Vagalume
Os primeiros meses do ano servem geralmente para que as gravadoras apostem em novos nomes também para lançar discos de artistas que têm seu público, vendem razoavelmente bem e são queridos pela crítica mas que não fazem álbuns estilo "blockbuster".

É por isso que esse especial de fevereiro não tem nenhuma mega-estrela do mundo pop. Isso não significa que não haja qualidade aqui. Muito pelo contrário, boa parte desses discos podem, e devem, agradar aos mais diversos públicos enquanto que os artistas que trabalham dentro de nichos, seja heavy, indie ou folk, com certeza fizeram álbuns mais do que decentes ao menos para os fãs desses estilos.

Josh Groban - "All That Echoes"

Josh Groban
Josh Groban All That Echoes
Com mais de 21 milhões de discos vendidos em seus mais de dez anos de carreira o americano Josh Groban pode ser considerado uma das maiores estrelas da música contemporânea. Groban escolheu para si um caminho sempre complicado - aquele que fica entre o erudito e o popular - uma área que sempre gera críticas dos especialistas em música clássica, especialmente em casos de artistas extremamente bem sucedidos, como é o caso de Groban.

Assim, não é bom nem imaginar o que eles irão falar desse disco que foi produzido por Rob Cavallo que fez seu nome pilotando os discos do Green Day. Não que isso seja novidade - o disco anterior do cantor foi produzido por Rick Rubin (que já trabalhou até com o Slayer).

Na verdade Groban está mais para um cantor pop com influência clássica do que qualquer outra coisa. Basta ver o primeiro single desse álbum. "Josh Groban" faz uso de orquestra e de estrutura de uma peça clássica mas no fundo é uma canção pop grandiosa aos moldes das feitas pelo, digamos, Coldplay.

Groban também merece destaque por ter vários créditos de coautor das canções do álbum e pelo excelente bom gosto na hora de escolher suas covers - aqui ele vai de Stevie Wonder, Jimmy Webb e até The Frames.

Para completar ainda termos participações especiais de
Laura Pausini e do lendário Arturo Sandoval e "All That Echoes" se revela um trabalho que não só irá agradar os fãs como também fazer com que os detratores deixem um pouco de lado a artilharia pesada pra cima dele.

Emeli Sandé - "Live At The Royal Albert Hall"

Emeli Sandé
Emeli Sandé Live At The Royal Albert Hall
A jovem cantora que se tornou sensação no Reino Unido lança seu primeiro disco ao vivo. Se no resto do planeta Emeli Sandé ainda é quase desconhecida, na Inglaterra ela já apresenta números que a credenciam para seguir os passos multiplatinados de Adele e Amy Winehouse.

"Live at the Albert Hall" traz a cantora desfilando o repertório de "Our Version of Events", seu disco de estreia, na famosa casa de espetáculos londrina. E mostra principalmente que Emeli tem não só gogó privilegiado como também ótima presença de palco (o disco sai em pacote cd/dvd), o que com certeza contribui para seu sucesso.

Além dos hits, o disco também traz algumas faixas inéditas que estarão em seu segundo álbum de estúdio e uma versão de "I Wish I Knew How It Would Feel To Be Free" de Nina Simone influência confessa dessa cantora que ainda vai dar muito o que falar.

Foals - "Holy Fire"

Foals
Foals Holy Fire
Deixando um pouco para trás o som mais experimental de seu álbum de estreia o Foals parece disposto a querer abraçar as grandes multidões, fazendo um disco expansivo, com músicas que beiram o épico e talhadas para serem executadas em grandes espaços.

Não a toa o quinteto chamou Flood e Alan Moulder para produzir o trabalho, afinal a dupla tem experiência nesse tipo de som - Flood já produziu U2 e o Depeche Mode enquanto Moulder já trabalhou com os Foo Fighters e o The Killers.

A Inglaterra já está se rendendo. Por lá esse "Holy Fire" estreou no segundo lugar da parada e a tendência é que o disco siga vendendo bastante pelos próximos meses. Os críticos também aprovaram. Agora é ver se o resto do mundo também vai embarcar na onda.

