Que rock é sinônimo de guitarra não se discute. Mas vez ou outra surge um pessoal para tentar demolir essa máxima. Hoje lembramos cinco nomes que mostraram que o piano também serve para fazer boa música pop. São nomes das mais variadas tendências e épocas mas com uma coisa em comum: a ineguável qualidade de seu trabalho.

The Georgia Peach - Little Richard - Gravado entre 1955 e 1958) - Nos primóridos o piano era tão importante quanto a guitarra para se fazer bom rock - vide Jerry Lee Lewis e Fats Domino. Richard sempre foi das figuras mais fascinantes desse período. O primeiro a usar e abusar da androginia, a criar uma persona para o palco e a fazer uso do "manual de conduta do roqueiro" (orgias, drogas, festanças), não é exagero dizer que quase todo mundo que veio depois deve alguma coisainha que seja ao seu pioneirismo. Richard mostrou que era possível arrebentar mesmo sendo negro numa época em que o segregacionismo era alto e com um piano. Suas canções como Tutti Frutti ou Good Golly Miss Molly fazem parte do Be-a-bá do rock'n'roll. Essa coletânea junta o fundamental gravado por ele antes de se tornar pastor e abandonar, por alguns anos, a música secular.

Goodbye Yellow Brick Road - Elton John - 1973 - Um dos maiores e inesperados casos de sucesso do pop. o inglês dominou os anos 70 emplacando dezenas de sucessos nas paradas. A extrema popularidade, e a falta de inspiração de boa parte de sua obra pós 1975, ajudaram a tirar parte de sua crddibilidade entre a crítica e gente antenada. nada mais injusto já que por alguns anos poucos produziram tanto e com tamanha qualidade. Esse álbum, originalmente um disco duplo, foi o seu apogeu. Aqui Elton se mostrava a vontade para criar baladas, épicos beirando o progressivo, rock, reggae e mais. O disco estourou nas paradas e rendeu uma de suas maiores e bem sucedidas turnês. Elton também trouxe de volta para o centro do picadeiro a figura do pianista amalucado que não poupava esforços para ser o mais extravagante possível.

Good Old Boys - Randy Newman - 1974 - Newman chegou a ser incluído na onda de "cantores e compositores" que tomaram o planeta nos anos 70, mas sua praia era outra. Primeiro por ele vir da tradição dos compositores que compunham para outros intérpretes, algo que os Beatles ajudaram a derrubar. Dono de uma voz esganiçada, e tendo o piano como instrumento primordial ele preferia escrever na terceira pessoa ou se colocando como personagem em suas músicas de conteúdo lírico dotados de um humor explosivo - muitas vezes não percebido. Esse é o seu grande álbum, uma espécie de disco conceitual feito do ponto de vista dos habitantes do sul dos EUA revoltados com a mania do norte de os menosprezar. Newman nunca vendeu muito e se tornou mais famoso como compositor para o cinema (os três "Toy Story").


The Unauthorized Biography of Reinhold Messner - Ben Folds Five - 1999 - Apesar do nome, o Ben Folds Five era um trio de piano/baixo/bateria, o que de cara os coloca como uma banda singular e à parte do cenário pop dos anos 90. Folds escrevia canções pop sensíveis mas que em muitas vezes beirava o venenoso, especialmente quando ele resolve se vingar das garotas e pessoas que o ignoravam antes da fama. O grupo também se diferenciava por causa de suas inflências, quase todas dos anos 70 e que iam do som sofisticado Steely Dan e Todd Rundgren ao kitsch da Electric Light Orchestra.
Esse terceiro disco foi ápice do trio. A evolução de Folds como compositor e arranjador é sensível e o resultado é um disco curto e de grande impacto. Ben Folds logo depois partiu para a carreira solo. Seu mais recente álbum é uma colaboração com o escritor Nick Hornby (Alta Fidelidade).

Guilherme Arantes - 1976 - O Brasil também deu sua contribuição ao "pop pianístico" e ninguém foi tão bem sucedido nessa seara quanto o paulistano Guilherme Arantes. Muitas vezes taxado de "brega", seu nome precisa ser urgentemente reavaliado. Assim como Elton John com quem era constantemente comparado, Arantes fez muito sucesso, o que no Brasil é sinônimo de música em novela e aparições em programas de auditório. Isso implica em olhares tortos por parte de roqueiros radicais, da crítica e de gente com gosto mais "sofisticado". Não que ele não tenha dado seus deslizes, mas esse seu primeiro disco solo onde estão Meu Mundo e Nada Mais e Cuide-se Bem e seu disco de 1978 ("A Cara e a Coragem") são dois dos mais belos discos do nosso pop e provam como ele foi importante na criação do ambiente que permitiu a explosão do nosso rock nos anos 80.