Mumford & Sons - Wilder Mind
É comum uma banda querer dar uma chacoalhada em sua carreira e assim também mudar a percepção que as pessoas têm dela. O Mumford & Sons sentiu que esse momento havia chegado e decidiu radicalizar ao basicamente abandonar os instrumentos acústicos e o folk "para as multidões" que fizeram deles uma das maiores bandas do século 21.
O problema é que esse era o grande diferencial deles enquanto banda. Aquela instrumentação fazia todo sentido para suas composições.
Basta lembrar que eles podem ter sido bastante criticados, mas nunca na base do "se não fosse o banjo e o violão eles seriam iguais a um milhão de bandas". Sendo assim, é preciso louvar a coragem deles de ousar mexer com uma fórmula vencedora.
É bom ver que esse novo enfoque resultou em uma nova música, ainda que ela tenha paralelo com a dos discos anteriores - os fãs podem ficar sossegados que eles não gravaram um disco de hip hop, free jazz ou black metal.
O fato é que "Wilder Mind" os aproxima do pop/rock de arena, mas de uma forma sutil.
As canções aqui são todas bem construídas, melodiosas e radiofônicas. O que podia ser temido - uma guinada o som épico, bombástico e quase sempre vazio- não aconteceu. E isso não deixa de ser algo até engraçado, já que os dois trabalhos anteriores deles, eram cheios de faixas que levavam multidões ao êxtase, com seus crescendos muitas vezes explosivos.
O difícil mesmo é saber como o álbum irá se encaixar na trajetória da banda. E para isso será preciso esperar um pouco para que se perceba seu desempenho comercial, e, principalmente nos palcos. Só então poderemos saber de verdade se esse bom "Wilder Mind" marca o início de uma nova fase ou se ele será encarado apenas como um experimento que se fazia necessário.
Ouça "Tompkins Square Park" presente no álbum "Wilder Mind"
Ciara - Jackie
Uma das mais interessantes cantoras de R&B a surgir nos últimos quinze anos, Ciara periodicamente lança discos que conseguem equilibrar o apego pela tradição tanto da música negra americana, quanto do pop dos anos 80 e 90, com acenos às últimas tendências.
Essa visão lhe garantiu uma posição confortável no cenário musical contemporâneo mesmo com vendas cada vez mais modestas - basta dizer que seus últimos três discos somados venderam menos de um sexto das cópias de seu álbum de estreia.
"Jackie" tem potencial para se dar melhor no mercado. Primeiro porque ele tem não só alguns singles de sucesso em potencial, mas "album tracks" que não soam como encheção de linguiça.
Some a isso a decisão de voltar aos palcos depois
de seis anos, a presença de Dr. Luke na produção
de várias faixas, boas composições e a acertada decisão de não sobrecarregar o disco com participações especiais e temos um trabalho que merece ser ouvido pelos fãs da música negra contemporânea.
Ouça "I Bet" com Ciara presente no álbum "Jackie"
Tulipa Ruiz - Dancê
Em seu terceiro álbum, Tulipa Ruiz se firma como uma das maiores representantes da música brasileira inteligente. Aquela que tem aspiração de atingir o grande mercado, mas que acredita que dá para se fazer isso sem apelar ou simplesmente cair no popularesco.
Sim, ela ainda faz uso de certos maneirismos vocais que podem incomodar certos ouvintes. Se esse for o seu caso, vale a pena tentar passar por cima disso, já que as músicas desse terceiro álbum da cantora estão muito boas. São canções dançantes, com pegada pop e letras bem feitas.
Os arranjos que se equilibram entre o experimental e o popular, o retrô e o moderno, também merecem destaque. Tulipa Ruiz segue criando uma ponte entre a MPB dos anos 70 - a influência dos discos de Gal Costa deste período é grande - a vanguarda paulista dos anos 80 e a música (não só do Brasil) do novo século.
"Dancê" é um disco bem homogêneo e talvez o mais pop dentre os três gravados pela cantora. Curiosamente, a faixa que talvez mais destoe do disco, "Tafetá", também é uma das melhores. A faixa é um samba jazz de primeira, gravada em parceria com o lendário João Donato e parece ter saído diretamente de um dos discos clássicos do paraense.
Poderia até ser coincidência não fosse o pequeno detalhe de Tulipa ter participado do show especial em que o compositor revisitou todo o repertório de ""Quem É Quem", seu álbum mais cultuado, em fevereiro do ano passado. Para quem se interessou, o disco pode ser ouvido, e comprado, no site da artista
Ouça "Jogo do Contente" com Tulipa Ruiz presente no álbum "Dancê"