Vale lembrar que o grupo se apresentará este mês no Brasil dentro do Lollapalooza. Se você estiver por lá, não deixe de conferi-los porque o grupo tem fama de ser bom de palco.

Atoms For Peace - "AMOK"

Atoms For Peace
Atoms For Peace Amok
A origem do Atoms For Peace remonta a 2009 quando Thom Yorke, o vocalista do Radiohead chamou alguns músicos para acompanhá-lo em alguns shows para promover seu disco solo "The Eraser". Claro que os amigos do cantor não eram simples músicos, mas sim gente como Flea do Red Hot Chilli Peppers, o mega produtor Nigel Goldrich, o conceituado músico de estúdio Joey Waronker e até Mauro Refosco, um percussionista brasileiro radicado em Nova York e trazido ao projeto pelas mãos de Flea.

O grupo fez alguns poucos shows e logo debandou, até por conta da agenda carregada de seus integrantes. O "problema" é que a liga entre eles foi boa demais para deixar se perder assim. O quinteto então voltou a se reunir, mas agora como uma banda de verdade, ainda que Thom continue sendo a figura propulsora do projeto.

"AMOK" é, talvez sem muita surpresa, um álbum que segue a linha dos trabalhos recentes do Radiohead.

Ou seja, ele é um disco estranho, com programações eletrônicas tortuosas e melodias que fogem do convencional. Por outro lado o trabalho tem um lado pop que vai se descobrindo após algumas audições. Em resumo "AMOK" pode até ser um disco feito de forma descontraída, mas felizmente ele passa longe da indulgência tão comum a esse tipo de projeto.

Nick Cave And The Bad Seeds - "Push The Sky Away"

Nick Cave & The Bad Seeds
Nick Cave & The Bad Seeds Push the Sky Away
E quem diria que após mais de três décadas de carreira o outrora "soturno e maldito" Nick Cave estaria não só na ativa mas com seu perfil tão em alta. Além de se dedicar ao cinema seja criando trilhas e/ou roteiros (como o do bom "Os Infratores" do ano passado) Cave agora também vê seus discos chegarem ao topo da parada britânica, como foi o caso deste seu décimo quinto trabalho gravado com os Bad Seeds.

"Push The Sky Away" tem mais a ver com o clima triste e melancólico de álbuns como "The Boatman's Call" ou "The Good Son" do que com o lado mais selvagem e rude do cantor que pelo visto agora ficará reservado para o Grinderman - a banda paralela que ele disse que tinha acabado mas já anunciou seu retorno.

"Psuh the Sky Way" tem pouco mais de 40 minutos e apenas nove canções, mas eles valem mais que muitos discos com o dobro dessa duração.

O trabalho mostra que os Bad Seeds continuam como uma das melhores bandas de acompanhamento de toda história do rock e Cave continua não só senhor absoluto na hora de criar baladas de grande classe como também um dos melhores letristas que se tem por aí. Afinal quem mais conseguiria citar Hannah Montana e o bluesman Robert Johnson em uma mesma canção como ele faz em "Higgs Boson Blues"?

Johnny Marr - "The Messenger"

Johnny Marr
Johnny Marr The Messenger
Demorou, mas finalmente o lendário ex-guitarrista dos Smiths lançou um disco apenas com o seu nome na capa.

Não que o músico tenha passado os últimos 25 anos parado. Até porque nesse tempo ele tocou com um monte de gente, fez parte do Electronic com Bernard Summer do New Order e até, caso raro, se tornou membro temporário de bandas novas e já estabilizadas como em seus períodos como integrante do Modest Mouse e dos Cribs.

Mas parece que agora ele se cansou de ser o eterno acompanhante e resolveu tomar o centro das atenções. A boa notícia é que Marr não decepciona como front man. "The Messenger" óbvio não é um disco revolucionário, mas traz o músico bastante inspirado em uma série de canções de inegável saber indie pop oitentista.

"The Messenger" é um disco simpático, feito de coração e como bem disse um crítico traz o guitarrista dos Smiths ,tocando como o ex-guitarrista dos Smiths e este é um dos melhores sons que se pode querer.

