Em 1967 os Beatles lançaram Sgt. Peppers e colocaram o "disco conceitual" no vocabulário pop. A ideia era a de gravar o disco todo como se eles fosse a tal banda do Sargento Pimenta, o que os permitiria fazer qualquer coisa, já que estavam "vestindo o personagem".
A ideia não era exatamente nova (Frank Sinatra já tinha gravado seus discos temáticos por exemplo) mas serviu de inspiração para muita gente, mesmo que os próprios Beatles tenham desistido da ideia do conceito no meio do caminho. No fim dos anos 60 começaram a surgir as primeiras óperas rock como "Arthur" dos Kinks e "SF Sorow" dos Pretty Things.
Os anos 70 foram a época de ouro especialmente por causa do rock progressivo, mas não só - Marvin Gaye por exemplo fez o pesadíssimo "Here My Dear" em "homenagem" á sua ex-esposa. Com a chegada do punk a ideia de álbuns "com historinha" passou a ser vista com desconfiança e eles praticamente sumiram. Mas aos poucos eles foram voltando e hoje em dia você tem bandas como My Chemical Romance ou Green Day - para não falarmos nos discos de rap - recuperando o disco conceitual para o século 21. Mais uma prova de que no pop tudo se recicla.
Hoje a série "5 Discos" relembra algumas óperas rock ou álbuns conceituais que fizeram história.
Tommy - The Who - 1968 - O líder do The Who Pete Towshend já vinha mostrando que tinha mais a oferecer além da animalice que marcou o começo do grupo. O segundo diso "A Quick One" já tinha na sua faixa título uma mini-ópera de 12 minutos e em "The Who Sell Out" ele amarrou o disco todo como se fosse a programação de uma rádio pirata. o passo seguinte foi fazer uma ópera-rock de fato. "Tommy" conta a história do garoto que vê seu pai tido como morto na guerra matar seu padastro (ou vice-versa na versão filmada) e traumatizado ficar cego, surdo e mudo. Tommy vira mestre no fliperama, consegue se curar e passa a liderar um culto religioso. A história era meio estranha, mas Towshend soube criar uma série de canções antológicas para acompanhá-la como Pinball Wizard e See Me, Feel Me/Listening To You. com "Tommy" a banda finalmente atingiu o estrelato.
The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars - David Bowie - 1972 - Bowie tentava emplacar desde o meio dos anos 60. Em 69 ele fez sucesso com Space Oddity mas tudo que fez em seguida passou meio batido. Até que ele teve a ideia de criar um personagem e passara a encarná-lo. Ziggy Stardust era um extraterrestre andrógino que chegava à Terra cinco anos antes do fim do mundo, se tornava uma megaestrela e terminava vítima de seus próprios excessos. Para acompanhar esse roteiro Bowie (ao lado dos "Spiders from Mars") criou uma sequência de músicas que entraram para a história. Os ingleses amaram e numa espécie de guru (ele aproveitou a fama para dar uma força para artistas que ele admirava como Lou Reed, Iggy Pop e o Mott the Hoople). Os americanos não engoliram a androginia e por lá ele teve de esperar um pouco mais para estourar.
The Lamb Lies Down on Broadway - Genesis - 1974 - O rock progressivo foi o g~enero que mais fez uso do álbum conceito. As bandas adoravam lançar discos com faixas contínuas ("Thick as Brick" do Jethro Tull por exemplo só tinha uma se dividindo dos dois lados do disco) e elaboarados projetos gráficos. Antes de se tornar uma máquina de hits nas mãos de Phill Collins, o Genesis foi uma das maiores bandas progressivas do mundo. Esse foi o último disco com o vocalista Peter Gabriel e mesmo após o punk, quando tais exercícios passaram a ser execrados, ele manteve sua moral. Isso porque ele está longe de ser óbvio. "Lamb Lies" conta a história de Rael, um garoto portorriquenho fora da lei tentando sobreviver em Nova York. Lá ele é assombrado por seres sobrenaturais enquanto tenta salvar seu irmão. Gabriel inspirou-se em seus sonhos para criar as letras do disco.
Captain Fantastic & the Brown Dirt Cowboy - Elton John - Nos anos 70 excesso era a palavra de ordem para Elton John. Excesso de drogas, dinheiro, sucesso, músicas nas paradas e álbuns. "Captain Fantastic" foi seu nono álbum de estúdio em sete anos e foi também o último disco incontestável de sua carreira (é meio óbvio que ele não terica como manter esse ritmo por muito tempo). Aqui ele (o capitão) e seu letrista Bernie Taupin (o cowboy) se permitiram olhar para o passado e o caminho que os levou até ali. As nove faixas vão assim contando de forma alegórica diversas passagens do começo da vida profissional dos dois. Do começo duro á tentativa de suicídio de Elton (na bela Someone Saved My Life Tonight) até a gravação do primeiro disco está tudo lá. 31 anos depois a dupla deu sequência á história em "The Captain & The Kid", um belo disco ouvido por poucos.
The Wall Pink Floyd - 1979 - Outro baluarte do progressivo, o Floyd sobreviveu ao levante punk com ainda mais sucesso que antes. Na verdade esse disco tem tanto niilismo e desesperança para com o futuro (e o presente) quanto qualquer disco punk. Praticamente um disco solo de Roger Waters ele versa sobre as neuras do baixista: o pai que morreu na guerra e ele mal conheceu, o sistema educacional britânico, a falta de comunicação entre as pessoas. Para dar vazão a esses temas ele criou "Pink" um rockstar que isolado do mundo e de tudo a sua volta acaba por erguer um "muro" entre ele e o resto das pessoas. O conceito foi levado aos shows (que Waters no momento reencena) com um muro literalmente sendo erguido entre a banda e a plateia.
