Maio se mostrou um ótimo mês para as mulheres. Foram elas as responsáveis por boa parte dos melhores lançamentos dos últimos 31 dias. Do som moderno de Santigold ao country de Carrie Underwood, isso e mais o som inclassificável de Regina Spektor, as voltas de Garbage e The Gossip e ainda de duas estrelas brasileiras, uma mais novata, Paula Fernandes, e outra eterna, a nossa rainha Rita Lee.
Mas o mês não foi só feminino como os discos de Slash, B.O.B., John Mayer e Damon Albarn confirmam.

Adam Lambert - Trespassing

Adam Lambert
Adam Lambert continua contrariando a regra de que muitas vezes ficar famoso através de um reality show é mais uma maldição que uma benção. Desde que ele notoriamente perdeu a oitava edição do American Idol, sua estrela só cresceu e hoje ele pode se dar ao luxo de contar com lendas vivas como o lendário Nile Rodgers (do Chic) fazendo participações em suas músicas e de ser convidado para assumir os vocais que um dia foram de Freddie Mercury no Queen.

"Trespassing" estreou no topo da parada americana e ainda está pontuando bem. Enquanto isso o mais novo disco de Kris Allen - que venceu a tal edição do Idol - não conseguiu ir além da 26ª posição na semana de seu lançamento

John Mayer - Born and Raised

John Mayer
John Mayer é aquele artista quase em extinção. Bonito, talentoso, bom cantor, instrumentista e compositor e que ainda consegue vender muito e conta com o apoio da crítica. "Born and Raised" que estreou direto no topo da parada mostra que a maré deve continuar boa para Mayer por mais um tempo e merecidamente.
O disco é o primeiro do cantor a sair depois da polêmica entrevista dada para a "Playboy" onde ele falou, digamos, um pouco mais do que devia a respeito de alguns antigos casos amorosos.

Talvez por isso "Born and Raised" soecontido, um tanto melancólico e com óbvios acenos ao som que dominou as rádios americanas no início dos anos 70. Não a toa David Crosby e Graham Nash estão entre os convidados. Alguns críticos entenderam que o álbum é um grande pedido de desculpas para todos que possam de alguma forma ter se ofendido com as suas declarações. Será?

B.o.B. - Strange Clouds

B.o.B
"Strange Clouds" comprova que B.O.B. é de fato uma das grandes forças do rap atual. Não a toa o álbum ficou no primeiro posto da parada de rap da Billboard.

O trabalho chega repleto de participações que vão do previsível (Lil Wayne, Chris Brown, Nicki Minaj...) ao inusitado (Taylor Swift e até o ator Morgan Freeman em Bombs Away).

Se rap e hip hop são a sua praia pode mergulhar de cabeça em "Strange Clouds" que a água está mais do que limpa.

Slash - Apocalyptic Love

Slash
Com a volta da formação clássica do Guns 'n Roses cada vez mais improvável e Axl Rose não dando o menor sinal de que pretenda lançar material novo nos próximos anos, cabe cada vez mais ao guitarrista Slash a função de saciar o apetite dos "gunners" por material novo. E nesse quesito ele ainda é alguém em que se pode confiar.

"Apocalyptic Love" não vai abalar as estruturas e nem se pretende a isso. É só um disco de hard-rock à moda antiga, com riffs fortes e boas melodias executados com tesão e conhecimento de causa por grandes músicos.

O disco também abre mão do truque do trabalho anterior de ter diversos vocalistas. Agora a voz que ouve-se do começo ao fim é a de Myles Kennedy o que garante mais unidade ao trabalho.

Carrie Underwood - Blown Away

Carrie Underwood
Outra vencedora do American Idol que continua se dando bem no mercado é Carrie Underwood que acaba de lançar seu quarto álbum, "Blown Away", que estreou no topo da parada americana.

Foi a terceira vez que ela conseguiu tal feito o que fez com que ela se tornasse uma das três cantoras a conseguir emplacar três discos de música country no primeiro lugar da Billboard.

"Blown Away" é bastante recomendado para que gosta de música country com forte apelo pop. Mas mesmo os mais puristas provavelmente conseguirão encontrar algo aqui que seja do seu agrado.

