U2 - Songs Of Innocence
Em primeiro lugar é inegável que em uma época em que muitos grandes lançamentos são feitos de forma inovadora e/ou surpreendentes, o U2 conseguiu ir além.
Afinal, podia-se esperar muita coisa desse há muito prometido novo álbum dos irlandeses, mas definitivamente, ninguém imaginou que ele seria distribuído gratuitamente para um público que em tese chega aos 500 milhões de pessoas - o número estimado de usuários do iTunes. Para se ter uma ideia do que isso significa, pensem que, em toda sua carreira, eles venderam por volta de 150 milhões de álbuns.
Logo, se apenas uma pequena fração entre todos os que receberam o disco gratuitamente tenham ouvido o arquivo, ele pode muito bem já ter se tornado o álbum deles que mais pessoas escutaram.
Obviamente que em uma estratégia de tal magnitude, tudo deveria ser bem pensado. E aqui a banda surpreendeu positivamente. "Songs Of Innocence" não tem cara de um disco de sobras e também não carrega no experimentalismo que marcou, por exemplo, "Zooropa" (1993), para ficarmos em outro disco "surpresa" lançado pela banda.
Como o nome já indica, aqui o grupo resolveu de certa forma ao som de seus primórdios. Não que o resultado final remeta a discos como "Boy" (1980) ou "War" (1983), mas nota-se uma busca maior pela simplicidade, em faixas mais diretas e de rápido impacto.
Isso já deve bastar para satisfazer os fãs que ficaram sem entender muito "No Line On The Horizon" - o último álbum deles, lançado em 2009 - e também conquistar alguns fãs entre a geração mais nova que pode muito bem estar só agora tomando conhecimento da banda.
Para aqueles que admiram e acompanham a banda faz tempo, "Songs Of Innocence", certamente será uma audição agradável. O álbum tem uniformidade, mesmo com o grande número de produtores, e o quarteto conseguiu a proeza de ao mesmo tempo soar como o U2 sem deixar uma sensação de déjà vu no ouvinte - algo que já podia ser visto tanto nos últimos discos dos irlandeses, como em "", o single lançado pela banda no início do ano.
O maior problema do disco, ao menos nessas primeiras audições, é a falta de um grande single, aquela música que faz com que você sinta uma vontade imediata de ouvi-la novamente.
É claro que não dá para esperar a essa altura uma nova "New Year's Day", "With Or Without You" ou "One", mas uma canção dessas, certamente elevaria bastante o nível do trabalho, que mesmo assim já se insere entre os bons discos da banda.
O mais interessante mesmo vai ser acompanhar o desdobramento desse lançamento. Será que mais artistas do primeiro escalão terão a coragem de fazer algo semelhante?
E quantas pessoas irão comprá-lo em outubro, quando ele sair em formato físico? Também vale dizer que essa é apenas a primeira parte do projeto. O vocalista Bono já disse que "Songs of Experience" - a segunda parte desse trabalho - em breve será lançado, dessa vez de forma mais tradicional.
Até lá só nos resta esperar, mas por ora, podemos recomendar esse disco para fãs, ex-fãs e os que não conhecem muito o grupo. mesmo quem nunca gostou da banda poderá se surpreender. Levando-se em conta que para ouvi-lo você só precisa abrir o seu iTunes e procurar pelo álbum, podemos dizer que isso não é nenhum sacrifício né?
Ouça "The Miracle (Of Joey Ramone)" com o U2, do álbum "Songs Of Innocence"
Robert Plant - Lullaby and... The Ceaseless Roar
Foi só na década passada Robert Plant conseguiu se livrar de vez da sombra do Led Zeppelin, foi quando ele começou a gravar álbuns pessoais que pouco, ou nada, tinham a ver com a banda icônica da qual ele foi vocalista entre 1969 e 1980.
