Antes de tudo é preciso dizer que sem Bob Dylan toda a música pop seria bem diferente. Bob foi bem mais que "a voz de protesto dos anos 60", rótulo com o qual nunca se sentiu confortável. E suas lições foram aprendidas por muitos. John Lennon, David Bowie, Bruce Springsteen, praticamente todos os "cantores e compositores" surgidos depois dos anos 70, Patti Smith, U2, todo o povo do country-alternativo e brasileiros como Raul Seixas, Caetano Veloso e Renato Russo não seriam os mesmos sem ele.
Pode-se dizer que não existe um, mas vários Dylans. Não à toa a cine-biografia "Eu não estou Lá", conta com vários atores fazendo o papel principal. No texto a seguir você conhece um pouco mais cada um deles.
Uma gaitinha e um violão
Robert Allen Zimmerman nasceu em 1941, e foi criado na pequena Hibbing em Minnesota. Após muito vagar, chegou em Nova York 20 anos depois com um repertório de canções tradicionais e uma ambição gigantesca. Com o rock em baixa, a nova onda estava na música folk.
Woody Guthrie, e seu violão com a inscrição "essa máquina mata fascistas" era o heroi maior de todo esse pessoal, vide "" a primeira composição própria gravada em disco por Bob.
O cantor lançou seu primeiro disco em 1962. Com um repertório basicamente de covers ele não vendeu quase nada, apesar das expectativas. Tudo mudou no ano seguinte com "The Freewheelin' Bob Dylan". Com "A Hard Rain's A-Gonna Fall" e "Blowin' In The Wind" esse foi o primeiro de uma série de álbuns clássicos que o tornariam um dos maiores compositores dos nossos tempos.
Enquanto minha guitarra chora
Em 1964, "Another side" mostrou que Bob Dylan não era só um cantor de protesto. Nesse ano ele também conheceu os The Beatles em Nova York e voltou a sentir prazer com o rock 'n' roll (já os Beatles conheceram a maconha e também nunca mais foram os mesmos).
Na Inglaterra, conhece a realeza pop local, esnoba Donovan (o "Bob Dylan inglês") e compra umaguitarra (está tudo em "Don't Look Back", o filme).
Tudo isso se refletiu em "Bringing It All Back Home" de 1965. No lado A, Dylan deixou a gaitinha e o violão de lado para tocar com uma banda completa. Já o lado B, acústico, mostrava um compositor que estava anos-luz à frente de quase toda a concorrência.
Menos de cinco meses depois saiu "Highway 61 Revisited", que abria com "Like A Rolling Stone". O impacto dessa música não diminui com o tempo, tanto que ela continua a ser eleita como a maior canção da era do rock.
Provocativo, Dylan resolveu mostrar seu novo som para no Festival de Newport, reduto dos fãs mais xiitas e conservadores da música folk. Saiu do palco coberto de vaias e acusado de se vender ao rock para ganhar mais dinheiro.
Na Inglaterra, acompanhado dos músicos que virariam o ótimo The Band, Dylan também foi vaiado sempre que partia para a eletricidade. Culminou com o grito de "JUDAS" berrado por um fã mais afoito. Em 1966 gravou outro disco fundamental: "Blonde on Blonde", o primeiro álbum duplo do rock.
Em 1967 Dylan estava pra ter um ataque. Cansado do assédio de fãs, colegas e imprensa mais o uso constante de anfetaminas, ele estava para explodir. Dylan então "sumiu". Foram meses sem nenhum sinal até surgirem as notícias de que ele sofrera um sério acidente e estava à beira da morte.
Eu quero uma casa no campo
As informações que circulavam eram desencontradas. O que se sabia era apenas que um acidente de moto havia ocorrido. A verdadeira extensão dele ainda hoje gera discussão, mas a versão mais aceita é a de que tudo não passou de um susto e que ele teve uma boa desculpa pra colocar a cabeça em ordem.
Para matar o tempo ele foi para uma cidadezinha ainda desconhecida chamada Woodstock. Com The Band, passou meses ali tocando por pura diversão. No repertório valia de tudo: clássicos do soul e do rock dos anos 50, country, blues e muitas músicas tradicionais. Dylan também ia testando suas novas canções. Essas gravações deveriam servir de base para que outros cantores as gravassem. Só que algumas dessas canções chegaram às mãos de alguns fãs que resolveram as lançar por conta própria. Nascia assim o disco pirata.