Keane - Strangeland

Keane
Em seu quarto álbum o Keane segue seu caminho de forma digna e simpática. O grupo já deve ter percebido que não irá mais ser a mega banda de outrora, mas que isso não é razão para se perder a cabeça.

"Strangeland" é um disco mais pra cima que os álbuns anteriores e certamente irá agradar quem já era fã do grupo. Por outro lado ele não parece ter fôlego para atrair novos admiradores ou mudar a opinião de quem não é fã.

Verdade seja dita, depois de quase uma década de carreira discográfica essa já não parece mais ser uma grande preocupação para Tim Rice-Oxley, Tom Chaplin e companhia, até porque eles contam com uma base boa e fiel de fãs fiéis que colocaram esse disco no topo da parada inglesa e no top 20 americano.

Glee - Glee: The Music, The Graduation Album

Glee
Chegou a hora dos alunos da William McKinley High School se formarem. Como esperado esse disco tem um clima que se divide entre o melancólico, o bombástico e o bem-humorado com canções que têm tudo a ver com o clima de despedida.

Quem comprar esse disco poderá ouvir as versões feitas pelos atores de Glee para hits de Bruce Springsteen, Queen, Green Day, Lady Gaga e vários outros.

Aqui não há meio termo. Quem curte o programa já deve ter ouvido o CD e se emocionado. Quem não gosta simplesmente vai ignorar este lançamento e seguir ouvindo as versões originais das músicas que já gostava.

Karmin - Hello (EP)

Karmin
As gravadoras parecem ter acordado para a febre dos "artistas de YouTube". Aquele pessoal desconhecido que faz um vídeo, posta na rede e por vezes tem a sorte de caírem no gosto dos internautas. O Karmin é mais desses casos. O duo postou algumas covers na rede e a versão de Look At Me Now (de Chris Brown) emplacou. O resultado disso foram mais de 150 milhões de page views, aparições em rede nacional na TV e um contrato com a Epic Records.

O EP Hello traz apenas composições originais e mostra que ao contrário de boa parte dos artistas que despontam através do YouTube o Karmin tem condições de conseguir um lugar ao sol também no "mundo real".

Isso se dará especialmente por conta de canções de forte apelo como Brokenhearted que chegou no top 20 americano há quatro meses.

Nick Jonas - Songs from How To Succeed In Business Without Really Trying (EP)

Nick Jonas
Numa tradução mais ou menos livre o musical "Como ser bem sucedido no mundo dos negócios sem fazer esforço" estreou na década de 60 e teve algumas remontagens nas décadas seguintes. A mais recente delas estreou ano passado e teve primeiro Daniel Radcliffe no papel principal. O eterno Harry Potter então passou o bastão para Darren Criss (o Blaine Anderson de Glee) e o papel de Finch por fim terminou nas mãos de Nick Jonas que saiu-se muito bem na função tendo conseguido até ser indicado ao Broadway Beacon Award 2012.

Esse EP traz as cinco músicas que ele canta no espetáculo e obviamente são canções bem distintas das que nos acostumamos a ouvir com ele seja nos Jonas Brothers ou em sua carreira solo. Só por isso Jonas já merece mais alguns pontos de crédito.

Santigold - Master of My Make-Believe

Santigold
Santigold é o que podemos chamar de "artista cool". Ela é daquelas que está sempre ligada nas últimas tendências e tem vários amigos bacanas e influentes sempre dispostos a dar uma forcinha para a colega.

"Master of My Make-Believe" tem uma ficha técnica que impressiona. Uma rápida lida no encarte revela a presença de nomes como Karen O dos Yeah Yeah Yeahs, Diplo, os angolanos do Buraka Som Sistema (será que o kuduro também vai invadir o primeiro mundo?) e Dave Sitek do TV on the Radio.

Todos eles contribuem para fazer do disco um dos mais interessantes da temporada em sua mistura de pop, hip hop, música eletrônica e world music em mais uma prova de que ainda é possível ser popular sem ofender a inteligência do ouvinte.