É claro que é difícil não ouvir o disco imaginando como elas soariam com as melodias, letras e voz de Morrissey, seu antigo parceiro de banda. Mas de um modo geral Marr consegue se garantir por conta própria.

My Bloody Valentine - "m b v"

My Bloody Valentine
My Bloody Valentine m b v
Esse aqui é para aqueles que não acreditam em milagres. Afinal depois de mais de vinte anos, ninguém em sã consciência realmente acreditava que o guitarrista e líder da banda Kevin Shields iria lançar outro disco do My Bloody Valentine. Mesmo quando avisou em janeiro que o disco novo seria lançado dali alguns dias ninguém botou muita fé. Mas não é que o tal "m b v" realmente saiu?

Claro que em se tratando de Kevin Shields as coisas não foram tão diretas. O álbum foi disponibilizado no site da banda - o que causou a queda do mesmo - e apenas em MP3, um formato longe do ideal no caso deles onde a compressão sonora dos arquivos digitais realmente prejudicam o som.

A pergunta que mais se fez é se a espera por esse "Chinese Democracy" indie valeu a pena.

Bom, primeiro é preciso saber que "Loveless", o último disco da banda de 1991, causou uma pequena revolução quando foi lançado - há até quem diga que o álbum com suas melodias etéreas e paredes e mais paredes de guitarras foi o último álbum realmente original a ser feito em nome do rock.

Para esses talvez o disco decepcione um pouco, já que ele soa como uma continuação natural do disco feito nos anos 90. Quando se sabe que o álbum demorou tanto a sair porque Shields passou esse tempo todo gravando e regravando as canções talvez seja possível entender a decepção desses fãs.

Ao mesmo tempo "m b v" prova que o som da banda realmente é único e absolutamente pessoal. Ou seja, seria muito difícil que a essa altura eles conseguissem fazer algo de tamanho impacto.

Quem não os conhece recomenda-se ouvi-los com calma e atenção. A música do MBV não é exatamente de assimilação imediata e, dada a presença constante de ruídos e vocais sussurrados, pode até mesmo deixar as pessoas ao seu redor meio enervadas. Mas vale a pena perder alguns minutos de seu dia na companhia do álbum (e também dos outros trabalhos da banda). Eles ainda soam bem diferente de quase tudo que se ouve/ouviu por aí.

Eels - "Wonderful, Glorious"

Eels
Eels Wonderful, Glorious
Mark Everett ou simplesmente "E" é o compositor cult por natureza. Ele pode até não vender muitos discos de sua banda, os Eels, mas ele tem uma base de fãs boa e fiel o bastante para garantir-lhe uma vida tranquila. Tranquila profissionalmente, já que ele é conhecido por suas canções bastante pessoais que variam entre o triste, o resignado e o raivoso.

Em seu décimo lançamento Everett mostra que sua verve ainda segue afiada e faz mais um disco que desde já se candidata a um dos melhores deste ano.

O álbum é especialmente recomendado para quem gosta de rock alternativo à moda antiga e que busca algo além de mero entretenimento quando vai ouvir um disco. Pra quem já conhece e gosta, vale lembrar que o cd também saiu em uma edição de luxo com treze faixas a mais entre inéditas de estúdio e músicas ao vivo.

Jim James - "Regions of Light and Sound of God"

Jim James
Jim James Regions of Light and Sound of God
Jim James é, não muito, conhecido como o líder do My Morning Jacket, uma das melhores bandas de rock americano surgidas nos últimos anos. Nesse seu primeiro disco solo não dá pra dizer que ele se afaste muito do som de seu grupo principal, ainda que ele seja diferente o bastante para não soar como uma "versão de pobre" do MMJ.

Em "Regions..." James continua fã do rock americano de raíz das décadas de 60 e 70, mas o som aqui é mais simples e menos expansivo que o praticado pela sua banda. A voz em falsete que remete a Neil Young e mesmo Wayne Coyne do Flaming Lips continua lá, mas dessa vez sem tanto uso de efeitos de eco, o que para alguns ouvintes pode ser uma vantagem.