Quando voltou ao estúdio, Dylan não usou nem The Band (que seguiria caminho próprio e vitorioso) e nem aquelas músicas. Mas John Wesley Harding tinha o mesmo clima e foi uma surpresa total. A juventude toda nas ruas e um dos maiores porta-vozes da contra-cultura ousava lançar um disco de country (ou "o som do inimigo")? Nos anos seguintes Beatles, Rolling Stones e os Beach Boys também lançaram discos mais rústicos, deixando de lado as experimentações de estúdio.
Volte para o seu lugar
A década passava e Dylan não tinha mais a relevância de antes. Meio paranoico com a constante invasão de privacidade (um fã notório vasculhou seu lixo em busca de pistas) e vendo seu casamento descer ladeira abaixo o momento pedia uma sacudida. Ela viria na forma de uma turnê grandiosa (sua primeira desde 66) ao lado de The Band, que rendeu uma bolada e os aplausos negados oito anos antes. Em 1975, estava claro que seu casamento estava nas últimas. Fazendo da dor combustível para arte Dylan lançou "Blood on the Tracks", para muitos o seu melhor álbum. A maré boa seguiu com "Desire" e uma turnê feita no melhor estilo "circo itinerante", com vários amigos e artistas convidados dividindo o palco com a estrela principal.
Jesus Cristo eu estou Aqui
Em 1979 ele fez a sua metamorfose mais polêmica: nascido e criado no judaísmo, Bob se torna cristão e decide usar seus discos para pregar a palavra do Senhor. A princípio nada de errado, já que "Slow Train Coming" foi disco de platina e lhe deu seu primeiro Grammy. Já nos shows nem todos curtiram a ideia de ver uma apresentação só com músicas de louvação e nenhum sucesso antigo. Os outros discos dessa fase estão entre os mais fracos de sua obra.
Eu ainda não encontrei o que estou procurando
Em 1983 ele deu adeus ao cristianismo, pelo menos em suas letras, e chamou Mark Knofler dos Dire Straits para produzi-lo. "Infidels" poderia ser um disco redentor, mas ficou no meio do caminho, muito por conta da teimosia do compositor em deixar de fora do álbum a espetacular "Blind Willie McTell" (que só seria lançada quase dez anos depois).
Os anos passavam e Dylan continuava perdido. Seus discos vendiam menos, os fãs diminuíam e seus shows não traziam satisfação pessoal nenhuma. Foi nesse clima que em 1988 teve início o que viria a ser conhecida como a "Never Ending Tour", que se prolonga até os dias de hoje, encantando (e por vezes revoltando) fãs ao redor do planeta. Com uma banda enxuta e passando dos 2 mil concertos, Dylan já revisitou boa parte de seu repertório (ainda que por várias vezes tenha tornado certas canções irreconhecíveis).
Os anos 80 que pareciam perdidos terminaram bem, com os Travelling Willburys (uma banda "de mentira" formada por ele, Tom Petty, George Harrison, Jeff Lynne do ELO e Roy Orbinson) e seu disco mais elogiado na década: "Oh Mercy", produzido por Daniel Lanois graças a uma sugestão de Bono Vox.
Eu vejo o futuro repetir o passado
Em janeiro de 1990, Bob Dylan finalmente tocou no Brasil (voltaria já no ano seguinte). Pouco depois saía um box com os três primeiros volumes das "Bootleg series" (já saíram outros quatro desde então) com registros inéditos e raros de todas as suas fases.
Os 30 anos de carreira foram comemorados em 92 com um grande show, participações especias e Sinéad O'Connor levando vaia depois de ter rasgado a foto do Papa na TV. Ainda assim o futuro continuava nebuloso.
Em 1997 gravando mais um disco, Dylan foi internado às pressas com pericardite e por pouco não morreu. Passado o susto, "Time out of Mind" foi lançado. Esse era um álbum denso e triste, e também o seu melhor trabalho em muito tempo. Logo ele voltava a tocar e em 1998 abriu os shows brasileiros e argentinos dos Rolling Stones.
Tempo Modernos
"Love and Theft" de 2001 foi seu primeiro disco no novo século. Em 2005, saiu o primeiro volume (dos três prometidos) com as suas crônicas de vida. O ano terminou com o lançamento do aguardado "No Direction Home", documentário com mais de quatro horas de Martin Scorsese.
