Vagalume
Vagalume - 5 de Maio 2009

Pelo terceiro ano consecutivo o Vagalume encara a maratona da Virada Cultural e mostra um pouco do que de melhor rolou no conhecido evento paulistano.

Como já virou tradição, a Virada Cultural voltou a acontecer pelas ruas do Centro de São Paulo, apesar do corte de verbas que limitou alguns palcos e de uma escalação não tão vibrante como a dos anos anteriores. Mas, quem saiu de casa pra se divertir, com certeza conseguiu.

Confira abaixo alguns dos shows e destaques do evento que rolou nos dias 2 e 3 de maio.

Jon Lord e Orquestra Sinfônica de São Paulo

Quem abriu o evento foi o ex-tecladista do Deep Purple, Jon Lord que ao lado da Orquestra
Deep Purple
Deep Purple Jon Lord (Foto: Moacyr Lopes Junior / Folha Imagem)
Sinfônica Municipal de São Paulo, executou o Concerto for Group and Orchestra de 1969 (ou seja, antes do estouro definitivo da banda).

Apesar de ser um trabalho erudito e que pouco ou nada lembra a banda que depois fez "Smoke On The Water", ele tem os seus fãs. Esses com certeza curtiram, especialmente, os momentos em que Lord mandava ver os solos que tanto cativaram os roqueiros dos anos 70.

CPM 22 e MQN

CPM 22
CPM 22 CPM 22 (Foto: Rogério Cassimiro/ UOL)
Mas nem só de romantismo viveu a Virada. O palco rock teve tanto bandas de sucesso como CPM22 ou Matanza quanto artistas cult como o Joelho de Porco, que perdemos porque eles entraram antes da hora marcada.

O que o Vagalume não perdeu foram os goianos do MQN fazendo a sua barulheira e agradando um público que provavelmente não os conhecia.

Tom Zé

No palco nobre do Teatro Municipal Tom Zé executou (a palavra pode ser usada em todos os seus sentidos) seu disco
Tom Zé
Tom Zé Tom Zé (Foto: Marcus Desimoni/ UOL)
de estréia, de 1968.

Como performer Tom é divertido. Entra no palco com um gorro daqueles que bandidos usam pra esconder o rosto e não pára quieto. O porém é que seu show às vezes tem mais falatório e "performances" - como chamar todos os fotógrafos ao palco para que ele os fotografasse - que música.

Ao menos "Parque Industrial" e "Não Buzine Que Eu Estou Paquerando" valeram o esforço das filas, empurra-empurra e o som quase inaudível nas partes superiores do teatro.

Novos Baianos

Mas não tinha jeito, toda a expectativa do evento estava mesmo para o show dos Novos Baianos, que 40 anos após terem estreado em disco estão mais em alta do que nunca, o que motivou mais uma reunião do lendário grupo. Com exceção de Moraes Moreira, todos os
Novos Baianos
Novos Baianos Novos Baianos (Foto: Patricia Asega)
outros estavam lá e cada um brilhou ao seu modo.

Paulinho Boca De Cantor foi o mestre de cerimônias e emocionou em "Dê Um Rolê" (imortalizada por Gal Costa), Baby do Brasil continua cantando extremamente bem e com o cabelo roxo mostrou que o visual Marimoon não é exatamente uma novidade e Pepeu Gomes, o maior guitar hero que o Brasil já viu, misturou chorinho com Jimi Hendrix (a instrumental ?Um recado para Didi? foi talvez o ponto alto de um show com vários deles).

Com um repertório centrado no álbum "Acabou Chorare" (eleito recentemente pela revista Rolling Stone o melhor disco da música brasileira) os Novos Baianos saíram aplaudidos (em show que só acabou porque a produção não deixou continuar) e mostraram que continuam atuais e relevantes, com clima hippongo e tudo.

Agora é esperar pra ver se Moraes resolve embarcar na viagem e se o grupo segue em turnê. Se tiver a chance de assisti-los não perca.

Benito di Paula e Reginaldo Rossi

Ao olhar a programação ficava claro que o palco mais divertido e representativo ia ser o dedicado aos "românticos" (basicamente um eufemismo para brega). Ali a organização soube escolher bem e quase todas as suas vertentes estiveram lá.
Reginaldo Rossi
Reginaldo Rossi Reginaldo Rossi (Foto: Patricia Asega)


Do samba-joia de Benito di Paula e Luiz Ayrão à Jovem Guarda de Wanderley Cardoso, do brega existencial de Odair José ao brega teorizado de Reginaldo Rossi, o palco comprovou que o lugar do "gosto duvidoso" tinha música tão boa ou melhor que a dos palcos do ?bom gosto?.

Benito di Paula com seu piano e banda de apoio relembraram Mulher Brasileira e Charlie Brown. No meio do show ele chamou o filho pro palco que tocou alguns standards do samba como "Mulata Assanhada" e até o maior clássico de seu pai "Retalhos de Cetim", frustrando quem queria ouvi-la com a voz do intérprete original.

Mas quem realmente reinou por ali foi Reginaldo Rossi. Não que ele tenha feito algo de diferente. O repertório, a pose e as piadas continuam as mesmas, assim como a mania de querer provar por A + B que basicamente toda música popular de sucesso é brega .

Para provar isso vale cantar de "Have You Ever Seen The Rain?" do Creedence Clearwater Revival a "Something" dos Beatles ou o hit da discoteca de Gloria Gaynor, "I Will Survive". Mas o cara é muito carismático e tem um poder na plateia que é difícil de explicar, capaz de fazer até moleque barbado pular alambrado para ir abraçá-lo no palco. Os seguranças reagiram e já estavam prontos para contê-lo, mas Reginaldo, sempre populista, pediu para pararem com aquilo e ainda mandou o rapaz subir ao palco dar-lhe um beijo na bochecha.

Beto Barbosa e Odair José

Nesse mesmo palco ainda pudemos conferir um pouco de Beto Barbosa e suas lambadas como "Preta" ou "Merengue" mostrando que se hoje muitos se voltam ao Pará em busca de
Odair José
Odair José Odair José (Foto: Marcus Desimoni/ UOL)
renovações e novos ritmos para a nossa música, Beto já apontava esse caminho há quase 20 anos ainda que o público "sério" não desse muita bola.

Na tarde de domingo quem mandou bem foi Odair José. Com uma banda de apoio que poderia ser confundida com alguma sensação do indie rock, Odair tocou todos hits dos anos 70 como "Pare de Tomar A Pílula ou Deixe Essa Vergonha de Lado" e encerrou com uma versão roqueira de "Cadê Você?", composição dele que virou sucesso em versão sertaneja de Leandro e Leonardo.

Entre uma música e outra ele deu autógrafos, ouviu as senhoras e crianças que tentavam falar com ele e atendeu pedidos musicais. Uma lição que deveria ser aprendida por muitos artistas que nunca param para ouvir o que seus fãs dizem.