Legião Urbana - Fábrica" - 1986
Legião Urbana letras
Renato Russo cresceu ouvindo Bob Dylan, John Lennon e vários outros heróis da música contestadora.

Na metade dos anos 70, ele também caiu de cabeça no punk rock e, no final das contas, essas duas influências formam basicamente a espinha dorsal do som criado pela Legião Urbana.

Musicalmente, "Fábrica" não é nem de longe uma faixa agressiva. Pelo contrário, ela tem uma das melodias mais pop de toda a carreira da banda, e o grupo chegou a abrir alguns shows com ela. Já a letra é fácilmente umas das mais punks já escritas por Renato, onde ele até abre mão de boa parte do seu tradicional lirismo para ser o mais direto possível em sua crítica à forma como a maioria dos nossos trabalhadores eram/são tratados no país.






Billy Bragg - "There Is Power In A Union" - 1986
Billy Bragg letras
A Inglaterra dos anos 80 pedia pelo surgimento de alguém como Billy Bragg. Um artista fortemente politizado, com visões claramente esquerdistas e que naturalmente não achava nada bom os rumos que Margareth Thatcher dava ao país. Para se fazer ouvir, Bragg simplesmente promoveu uma volta ao passado, revivendo a figura do trovador que, armado apenas de um violão - guitarra no seu caso - e de sua revolta, passava sua mensagem para todos que quisessem, ou não, escutá-las.

Felizmente, Bragg tinha e tem talento para não tornar sua obra um simples amontoado de clichês. Ele também não se limitou a falar única e exclusivamente sobre política e é por isso que ainda hoje seus álbuns gravados nos anos 80 podem ser ouvidos quase trinta anos depois sem que eles soem como mera curiosidade de período.

"There Is Power In A Union", gravada por ele em 1986, é uma adaptação de um antigo hino trabalhista composto em 1913. A mensagem ainda era a mesma: a de que trabalhadores unidos jamais serão vencidos.





Bruce Springsteen "Factory" - 1978
Bruce Springsteen
Em 1978, Bruce Springsteen lançou "Darkness On The Edge Of Town". Bem mais pessimista que "Born To Run", o álbum de 1975 que o tornou famoso, aqui ele se torna mais politizado e passa a dar voz às figuras esquecidas da América: os trabalhadores que passam horas e horas dentro das fábricas, os homens que precisam suar para comprar um anel de noivado para suas amadas e todos aqueles que dão o sangue diariamente para ver o tal sonho americano chegando para todos, mas nunca para eles.

A nem tão conhecida "Factory" mostra bem essa faceta de Bruce Springsteen.

Com sua letra direta e cortante ("a fábrica lhe tira a audição/a fábrica lhe dá vida") e a triste melodia que a embala, ela está entre os momentos mais inspirados do cantor e compositor.





John Lennon "Working Class Hero" - 1970
John Lennon
Tão importante quanto "Imagine" na criação da persona mítica de John Lennon, "Working Class Hero", escrita em 1970, traz o ex-Beatle em sua faceta mais raivosa.

Emulando o Bob Dylan dos primeiros discos, ao acompanhar-se apenas de um violão, Lennon canta a triste sina de todos aqueles que, desde pequenos, vão vendo seus sonhos serem esmagados um a um, enquanto o triste refrão "Um herói da classe trabalhadora é algo para ser" vai sendo seguidamente entoado.

A música se tornou um de seus maiores clássicos e foi regravada pelos mais variados artistas - Green Day, Marianne Faithfull, Manic Street Preachers, Ozzy Osbourne, Richie Havens e Marilyn Manson, são apenas alguns deles.





Chico Buarque "Construção - 1971
DivulgaçãoChico Buarque letras
Chico Buarque aqui contrariou a regra não escrita de que toda música de protesto precisa ser escrita da forma mais simples possível para que assim sua mensagem seja mais bem entendida por todos.

"Construção" foi toda escrita com versos terminados em proparoxítonas que, a cada estrofe, mudam de lugar dando-lhe um novo sentido, sendo facilmente uma das letras mais complexas já escritas no Brasil.

Mesmo assim, ela se tornou bastante popular. Sua mensagem foi compreendida por todos e até gerou uma série de músicas semelhantes (como a também bela "Cachaça Mecânica de Erasmo Carlos)

A canção é uma crítica contundente à forma de tratamento que a sociedade dá aos chamados trabalhadores "invisíveis", aqueles que passam o dia trabalhando em andaimes sem a menor segurança. O compositor mostra a forma com que eles são tratados como simples peças de fácil reposição, daquelas que ninguém vê problema quando se quebram (não à toa o verso chave da canção é "morreu na contramão atrapalhando o tráfego").

"Construção" poderia então ser apenas mais uma bem feita música de protesto, como tantas outras que vieram antes e depois dela. Poderia, se não fosse a forte melodia criada por Chico, e principalmente o apocalíptico arranjo de Rogério Duprat, que elevou a canção ao nível de obra-prima das obras-primas. Não por acaso, a canção foi eleita a melhor de toda a história da música brasileira em 2009 pela edição nacional da revista Rolling Stone.