Parte do público, e da imprensa, do Brasil tem uma mania estranha de achar que certos artistas por se apresentarem constantemente por aqui não são mais relevantes (algo do tipo "se esse cara fosse bom mesmo não ia ficar por aqui"). De cabeça dá pra se lembrar ao menos de Jimmy Cliff, que por fazer até shows gratuitos em nossas praias acabou sendo visto como um cara de segundo escalão por muita gente, apesar de estar atrás somente de Bob Marley e uns poucos outros no olimpo do reggae.

Todo esse papo serve para chegarmos em Dionne Warwick que mais uma vez se apresentou no Brasil. O amor de Dionne pelo Brasil vem de longa data, ela já gravou muitos compositores nossos e até morou por aqui por alguns anos, com isso em mente às vezes a gente se esquece que a americana tem história pra contar. Dionne começou ainda nos anos 50 com um grupo chamado The Gospelaires formado ao sua irmã Dee Dee e sua tia Cissy (mais tarde a mãe de Whitney Houston). Foram elas que segundo consta, fizeram as vozes de fundo no original de Stand by me, de Ben E. King.

Mas Dionne sempre será lembrada como a voz de Burt Bacharach, um dos maiores compositores populares de nossos tempos ao lado de John Lennon e Paul McCartney, Tom Jobim e alguns poucos mais. A pareceria ao lado do compositor e maestro rendeu à cantora uma coleção enorme de sucessos que até hoje ecoam nas rádios, filmes e programas de televisão.

Dionne veio ao país desta vez para gravar um DVD ao lado de estrelas da nossa música como Jorge Ben Jor, Ivan Lins e Simone (Milton Nascimento precisou cancelar em cima da hora). Esse show foi marcado por problemas técnicos com a cantora tendo de repetir alguns números por várias vezes até tudo se acertar.

Por conta disso melhor fez quem assistiu à cantora em alguma outra data da turnê. Nós conferimos em Santos no pomposo "Mendes Convention Center", com um nome desses nem é preciso falar que o ingresso era caro e que a platéia era majoritariamente envelhecida e endinheirada. Talvez tenha faltado avisar aos mais jovens que aquela senhora que iria cantar é a voz de I Say A Little Prayer que sempre embala os BBBs, novelas e filmes bem conhecidos, que ela também gravou as versões definitivas de Alfie, "Do You Know The Way To San Jose?", Walk On By, I Just Don't Know What To do With Myself (que ela não cantou infelizmente) e, mais recentemente (se é que dá pra chamar 1985 de recentemente) That's What Friends Are For, um dos maiores sucessos da década de 80.

O show de Dionne não tem muito segredo, sendo profissional ao extremo. Se o show está marcado pra começar as 10 horas, ele vai começar pontualmente e azar de quem está lá fora ou se as luzes ainda estão acesas. Foi assim, num anti-climax, que ela entrou no palco cantando (Close To You) Close To You (mais conhecida com os The Carpenters). O que veio depois foram vários hits, quase todos de Bacharah e David, mas com algumas escapadas por outros repertórios. O Brasil foi homenageado com um medley de Tom Jobim e até uma Aquarela do Brasil em bom português (imaginem ela tentando entender o que seria um "mulato izoneiro"). Para completar Heartbreaker, grande sucesso nos anos 80 da época em que ela gravou um disco todo sob a batuta de Barry Gibb dos Bee-Gees e I'll Never Love This Way Again escrita por Barry Manilow. No final Warwick chamou sua neta Cheyenne Elliot para o palco que cantou o recente sucesso de (e mostra que tem gogó para não fazer feio numa família repleta de estrelas) e depois fez a parte que foi de Gladys Knight em That's What Friends Are For. E foi isso. Uma hora e meia depois Dionne deixou o palco sem direito a bis.

Moral da história? Mesmo com um clima Las Vegas e com uma produção modesta (ela se apresentou com um sexteto quando uma orquestra obviamente faria muita diferença) o show cumpriu as expectativas. Como é bastante certo que ela vá voltar mais vezes fica a dica para que mesmo os que tem um pé atrás com a cantora dêem uma chance a ela.