Final de ano é sinônimo de listas de melhores discos. A essa altura, praticamente todas as publicações ligadas à música e cultura pop já soltaram as suas. Assim, já é possível fazer uma compilação dos álbuns que, de maneira geral, foram os favoritos de 2014 para a imprensa.

Os cinco discos abaixo ficaram ou em primeiro lugar na escolha de determinada publicação ou pontuaram muito bem em várias delas. Como já era de se esperar, houve uma predileção por álbuns que passaram longe das listas dos mais vendidos, mas que definitivamente apontaram caminhos interessantes para a música contemporânea.

Mesmo que alguns desses discos sejam um tanto difíceis - a maioria deles precisa de algumas audições para ser melhor compreendido - vale a pena conhecê-los, até porque eles são bem diferentes entre si
.



The War On Drugs - Lost In The Dream

The War On Drugs
The War On Drugs Lost in The Dream
Nenhum disco foi tão bem colocado nas listas quanto esse. O terceiro álbum da banda liderada por Adam Granduciel cativou tanto os críticos das britânicas Uncut, de perfil mais adulto, quanto da Q, essa mais ligada ao mainstream. Essas duas, e mais a americana Spin, consideraram "Lost In The Dream" o melhor lançamento de 2014. O disco ainda ficou o top 5 de várias outras listas.

E o que esse disco tem de tão especial? É difícil entender porque ele cativou tanta gente, mas no final a resposta pode estar na mistura do familiar com o estranho.

The War On Drugs
The War On Drugs O War On Drugs de Adam Granduciel (o segundo da esquerda)
Em sua essência, as canções do WOD são bem simples, influenciadas pelo rock e folk americano mais tradicional (Bruce Springsteen e Bob Dylan principalmente) e também por muito da música pop dos anos 70 e 80 - nomes tão díspares como Tears For Fears, Dire Straits e Fleetwood Mac são citados na hora de descrever o som deles. É claro que se isso fosse tudo que eles tivessem a oferecer, essa badalação seria bem menor.

O grande lance do grupo é usar esse som como base para dar origem a algo mais experimental. E isso é conseguido com a ambientação criada pelos instrumentos e principalmente pelo uso de ritmos eletrônicos programados no melhor estilo "metronômico" do rock alemão dos anos 70. Some a isso as letras confessionais de Granduciel, escritas depois dele começar a sentir sintomas de depressão e paranoia e o pacote está completo.

"Lost In The Dream" se mostra um disco capaz de agradar os mais variados ouvintes, e talvez essa seja a melhor explicação para o enorme respaldo dado pela crítica para ele. Se você ainda não os ouviu, corra!

Ouça "Red Eyes" com o The War On Drugs, presente no álbum "Lost In The Dream"





St. Vincent - St. Vincent
St. Vincent
St. Vincent St. Vincent
Igualmente badalado, foi o mais novo trabalho de Annie Clark mais conhecida como St. Vincent. Talvez seu álbum mais pop e acessível, a cantora e multi-instrumentista mostrou ser capaz de escrever faixas dançantes e algumas das melhores baladas dos últimos tempos. Isso sem perder a estranheza e experimentalismo que sempre marcaram seus lançamentos.

"St. Vincent" foi eleito o melhor disco de 2014 pelo semanário NME e pelo jornal britânico The Guardian, e também está presente em várias outras listas publicadas nas últimas semanas.

Gravado com poucos instrumentos e músicos - basicamente sintetizadores, bateria e guitarra, o álbum pode parecer um tanto frio no princípio, mas, a cada audição fica claro que isso não é o caso. O fato de Clark conseguir fazer músicas capazes de agradar fãs de pop, música indie e sons mais experimentais também é digno de elogios.

Tudo isso basta não só para recomendar o álbum, mas para que também se fique de olho na apresentação que ela fará me breve no Brasil. A cantora será uma das atrações do Lollapalooza no dia 28 de março.

Ouça "Digital Witness" com St. Vincent, presente no álbum homônimo da cantora





Beck - Morning Phase
Beck
Beck Morning Phase
Talvez o menos "unânime" entre os discos enfocados aqui, o primeiro lançamento de Beck em seis anos, é citado nesse texto por ter sido escolhido o melhor álbum de 2014 pela sempre influente revista britânica Mojo, e também por ter dado as caras em outras listas. Isso,mais o fato delee ser mesmo um dos discos mais interessantes do ano.

"Morning Phase" trouxe o cantor em seu modo introspectivo em que ele demonstrou ser grande fã da música californiana do início dos anos 70.

Bastante comparado a seus discos mais melódicos e acústicos - especialmente "Sea Change" de 2002, esse aqui tem a seu favor o fato de ter talvez as melhores melodias e arranjos da carreira do cantor, que prova ser capaz de fazer discos absolutamente diferentes entre si, sem nunca perder a sua personalidade.

Ouça "Heart Is A Drum" com Beck, presente no álbum "Morning Phase"





FKA twigs - LP1
FKA twigs
FKA twigs LP1
É cada vez mais raro surgir um artista capaz de deixar o ouvinte desnorteado. Mas FKa twigs é assim. Afinal esse disco é daqueles que soam completamente originais e estranhos quando o ouvimos pela primeira vez.

Que um trabalho desse nível tenha sido feito por alguém que a princípio era dançarina - tente encontrá-la no clipe de "Price Tag" de Jessie J - é ainda mais surpreendente.

É por isso que "LP1" é presença constante em várias listas de melhores do ano, muitas vezes no top 10.

LP1 tem sido chamado de um disco de R&B Alternativo ou mesmo R&B Hipster. É fato que tudo aqui é feito para soar moderno e de forma inusitada. Mas é óbvio que a cantora ouviu muita música e não esconde isso - a influência de Prince e do trip hop de Tricky é mais do que visível. Enfim, se tem um disco lançado em 2014 que tem cara de futuro - ou que soa como a música que no passado se imaginava que seria feita no século 21 - ele se chama "LP1".

Ouça "Video Girl" com FKA twigs, presente no álbum "LP1"





Aphex Twin - Syro
Aphex Twin
Aphex Twin Syro
Esse texto poderia terminar lembrando outros discos que foram citados em várias listas - os mais recentes trabalhos de Sharon Van Etten, Run The Jewels, Caribou e Sun Kill Moon, entre eles - mas não poderíamos deixar passar em branco o álbum de retorno do Aphex Twin.

"Syro" marca o retorno de Richard D James depois de mais de uma década sem lançar um novo trabalho de estúdio. e o que esse verdadeiro mago da música eletrônica mostrou, foi a de que seu talento para criar obras estranhas, e ainda assim cativantes, continua inabalável.

"Syro" é um álbum totalmente instrumental e que exige muito do ouvinte não acostumado à música eletrônica sombria e pra lá de experimental praticada por ele desde os anos 90. Afinal, o que mais se pode esperar de um disco que teve seu anúncio de lançamento na deep web e é composto por faixas de nomes como "180db_ (130)" e "Produk 29 (101)".

"Syro" é obviamente um trabalho para poucos. Mas se você tem o mínimo interesse em música eletrônica deveria ouvi-lo com bastante atenção. Até porque se ele seguir nesse passo, o próximo álbum de James não deverá sair antes de 2027.

Ouça "Minipops 67 (120.2) (Source Field Mix)" com o Aphex Twin, do álbum "Syro"



Qual o seu disco favorito de 2014? Comente!