padrão nesse tipo de projeto, algumas músicas funcionam melhor que outras, ainda que todos demonstrem entusiasmo e carinho pelo material. O que se sente é que o pessoal da Disney não permite que os artistas criem muito em cima das canções, o que deve explicar as versões semelhantes às originais.
Como estamos falando de canções que não são apenas clássicas, mas que marcaram as infâncias de várias gerações isso não chega a ser um problema, mas seria interessante ver como o disco sairia sem essas amarras.
Voltando ao álbum, ele traz treze canções de filmes como "Hércules", "O Rei Leão", "Frozen" ou "Cinderela" cantadas por gente como Ne-Yo, Gwen Stefani, Jessie J, Ariana Grande (ao lado), Jason Derulo e mais.
Quem se dá melhor são os que preferiram as canções mais animadas, especialmente aquelas com uma quedinha para o jazz - Charles Perry relembrando "Ev'rybody Wants to Be a Cat" dos "Aristogatas" é uma das melhores, assim como Kacey Musgraves dando um clima bluegrass para "A Spoonful Of Sugar" de Mary Poppins.
Vale ouvir também o Fall Out Boy se divertindo horrores com "I Wan'na be Like You" de "Mogli".
O álbum termina com todos os astros cantando juntos a mais do que clássica "It's A Small World" (aquela do "Há um mundo bem melhor...") e, garantimos, é difícil ouvi-la sem ficar com os olhos marejados.
Em resumo, um projeto interessante e digno que poderia muito bem render uma versão feita com artistas brasileiros em suas versões em português.
Ouça a versão de "Let It Go" de "Frozen" feita por Lucy Hale com o Rascal Flatts
Boogarins - Manual
O rock psicodélico viveu o seu auge entre os anos de 1966 e 1968, quando o rock foi tomado por bandas que começaram a testar os limites do formato canção e a usar os recursos técnicos de estúdio como mais um instrumento.
Apesar de em tese não ter durado muito, a música psicodélica nunca deixou o panorama da música pop e sempre esteve por aí, com maior ou menor evidência.
O fato é que atualmente, quase todos países têm uma cena local dedicada ao estilo.
Mesmo dentro desse grupo a forma de se aproximar do gênero varia. Há os gostam de fazer música como se ainda estivéssemos em 1967, outros usam apenas a ideia de "música livre" para fazer algo completamente diferente e original, e aqueles que ficam em um meio termo, o caso do Tame Impala e dos goianos dos Boogarins.
O quarteto chamou a atenção da crítica em 2013, com seu rock retrô, inspirado em Beatles e Jimi Hendrix, mas também em Mutantes, tropicalismo e de baluartes da neo-psicodelia brasileira como o gaúcho Júpiter Maçã.
O fato é que eles deram a sorte de estar fazendo essa música em um ótimo momento. Assim não demorou muito para eles começarem a chamar a atenção também no exterior e serem convidados para tocar nos EUA e Europa.
"Manual" está ganhando lançamento mundial e recebendo críticas efusivas dos mais respeitados veículos do planeta.
A revista britânica Uncut deu nota 8 para o álbum, o jornal "The Guardian" também rasgou-se em elogios, assim como o NME, que colocou o trabalho em uma lista com os maiores destaque de novembro. Para completar, o New York Times colocou-o na íntegra em streaming em seu site uma semana antes dele chegar às lojas. Ou seja, o Boogarins está se tornando mais uma banda brasileira a conquistar de fato os grandes centros produtores/consumidores de rock, o que não é pouca coisa
O legal é ver que eles estão conseguindo isso fazendo ótimas músicas, cantando em português e mantendo o pé no chão. Nesse momento eles estão no meio de uma insana turnê pela Europa - 19 shows em 10 países em 22 dias - e em breve devem estar de volta para mais uma série de apresentações por aqui. Enquanto isso, vale a pena curtir essas onze faixas que formam um dos melhores discos de 2015 - feito ou não no Brasil.
Ouça "6000 Dias (Ou Mantra de 20 Anos)" com os Boogarins presente no álbum "Manual"
Van Morrison - Astral Weeks
Nos últimos dias, vários discos clássicos foram relançados em edições remasterizadas e formato de luxo. "Loaded" (1970), o quarto álbum do Velvet Underground ganhou uma versão com seis (!) discos e "Jagged Little Pill" de Alanis Morissette também voltou às lojas em uma caprichada edição com vários extras.
O outro grande álbum que finalmente foi relançado é "Astral Weeks", o segundo álbum solo do irlandês Van Morrison e desde então presença constante em virtualmente todas as listas de "melhores álbuns de todos os tempos" feitas pela crítica mundial.
Esse é daqueles discos sobre o qual fica até difícil falar sobre. Gravado em apenas três sessões, com músicos de jazz que nunca haviam tocado juntos antes, que não receberam nenhum tipo de partitura para acompanhar o cantor, o álbum tem um clima misterioso e, ainda hoje, ocupa um lugar único no panteão da música contemporânea.
São oito faixas, metade delas com duração acima dos sete minutos, de enorme beleza e que fogem completamente de qualquer padrão vigente na época.
Morrison gravou o disco também como desabafo. Em 1967 ele estourou com "Brown Eyed Girl" e de repente se viu preso a um produtor/empresário que queria que ele repetisse o fenômeno.
Ele conseguiu se livrar do contrato e, para não deixar mais dúvidas de que a partir de agora teria todo o controle sobre sua carreira, gravou esse trabalho, que não vendeu muito de começo, mas que cresceu com o passar dos anos, quando ganhou status de clássico.
O fato é que mesmo Morrison nunca mais gravou algo semelhante a "Astral Weeks". Nos anos seguintes ele seguiria cantando uma mistura de soul, blues, folk e música celta em vários discos de qualidade variada. O fato é que ele mesmo parecia saber que um trabalho dessa magnitude e força dificilmente conseguem ser replicados.
Nessa nova edição, o disco ganhou quatro faixas bônus - todas versões alternativas de músicas presentes nele. Elas são interessantes, especialmente para quem já o conhece bem. Se esse não é o seu caso, dê o play no vídeo abaixo e ouça 47 dos mais intensos minutos de toda a história da música contemporânea.
Ouça a íntegra de "Astral Weeks", o clássico de Van Morrison