"Modern Times" de 2006 o levou ao primeiro lugar nos EUA pela primeira vez em 25 anos e ainda ganhou um programa radiofônico. Recentemente tivemos ainda uma coletânea e a cine-biografia "I'm Not There" com Richard Gere, Heath Ledger e Cate Blanchett entre outros no papel principal.
Pode-se dizer que não existe um, mas vários Dylans. Não à toa a cine-biografia "Eu não estou Lá", conta com vários atores fazendo o papel principal. No texto a seguir você conhece um pouco mais cada um deles.
Uma gaitinha e um violão
Robert Allen Zimmerman nasceu em 1941, e foi criado na pequena Hibbing em Minnesota. Após muito vagar, chegou em Nova York 20 anos depois com um repertório de canções tradicionais e uma ambição gigantesca. Com o rock em baixa, a nova onda estava na música folk.
Woody Guthrie, e seu violão com a inscrição "essa máquina mata fascistas" era o heroi maior de todo esse pessoal, vide "" a primeira composição própria gravada em disco por Bob.
O cantor lançou seu primeiro disco em 1962. Com um repertório basicamente de covers ele não vendeu quase nada, apesar das expectativas. Tudo mudou no ano seguinte com "The Freewheelin' Bob Dylan". Com "A Hard Rain's A-Gonna Fall" e "Blowin' In The Wind" esse foi o primeiro de uma série de álbuns clássicos que o tornariam um dos maiores compositores dos nossos tempos.
Enquanto minha guitarra chora
Em 1964, "Another side" mostrou que Bob Dylan não era só um cantor de protesto. Nesse ano ele também conheceu os The Beatles em Nova York e voltou a sentir prazer com o rock 'n' roll (já os Beatles conheceram a maconha e também nunca mais foram os mesmos).
Na Inglaterra, conhece a realeza pop local, esnoba Donovan (o "Bob Dylan inglês") e compra umaguitarra (está tudo em "Don't Look Back", o filme).
Tudo isso se refletiu em "Bringing It All Back Home" de 1965. No lado A, Dylan deixou a gaitinha e o violão de lado para tocar com uma banda completa. Já o lado B, acústico, mostrava um compositor que estava anos-luz à frente de quase toda a concorrência.
Menos de cinco meses depois saiu "Highway 61 Revisited", que abria com "Like A Rolling Stone". O impacto dessa música não diminui com o tempo, tanto que ela continua a ser eleita como a maior canção da era do rock.
Provocativo, Dylan resolveu mostrar seu novo som para no Festival de Newport, reduto dos fãs mais xiitas e conservadores da música folk. Saiu do palco coberto de vaias e acusado de se vender ao rock para ganhar mais dinheiro.
Na Inglaterra, acompanhado dos músicos que virariam o ótimo The Band, Dylan também foi vaiado sempre que partia para a eletricidade. Culminou com o grito de "JUDAS" berrado por um fã mais afoito. Em 1966 gravou outro disco fundamental: "Blonde on Blonde", o primeiro álbum duplo do rock.
Em 1967 Dylan estava pra ter um ataque. Cansado do assédio de fãs, colegas e imprensa mais o uso constante de anfetaminas, ele estava para explodir. Dylan então "sumiu". Foram meses sem nenhum sinal até surgirem as notícias de que ele sofrera um sério acidente e estava à beira da morte.
Eu quero uma casa no campo
As informações que circulavam eram desencontradas. O que se sabia era apenas que um acidente de moto havia ocorrido. A verdadeira extensão dele ainda hoje gera discussão, mas a versão mais aceita é a de que tudo não passou de um susto e que ele teve uma boa desculpa pra colocar a cabeça em ordem.
Para matar o tempo ele foi para uma cidadezinha ainda desconhecida chamada Woodstock. Com The Band, passou meses ali tocando por pura diversão. No repertório valia de tudo: clássicos do soul e do rock dos anos 50, country, blues e muitas músicas tradicionais. Dylan também ia testando suas novas canções. Essas gravações deveriam servir de base para que outros cantores as gravassem. Só que algumas dessas canções chegaram às mãos de alguns fãs que resolveram as lançar por conta própria. Nascia assim o disco pirata.
Quando voltou ao estúdio, Dylan não usou nem The Band (que seguiria caminho próprio e vitorioso) e nem aquelas músicas. Mas John Wesley Harding tinha o mesmo clima e foi uma surpresa total. A juventude toda nas ruas e um dos maiores porta-vozes da contra-cultura ousava lançar um disco de country (ou "o som do inimigo")? Nos anos seguintes Beatles, Rolling Stones e os Beach Boys também lançaram discos mais rústicos, deixando de lado as experimentações de estúdio.