Tenacious D - Rize Of The Fenix

Tenacious D
A banda do ator e comediante Jack Black continua arrancando risos de qualquer um que conheça um pouquinho a história do heavy metal/hard rock e todos os seus clichês. Quer dizer, assim pensam os fãs do ator e da banda que colocaram o disco no top 10 americano, já que para os críticos o consenso parece ser o de que: A - o grupo está reciclando as mesmas piadas mais uma vez e B - Jack Black parece que está tratando o Tenacious D como uma banda de verdade e não a paródia de um grupo, que é o que em tese eles são.

A verdade provavelmente não está com nenhum dos lados. Se é fato que algumas das piadas não funcionam e algumas músicas parecem compostas no piloto automático, também é preciso estar de muito mau humor para não se divertir com boa parte desse disco, especialmente nas canções que lembram o hard rock mais comercial e farofento dos anos 80.

Best Coast - The Only Place

Best Coast
Uma boa dica pra quem curte indie rock é esse segundo disco da dupla Best Coast que está ganhando edição nacional (pela Deckdisc).

Para quem já tinha gostado do álbum anterior da banda de Bethany Cosentino a boa notícia é que "The Only Place" se mostra um trabalho mais bem acabado demonstrando uma clara evolução no som do grupo.

Isso se deve seguramente à presença do ótimo Jon Brion como produtor do trabalho que soube dar o devido polimento às canções do duo sem abrir mão da simplicidade lo-fi que os popularizou.

Paula Fernandes - Meus Encantos

Paula Fernandes
Talvez a maior vendedora de discos no nosso combalido mercado, Paula Fernandes lança agora "Meus Encantos" seu primeiro álbum de estúdio depois do estouro de "Pássaro de Fogo" de 2009.

O investimento está sendo alto e a intenção parece ser a de querer não só manter mas também o de ampliar o enorme público conquistado pela cantora que apesar dos poucos 27 anos já pode ser considerada uma veterana.

Por isso entraram no álbum não só canções de pegada sertaneja, mas também várias músicas com forte acento pop/rock, além de uma boa dose de baladas.

Para completar o pacote temos as participações de Taylor Swift e Juanes que deverão ajudar a carreira de Paula a ganhar um gás no exterior.

Rosa de Saron - O Agora E O Eterno

Rosa de Saron
Nascida como banda de música católica, o Rosa de Saron é um caso talvez único de grupo que consegue extraoplar esse nicho - ao menos entre os grupos que se dedicam à música pop.

Isso provavelmente se deve ao fato deles não usarem suas letras apenas como veículos de louvor e pregação, mas de deixá-las sempre com uma certa ambiguidade que permitem com que o ouvinte que não é necessariamente religioso também possa se identificar com as mensagens do grupo - que naturalmente dissertam sobre amor, amizade e compreensão.

É interessante notar também que canções mais politizadas estão encontrando espaço no repertório da banda - vide Autor Desconhecido - sinal de que o quarteto acredita que estar preparado para a eternidade é importante, mas que isso não é razão para aceitarmos os problemas e injustiças da vida terrena.

Damon Albarn - Dr. Dee

Damon Albarn
Se no meio dos anos 90 alguém falasse que o vocalista do Blur seria um dos artistas mais inovadores e interessantes do século 21 poucos acreditariam. Não que Damon Albarn não demonstrasse raro talento com a sua banda, mas ele parecia fadado a ser eternamente lembrado como o líder da banda "número 2" do britpop. O tempo foi passando e enquanto o Oasis foi se perdendo em meio a discos repetitivos e as brigas que por fim acabaram com a banda, Albarn expandiu seus horizontes, seja no projeto Gorillaz ou gravando com músicos do Mali.

"Dr. Dee" vai mais além e é simplesmente uma ópera baseada na vida de John Dee figura notória do século 16 graças a seus estudos sobre a alquimia e por tentar unir o mundo da ciência e da magia.

O álbum não é obviamente um disco pop convencional, longe disso - ele tem orquestrações, muitas faixas instrumentais e em muitos momentos os vocais são feitos por cantores de música erudita. E mesmo assim é possível perceber o talento nato para criar melodias de Damon Albarn que cada vez mais se firma como um dos mais instigantes nomes da música contemporânea.

Regina Spektor - What We Saw From The Cheap Seats

Regina Spektor
A excêntrica e simpática cantora de origem russa está de volta após três anos longe dos estúdios. "What We Saw From The Cheap Seats" ("O que vimos dos assentos mais baratos", ótimo título), junta tanto canções inéditas quanto outras que há tempos ela vinha apresentando em seus shows.