Bastante elogiado pela crítica estrangeira, esse é daqueles discos simpáticos e que se ouve de cabo a rabo sem pular nenhuma faixa. Para quem não conhece vale escutar e caso curta depois ir atrás dos álbuns do My Morning Jacket, todos eles no mínimo dignos de atenção.

Matthew E. White - "Big Inner"

Matthew E. White
Matthew E. White Big Inner
Nunca ouviu falar em Matthew E. White? Calma que você não está sozinho. Ele ainda é um ilustre desconhecido, ainda que seja bem possível que isso mude rapidamente. Esse americano descendente de filipinos fez um dos melhores discos do ano passado - exatamente esse "Big Inner" que agora está ganhando distribuição internacional.

O som de Matthew é calmo e sua voz raramente vai além de um sussurro, mas o disco está longe de causar bocejos. Isso porque ele é bastante talentoso.

Em sua música há muita influência de soul music, do som de bandas americanas do fim dos anos 60 e até de Jorge Ben - tanto que o nosso "Babulina" ganhou crédito de coautor em "Brazos" pelo uso de um trecho de "Brother" em sua composição.

White mais do que um músico é um empreendedor. Como dono da "Spacebomb Records" que funciona como selo e estúdio, ele ambiciona fazer de lá um lugar onde artistas possam gravar fazendo uso da sua produção e da "banda da casa" e fazerem muito sucesso - como era comum nos anos 60.

Esse disco nasceu na verdade como uma espécie de comercial para o seu local de trabalho, de forma a mostrar o que se pode conseguir ao gravar por lá. O que talvez ele não esperasse é que ele fosse chamar tanta atenção. Agora é ver como ele vai se virar com esse "problema".

Buckcherry - "Confessions"

Buckcherry
Buckcherry Confessions
A banda de Josh Todd chega ao seu sexto disco fazendo o bom hard rock que sempre os caracterizou. Longe de quererem revolucionar o mundo do rock ou mesmo de esperar voltar à época de discos de grande sucesso como "15", o grupo aqui parece apena querer se divertir e entregar um disco que não vá decepcionar nem eles e nem seus fãs.

"Confessions" traz uma série de músicas fortes e mostra a banda mais amadurecida, preocupada em criar boas melodias e não só em engatar um riff atrás do outro. O trabalho é daqueles que provavelmente ficará restrito ao fã clube da banda e gente que curte hard rock à moda antiga, mas pelo menos esses não terão do que reclamar.

Bullet For My Valentine - "Temper Temper"

Bullet For My Valentine
Bullet For My Valentine Temper Temper
Este é o quarto disco desta banda pesada do País de Gales. O grupo continua fazendo sua mistura de trash e metal de tintura clássica com ganchos pop e produção moderna.

A fórmula não agrada muito aos críticos - a maioria deles não foi lá muito benevolente com o álbum - mas costuma agradar o público da banda que é bastante numeroso, inclusive aqui no Brasil. Se você faz parte desse grupo provavelmente não irá se decepcionar com este "Temper Temper", um disco pesado, bem produzido e feito com muita raça.

Stratovarius - "Nemesis"

Stratovarius
Stratovarius Nemesis
Com quase trinta anos de carreira o Stratovarius goza do status de lenda viva do power metal, afinal esses finlandeses foram um dos criadores desta variante do heavy metal bastante apreciada por muitos fãs de som pesado - os brasileiros em particular.

"Nemesis" é o décimo-quarto álbum dos finlandeses e traz Timo Kotipelto e Matias Kupiainen em grande forma em canções fortes, complexas e com o tradicional clima épico que tanto os caracteriza. A banda até cogitou gravar o disco ao lado de uma orquestra, mas a ideia acabou abandonada. A escolha acaba se mostrando acertada, já que dessa forma mais simples as canções acabam ganhando muito mais força, peso e ataque, algo que deve beneficiá-las ainda mais quando chegar o momento delas serem apresentadas ao vivo.