Se álbuns são como filmes é natural que os artistas ás vezes oensem em fazer uma sequência. Não falamos aqui naturalmente daqueles que após um sucesso passam a lançar o que soa como o mesmo disco com pequenas variações, mas sim de artistas que ou precisaram de dois discos para encerrarem uma ideia ou aqueles que anos depois sentiram vontade de repensar ou refletir sobre um momento anterior e assim criar uma nova sequência de canções. O 5 Discos de hoje relembra alguns desses álbuns.

Caetano Veloso
Caetano Veloso Tropicália ou Panis et Circencis
Tropicália ou Panis et Circencis 1968 e Tropicália 2 - 1993 - Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros - Tramada por Caetano Veloso com a valiosa contribuição de Gilberto Gil, Tom Zé, Mutantes, o maestro Rogério Duprat e outros, a tropicália surgiu com a proposta de modernizar a música brasileira abrindo-a às influências externas e também à vanguarda literária. O disco-manifesto de 1968 é um dos cinco mais importantes da música brasileira e ainda hoje impressiona brasileiros e gringos que descobriram o tropicalismo a partir dos anos 90 (tendo em Beck e nos Beastie Boys dois grandes divulgadores dessa música ao redor do planeta).
25 anos depois Caetano e Gil gravaram a parte 2. Apesar das expectativas o álbum não fez nem sombra para o original, ainda que dele tenha saído uma das mais belas canções da MPB moderna:Desde que o Samba é Samba.

Neil Young
Neil Young Harvest
Harvest 1972 e Harvest Moon 1992 - Neil Young - O original é o maior sucesso do canadense dono de longa e variada carreira. Ao mostrar sua faceta mais simples e bucólica Young vendeu milhões de cópias e com Heart of Gold emplacou pela primeira e única vez uma canção no topo das paradas. Após passar os anos 80 no ostracismo Young voltou com força no fim da década lançando discos ferozes que lhe garantiram uma nova geração de fãs (foi quando ele ganhou o apelido de "avô do grunge"). Quando mais um disco cheio de guitarras era esperado Young surpreendentemente lançou a sequência de seu trabalho mais bem sucedido. Para o disco ele chamou a banda original (os Stray Gators) e James Taylor e Linda Ronstadt reprisaram suas participações especiais. Mesmo sem ter vendido tanto quanto o original Harvest Moon é tão belo quanto ele.

Tim Maia
Tim Maia Racional volume 1
Tim Maia Racional volumes 1 e 2 - 1975 - Os dois volumes de Racional saíram quando Tim Maia se converteu à seita do Universo em Desencanto. As faixas estavam sendo gravadas para um projeto de álbum duplo que sairia pela RCA, a sua nova gravadora quando um dos livros de pregação da seita o fisgou. Tim largou as drogas, se encontrou com Manoel Jacinto, o líder dos tais "Racionais", e escreveu letras "de louvor" para todas as faixas já gravadas. A RCA obviamente não gostou nada e o material foi lançado de forma independente. Motivo de piada na época, os discos - que saíram com pouco tempo de diferença - se tornaram lendários. Primeiro porque Tim Maia subitamente se desiludiu com Jacinto e passou a renegar essa fase, jamais permitindo o relançamento dos álbuns e porque nunca se ouviu por aqui discos de soul e funk tão poderosos.

XTC
XTC Apple Venus Volume 1
Apple Venus Volume 1 - 1999 e Wasp Star (Apple Venus Volume 2) - 2000 - XTC - Surgido no fim dos anos 70 o XTC fazia um som agitado mas com uma abordagem toda particular que os diferenciava do resto das bandas da época. A cada álbum eles foram se sofisticando e não é exagero dizer que os Beatles soariam como eles se tivessem seguido juntos com a criatividade intacta. Os dois volumes de Apple Venus saíram após quase dez anos de espera. Por não queer lançar mais nada pela antiga gravadora o XTC entrou "em greve" até o contrato acabar. Quando o primeiro volume saiu viu-se que o talento não os havia abandonado. A segunda parte tão boa quanto a outra previa um futuro brilhante para Andy Partridge e Colin Moulding mesmo após 20 anos de estrada. Mas não era para ser. Brigas há muito adiadas por motivos financeiros acabaram por dar fim à banda.

Rufus Wainwright
Rufus Wainwright Want One
Want One 2003 e Want Two 2004 - Rufus Wainwright - Artista de grande talento e bastante idiosincrático o fã de ópera e do canto operístico Rufus Wainwright tinha tantas obsessões para dar vazão que um disco só não foi o sufuciente e ele precisou fazer uma sequência.
O professor por quem se apaixonou (o cantor é abertamente gay), as crises amorosas, a realidade de viver em uma sociedade preconceituosa e paranoica - mais ainda após o 11 de setembro... está tudo condensado nos dois volumes de Want. O sucesso da dobradinha (e de faixas como I Don't Know What It Is e a inacreditável Gay Messiah, talvez sua obra-prima, brilha na parte 2 deu principalmenteliberdade para o cantor que desde então pôde se deicar a projetos ainda mais peculiares - um tributo a Judy Garland, uma ópera, um disco só de piano e voz...