A ideia não era exatamente nova (Frank Sinatra já tinha gravado seus discos temáticos por exemplo) mas serviu de inspiração para muita gente, mesmo que os próprios Beatles tenham desistido da ideia do conceito no meio do caminho. No fim dos anos 60 começaram a surgir as primeiras óperas rock como "Arthur" dos Kinks e "SF Sorow" dos Pretty Things.
Os anos 70 foram a época de ouro especialmente por causa do rock progressivo, mas não só - Marvin Gaye por exemplo fez o pesadíssimo "Here My Dear" em "homenagem" á sua ex-esposa. Com a chegada do punk a ideia de álbuns "com historinha" passou a ser vista com desconfiança e eles praticamente sumiram. Mas aos poucos eles foram voltando e hoje em dia você tem bandas como My Chemical Romance ou Green Day - para não falarmos nos discos de rap - recuperando o disco conceitual para o século 21. Mais uma prova de que no pop tudo se recicla.
Hoje a série "5 Discos" relembra algumas óperas rock ou álbuns conceituais que fizeram história.
Tommy - The Who - 1968 - O líder do The Who Pete Towshend já vinha mostrando que tinha mais a oferecer além da animalice que marcou o começo do grupo. O segundo diso "A Quick One" já tinha na sua faixa título uma mini-ópera de 12 minutos e em "The Who Sell Out" ele amarrou o disco todo como se fosse a programação de uma rádio pirata. o passo seguinte foi fazer uma ópera-rock de fato. "Tommy" conta a história do garoto que vê seu pai tido como morto na guerra matar seu padastro (ou vice-versa na versão filmada) e traumatizado ficar cego, surdo e mudo. Tommy vira mestre no fliperama, consegue se curar e passa a liderar um culto religioso. A história era meio estranha, mas Towshend soube criar uma série de canções antológicas para acompanhá-la como Pinball Wizard e See Me, Feel Me/Listening To You. com "Tommy" a banda finalmente atingiu o estrelato.
The Rise and Fall of Ziggy Stardust and the Spiders from Mars - David Bowie - 1972 - Bowie tentava emplacar desde o meio dos anos 60. Em 69 ele fez sucesso com Space Oddity mas tudo que fez em seguida passou meio batido. Até que ele teve a ideia de criar um personagem e passara a encarná-lo. Ziggy Stardust era um extraterrestre andrógino que chegava à Terra cinco anos antes do fim do mundo, se tornava uma megaestrela e terminava vítima de seus próprios excessos. Para acompanhar esse roteiro Bowie (ao lado dos "Spiders from Mars") criou uma sequência de músicas que entraram para a história. Os ingleses amaram e numa espécie de guru (ele aproveitou a fama para dar uma força para artistas que ele admirava como Lou Reed, Iggy Pop e o Mott the Hoople). Os americanos não engoliram a androginia e por lá ele teve de esperar um pouco mais para estourar.
The Lamb Lies Down on Broadway - Genesis - 1974 - O rock progressivo foi o g~enero que mais fez uso do álbum conceito. As bandas adoravam lançar discos com faixas contínuas ("Thick as Brick" do Jethro Tull por exemplo só tinha uma se dividindo dos dois lados do disco) e elaboarados projetos gráficos. Antes de se tornar uma máquina de hits nas mãos de Phill Collins, o Genesis foi uma das maiores bandas progressivas do mundo. Esse foi o último disco com o vocalista Peter Gabriel e mesmo após o punk, quando tais exercícios passaram a ser execrados, ele manteve sua moral. Isso porque ele está longe de ser óbvio. "Lamb Lies" conta a história de Rael, um garoto portorriquenho fora da lei tentando sobreviver em Nova York. Lá ele é assombrado por seres sobrenaturais enquanto tenta salvar seu irmão. Gabriel inspirou-se em seus sonhos para criar as letras do disco.
Captain Fantastic & the Brown Dirt Cowboy - Elton John - Nos anos 70 excesso era a palavra de ordem para Elton John. Excesso de drogas, dinheiro, sucesso, músicas nas paradas e álbuns. "Captain Fantastic" foi seu nono álbum de estúdio em sete anos e foi também o último disco incontestável de sua carreira (é meio óbvio que ele não terica como manter esse ritmo por muito tempo). Aqui ele (o capitão) e seu letrista Bernie Taupin (o cowboy) se permitiram olhar para o passado e o caminho que os levou até ali. As nove faixas vão assim contando de forma alegórica diversas passagens do começo da vida profissional dos dois. Do começo duro á tentativa de suicídio de Elton (na bela Someone Saved My Life Tonight) até a gravação do primeiro disco está tudo lá. 31 anos depois a dupla deu sequência á história em "The Captain & The Kid", um belo disco ouvido por poucos.
The Wall Pink Floyd - 1979 - Outro baluarte do progressivo, o Floyd sobreviveu ao levante punk com ainda mais sucesso que antes. Na verdade esse disco tem tanto niilismo e desesperança para com o futuro (e o presente) quanto qualquer disco punk. Praticamente um disco solo de Roger Waters ele versa sobre as neuras do baixista: o pai que morreu na guerra e ele mal conheceu, o sistema educacional britânico, a falta de comunicação entre as pessoas. Para dar vazão a esses temas ele criou "Pink" um rockstar que isolado do mundo e de tudo a sua volta acaba por erguer um "muro" entre ele e o resto das pessoas. O conceito foi levado aos shows (que Waters no momento reencena) com um muro literalmente sendo erguido entre a banda e a plateia.