1986 o ano em que Rock Brasileiro efetivamente amadureceu. Foi quando tudo aquilo que vinha se desenhando desde o estouro da Blitz em 1982 até o Rock in Rio três anos depois atingiu o seu ápice Uma rápida folheada nas edições da revista especializada em música Bizz da época mostram o movimento constante do cenário. Além dos citados nessa matéria 1986 foi marcado pelo lançamento de trabalhos importantes de Plebe Rude, Capital Inicial, Lobão, Lulu Santos, Camisa de Vênus e Ira!. Isso para não falarmos em lançamentos de bandas de nichos especilaizados (do punk dos Ratos de Porão e Inocentes, Replicantes ao underground paulistano das Mercenárias e Fellini).

RPM
RPM O RPM em visual Sgt. Peppers ou seria Dom Pedro I?
Claro que existem outras razões para que tudo isso tenha acontecido. A maior delas foi o fim do período de ditadura, ainda que a morte de Tancredo Neves tenha deixado um gosto amargo na boca do país. A outra foi a chegada do Plano Cruzado que por alguns (pouquíssimos) meses domou a inflação galopante que consumia os salários da população. Com a maré boa para o rock e o povo com dinheiro no bolso, as gravadoras investiram alto e colheram os resultados. Todas as grandes bandas ganharam discos de ouro ou platina em 1986, com o RPM atingindo a então inimaginável marca de dois milhões de discos vendidos.

Como tudo que é bom dura pouco, os anos seguintes foram de apreensão e insegurança. Mas aqueles 12 meses serviram para mostrar que o rock brasileiro tinha chegado para ficar. Nesse especial compilamos quatro das histórias mais marcantes daquele ano e as ilustramos com clipes da época. Aproveite para conhecer ou matar saudade de um tempo que não volta mais





A banda símbolo de 1986 é mesmo o RPM e seu vocalista Paulo Ricardo. O curioso é que tudo se deu de forma acidental. Em 1985 o grupo lançou o primeiro disco e estreou seu show. Além dos sucessos como Louras Geladas ou Rádio Pirata eles incluiram no setlist uma versão de London, London de Caetano Veloso que as rádios começaram a tocar em versões pirata com grande sucesso. Como os singles não eram mais produzidos no Brasil, a solução encontrada foi lançar Rádio Pirata Ao Vivo para que o público pudesse ter a tal faixa. O resultado foi um mega estouro que tornou a banda onipresente. A saturação foi inevitável. Brigas, drogas e a mudança, para pior, na nossa economia fizeram o resto do serviço e três anos depois o RPM melancolicamente anunciou seu fim.





Em 1986, a Legião Urbana lançou Dois. O disco de estreia da banda já tinha os colocado nas rádios com Será. Mas aqui a tal "Religião Urbana" começou a tomar forma. O público percebe que as letras de Renato Russo fogem do padrão tradicional. Os shows levados com certa descontração e sem a menor preocupação em agradar também eram novidade (basta lembrar que dois dos maiores hits do álbum, Eduardo E Mônica e Índios comumente ficavam de fora). Numa época de apresentações "profissionais" aquilo foi uma surpresa. Confrontos público/grupo não eram raros e a Legião chegou até a abandonar alguns shows no meio. Mas esses eram detalhes. De modo geral o ano de 1986 marcou o fortalecimento da relação de amor entre o Brasil e o grupo. Uma relação que ainda perdura.





Os Titãs estavam numa situação delicada. Se seus dois primeiros discos os colocaram nas rádios e nos programas de auditório, o público de rock via a banda com certa desconfiança, achando que aquele não era um grupo para ser levado a sério. Uma mudança de rumo era absolutamente necessária. E foi assim que com o auxílio do produtor Liminha Cabeça Dinossauro nasceu. O ecletismo que os caracterizava foi mantido - funk, reggae, pop, experimentalismos diversos e até um hardcore se fazem presentes. Mas um som mais pesado, quase punk, também nas letras, deu a tônica do trabalho. Ao público e crítca restou a rendição, também por causa dos shows - a banda provavelmente foi a melhor atração ao vivo do período e é uma pena que um DVD com um show da turnê de 1986 ainda não exista.




A juventude brasileira da década de 80 sentia a necessidade de cortar os vínculos com as gerações anteriores, especialmente com a da tal MPB. Quanto mais "inglesa" e "antenada" fosse uma banda melhor. O resultado disso foi a criação de um grande fosso entre "rock" e "MPB" que só começou a se fechar na década seguinte. Os Paralamas do Sucesso de qualquer forma perceberam que essa divisão não era nada benéfica para a nossa música assim como não valia a pena limar as influências da música negra do nosso pop.
Após passarem anos sendo chamados maldosamente de "Police cover" o grupo lançou Selvagem?. Com muita brasilidade, reggae, dub e world music a banda dobrou os críticos e ganhou ainda mais sucesso de público - que adorou Alagados e Melô do Marinheiro.