Volte para o seu lugar
A década passava e Dylan não tinha mais a relevância de antes. Meio paranoico com a constante invasão de privacidade (um fã notório vasculhou seu lixo em busca de pistas) e vendo seu casamento descer ladeira abaixo o momento pedia uma sacudida. Ela viria na forma de uma turnê grandiosa (sua primeira desde 66) ao lado de The Band, que rendeu uma bolada e os aplausos negados oito anos antes. Em 1975, estava claro que seu casamento estava nas últimas. Fazendo da dor combustível para arte Dylan lançou "Blood on the Tracks", para muitos o seu melhor álbum. A maré boa seguiu com "Desire" e uma turnê feita no melhor estilo "circo itinerante", com vários amigos e artistas convidados dividindo o palco com a estrela principal.
Jesus Cristo eu estou Aqui
Em 1979 ele fez a sua metamorfose mais polêmica: nascido e criado no judaísmo, Bob se torna cristão e decide usar seus discos para pregar a palavra do Senhor. A princípio nada de errado, já que "Slow Train Coming" foi disco de platina e lhe deu seu primeiro Grammy. Já nos shows nem todos curtiram a ideia de ver uma apresentação só com músicas de louvação e nenhum sucesso antigo. Os outros discos dessa fase estão entre os mais fracos de sua obra.
Eu ainda não encontrei o que estou procurando
Em 1983 ele deu adeus ao cristianismo, pelo menos em suas letras, e chamou Mark Knofler dos Dire Straits para produzi-lo. "Infidels" poderia ser um disco redentor, mas ficou no meio do caminho, muito por conta da teimosia do compositor em deixar de fora do álbum a espetacular "Blind Willie McTell" (que só seria lançada quase dez anos depois).
Os anos passavam e Dylan continuava perdido. Seus discos vendiam menos, os fãs diminuíam e seus shows não traziam satisfação pessoal nenhuma. Foi nesse clima que em 1988 teve início o que viria a ser conhecida como a "Never Ending Tour", que se prolonga até os dias de hoje, encantando (e por vezes revoltando) fãs ao redor do planeta. Com uma banda enxuta e passando dos 2 mil concertos, Dylan já revisitou boa parte de seu repertório (ainda que por várias vezes tenha tornado certas canções irreconhecíveis).
Os anos 80 que pareciam perdidos terminaram bem, com os Travelling Willburys (uma banda "de mentira" formada por ele, Tom Petty, George Harrison, Jeff Lynne do ELO e Roy Orbinson) e seu disco mais elogiado na década: "Oh Mercy", produzido por Daniel Lanois graças a uma sugestão de Bono Vox.
Eu vejo o futuro repetir o passado
Em janeiro de 1990, Bob Dylan finalmente tocou no Brasil (voltaria já no ano seguinte). Pouco depois saía um box com os três primeiros volumes das "Bootleg series" (já saíram outros quatro desde então) com registros inéditos e raros de todas as suas fases.
Os 30 anos de carreira foram comemorados em 92 com um grande show, participações especias e Sinéad O'Connor levando vaia depois de ter rasgado a foto do Papa na TV. Ainda assim o futuro continuava nebuloso.
Em 1997 gravando mais um disco, Dylan foi internado às pressas com pericardite e por pouco não morreu. Passado o susto, "Time out of Mind" foi lançado. Esse era um álbum denso e triste, e também o seu melhor trabalho em muito tempo. Logo ele voltava a tocar e em 1998 abriu os shows brasileiros e argentinos dos Rolling Stones.
Tempo Modernos
"Love and Theft" de 2001 foi seu primeiro disco no novo século. Em 2005, saiu o primeiro volume (dos três prometidos) com as suas crônicas de vida. O ano terminou com o lançamento do aguardado "No Direction Home", documentário com mais de quatro horas de Martin Scorsese.
"Modern Times" de 2006 o levou ao primeiro lugar nos EUA pela primeira vez em 25 anos e ainda ganhou um programa radiofônico. Recentemente tivemos ainda uma coletânea e a cine-biografia "I'm Not There" com Richard Gere, Heath Ledger e Cate Blanchett entre outros no papel principal.