Para quem já era fã nem é preciso dizer que ela continua conseguindo a proeza de ser ao mesmo tempo pop e experimental e que sua voz, letras e piano seguem como dos mais originais e instigantes do cenário musical.

Aos que ainda não a conhecem muito bem fica aqui o convite para ouvi-la com atenção O som de Spektor é daqueles que abrem novos horizontes para o ouvinte.

The Gossip - A Joyful Noise

Gossip
A banda da ótima Beth Ditto está de volta. "A Joyful Noise" é o álbum mais pop que eles já lançaram graças à produção de Brian Higgins (Sugababes, Girls Aloud) que liberou de vez o lado fã de Madonna e ABBA que Ditto sempre pareceu ter.

Os fãs mais antigos não curtiram muito essa guinada, assim como boa parte da crítica. Mas houve quem entendesse também "A Joyful Noise" como um passo evolutivo para a banda. O melhor então é ouvir o disco para ver de que lado você está e torcer para que dessa vez eles não cancelem novamente os shows no Brasil - se nada der errado eles tocam por aqui ainda em 2012.

Rita Lee - Reza

Rita Lee
É sempre bom ter a nossa rainha de volta, ainda mais depois de quase dez anos sem um disco de inéditas. Apesar dessa demora o disco não traz nenhuma mudança estilística radical. Estão aqui as letras repletas trocadilhos e de mensagens feministas ("Eles amam as loucas
mas se casam com outras" canta em As Loucas), e os arranjos de Roberto de Carvalho, ou seja, é mais um trabalho de boa música pop feita por quem entende do assunto.

Mas nem tudo é previsibilidade por aqui. Vidinha mesmo com seu senso de humor negro é das coisas mais melancólicas que ela já gravou assim como Divagando onde ela pergunta:
"Quanto tempo ainda tenho no mundo?". Por fim há a instrumental Pow, uma colagem de ruídos que não faria feio em algum disco de alguma banda de noise rock badalada.

Garbage - Not Your Kind of People

Garbage
Hoje em dia o Garbage parece mais uma atividade de lazer para os seus integrantes. Afinal este é o primeiro disco em sete anos do quarteto que fez muito sucesso na segunda metade dos anos 90.

"Not Your Kind Of People" é aquele típico disco feito por quem já não precisa provar mais nada e nem está mais atrás do sucesso de massa. E isso não é algo ruim.

A recepção ao disco tanto por parte do público e crítica acabam comprovando esse fato. Para os jornalistas esse é um típico disco "nota 6". Nas paradas o desempenho também foi razoável com um 13° lugar nos EUA e um nada desprezível quinto lugar nos charts britânicos. Prova de que ainda tem bastante gente interessada na banda da sempre bela Shirley Manson.

Father John Misty - Fear Fun

Father John Misty
O tal Father John Misty é só o codinome de Joshua Tillman que tocava bateria com os Fleet Foxes. Se a sabedoria popular diz que não se deve esperar muito de álbuns de bateristas que deixam suas bandas, Tillman aqui mostra que regras existem para ser quebradas.

"Fear Fun" já desponta como um dos discos mais bonitos do ano com suas melodias simples e doces com forte aceno ao folk, country de raíz e rock dos anos 60 e 70. As letras literárias também merecem destaque (e uma boa razão para se comprar o álbum em formato físico, já que ele traz junto um romance escrito por ele).

"Fear Fun" tem toda a pinta de que será bastante lembrado no final do ano quando os jornais e revistas soltarem suas listas de "melhores de 2012".

Willie Nelson - Heroes

Willie Nelson
Mais um belo trabalho do veteraníssimo ícone da country music que segue a toda mesmo com seus nada desprezíveis 79 anos. "Heroes" é um disco não só digno, como emocionante e também bastante provocador.

Nelson, um dos maiores defensores do uso da maconha nos EUA, deixa bem clara a sua posição em Roll Me Up onde pede para ser "fumado" depois de morto.

Mas nem só de polêmica esse trabalho é composto. Há também espaço para lindas baladas e até para uma cover inusitada, e surpreendentemente boa, para The Scientist, o hit do Coldplay.