Esse disco, seu décimo trabalho de estúdio, dá sequência a essa boa fase. Ele também justifica a relutância do cantor em retornar à sua antiga banda para uma turnê, mesmo que isso signifique abrir mão de algumas dezenas de milhões de dólares na sua conta bancária.
"Lullaby and... The Ceaseless Roar", na verdade pode mesmo ser chamado de um trabalho de uma banda, e não de um solista. Isso porque ele foi todo gravado com os Sensational Space Shifters, o sexteto que o acompanha atualmente e que fez alguns de seus primeiros shows no Brasil há dois anos.
Se naquelas apresentações, quase todo o material era composto por covers, reinterpretações e, óbvio, algumas músicas do Led Zeppelin, aqui a história é bem diferente. Todo o material é inédito e ele volta a mostrar o interesse de Plant não só no rock e no blues, mas principalmente pela música do Marrocos e Egito.
Essa é uma faceta que ele havia deixado de lado em seus últimos álbuns, bem mais focados na música tradicional dos EUA, para onde ele havia se mudado.
O novo trabalho é então um disco de recomeço - ele terminou o namoro que vinha mantendo com a cantora Patty Griffin e voltou para a Inglaterra - e de reencontros. E é também um disco muito bonito e bem feito, com grandes composições, e executados por músicos de primeira.
Ainda que não se dê para compará-lo com os discos clássicos de sua antiga banda (e quantos álbuns lançados nos últimos 30 ou 40 anos podem?), ao menos podemos dizer que dificilmente um disco de retorno do Led Zeppelin soaria tão bem quanto esse Lullaby and... The Ceaseless Roar, que já merece destaque entre os grandes discos de 2014 e provam que Plant é um dos melhores roqueiros da velha guarda ainda em atividade.
Ouça "Rainbow" com Robert Plant do álbum "Lullaby and... The Ceaseless Roar"
Malta - Supernova
O maior desafio que um artista revelado em um reality show precisa enfrentar é a própria dinâmica do programa. Afinal todo ele funciona como um grande campeonato esportivo em que times (no caso os participantes) vão passando de fase até sagrarem-se campeões.
O problema é que se no esporte (e também no BBB ou A Fazenda) tudo se resolve na grande final, no mundo da música a questão é diferente. Em resumo, vencer o programa é, no final das contas, apenas a primeira etapa de um caminho bem mais complicado e longo.
Divulgação
O pessoal do Malta certamente irá perceber isso nos próximos meses. Será que todo aquele público que torceu por eles durante o "Superstars", irá continuar acompanhando a banda em disco e shows? Ou será que eles irão simplesmente escolher um novo reality show para torcer por um novo candidato? Ao mesmo tempo, como convencer o público roqueiro - sempre mais desconfiado - de que seu trabalho é legítimo, e não fruto de alguma maquinação da indústria?Como essas respostas, são daquelas difíceis de serem respondidas, coube à banda simplesmente tentar ignorar isso tudo e fazer o seu trabalho da melhor forma possível. E "Supernova" é isso: um álbum bem produzido e que chega ancorado por uma enorme campanha de divulgação, algo que basta para deixar o grupo em evidência por mais algum tempo.
A banda também tem a vantagem de ter escolhido um tipo de som que não é muito explorado por aqui - ainda menos pelos artistas do nosso mainstream: o hard rock de arena com pitadas de pop e romantismo - Dinho, o vocalista do Capital Inicial e um dos jurados do programa os comparou, positivamente, ao Nickelback.
"Supernova" traz canções autorais - a maioria delas já conhecida por quem assistiu ao reality show - e versões em português para canções de bandas como Rascal Flats e Adelitas Way.
Para completar, o trabalho já ganhou um disco de ouro, prova de que o sucesso do grupo de fato está acontecendo. Quem torceu por eles durante o programa certamente irá gostar do álbum.O trabalho também é recomendado para quem curte esse tipo de som e sentia falta de um similar nacional.
Ouça "Diz Pra Mim" com o Malta, presente no álbum "Supernova"