Continuando nossa série de especiais de fim de semana, chegamos hoje aos anos 90. Uma década marcada mais pela mistura, combinação e revitalização de gêneros do passado do que pela criação propriamente dita. Assim como fizemos antes essa série será dividida em duas partes. Hoje falaremos do rock inglês (e irlandês no caso do My Bloody Valentine). Semana que vem é a vez do rock americano. Como limitamos as escolhas em apenas cinco nomes muita gente obviamente ficou de fora, mas convém lembrar de nomes como Ride, Charlatans, Suede, Boo Radleys, Supergrass, Manic Street Preachers Spiritualized entre vários outros. Também estamos dando preferência para gente que realmente despontou nos anos 90. Daí a ausência de U2, R.E.M., Beastie Boys e outros que já tinham feito trabalhos importantes na década anterior.
Loveless - My Bloody Valentine - 1991 - Nunca lançado no Brasil esse álbum é um marco por seu uso inovador e inédito da guitarra. O My Bloody Valentine começou no meio dos anos 80 sem uma sonoridade definida. Em 1988, época do disco "Isn't Anything" o líder Kevin Shields começou a sua "pesquisa" com ruídos e distorções e conseguiu dar personalidade à sua banda. "Loveless" demorou três anos pra ficar pronto e consumiu uma fortuna da gravadora. O disco é uma grande viagem sensorial com centenas de guitarras assumindo a frente (vozes e demais instrumentos sempre ficam em segundo plano) criando uma parede sonora raramente vista. Shields depois acabou quase surdo e a banda não lançou mais nenhum disco. Escute Loveless e saiba porque alguns críticos o consideram o último disco original do rock.
Screamdelica - Primal Scream - 1992 - Uma das palvras de ordem dos anos 90 era mistura. Cada vez mais era comum ver bandas de rock influenciadas pela dance music e vice-versa. Não que isso fosse novidade, vide o New Order por exemplo, mas a cosia começou a pegar mesmo no fim dos anos 80 com bandas como os Happy Mondays e Stone Roses. Mas quem tramou o manifesto definitivo na questão foi o Primal Scream. Assim como o My Bloody Valentine eles também começaram meio devagar até o dia em que o líder Bobbie Gillespie caiu de cabeça na cena eletrônica (incluindo aí as drogas que a movimentam). Não que "Screamdelica" seja um disco só de dance music. Ele também traz baladas, rocks a la Rolling Stones e muita psicodelia. Essa salada de estilos fez o disco ser celebrado. Em 1992 esse era o som do futuro.
Definitely Maybe - Oasis 1994 - Lançado quando o rock britânico precisava desesperadamente de ânimo, esse disco cumpriu a missão com louvor. Surgia aqui uma banda sem medo de ser famosa e que anunciava um tempo mais esperançoso e otimista, em contrapartida ao soturno grunge americano. Em sua estreia os irmãos Gallagher chegavam avisando que queriam ser estrelas do rock e viver para sempre. A música não era exatamente nova - basicamente uma mistura de Beatles, Slade, Sex Pistols com uma pitada do som e da arrogância dos Stone Roses. Mas o conjunto funcionava e Noel Gallagher tinha grande talento para criar melodias fortes. O resto do mundo só foi se deixar seduzir no lançamento do ano seguinte, "What's the Story Morning Glory". Mas todas as cartas de intenções da banda já estavam definidas aqui.
Different Class - Pulp - No meio da década a Inglaterra foi tomada por um espírito de euforia. Os trabalhistas voltaram ao poder e as paradas foram tomadas pelo Britpop. Oasis e Blur (que poderiam e deveriam estar nessa lista) eram as suas faces mais populares, mas o Pulp de Jarvis Cocker não ficava atrás. O som da banda era um pouco mais sofisticado que o da concorrência mas o que pegava mesmo eram as letras e a persona de Jarvis. Um cara que há mais de 15 anos tentava ser estrela. Quando a chance chegou ele não disperdiçou. Em Mis-Shapes ele dizia que o futuro pertencia à ele e nós, enquanto Sorted For E's & Wizz via com senso de humor a cena hedonista e regada à drogas que "elevavam o espírito". A obra-prima do álbum é Common People, onde Cocker conta a história da garotinha rica que quer viver como as pessoas "normais".
Ok Computer - Radiohead - Assim como quase todos os grupos aqui enfocados eles também tiveram um começo complicado até chegarem ao ápice. No caso deles o problema se deu com uma canção, Creep que estourou e que tinha toda a pinta de que seria o único hit deles. No álbum seguinte, The Bends o Radiohead mostrou que esse não era o caso, o que foi confirmado com Ok Computer. Visto como um clássico instantâneo ele trazia de volta um som mais elaborado e experimental que o britpop havia deixado de lado e trazia de volta para o centro do cenário um cantor realmente angustiado - o vocalista Thom Yorke. Aqui a música pop e o experimentalismo estão bem dosados, ao contrário dos trabalhos posteriores mais herméticos. O álbum virou um marco com o qual quase toda a produção roqueira feita desde então passou a ser comparada.
Loveless - My Bloody Valentine - 1991 - Nunca lançado no Brasil esse álbum é um marco por seu uso inovador e inédito da guitarra. O My Bloody Valentine começou no meio dos anos 80 sem uma sonoridade definida. Em 1988, época do disco "Isn't Anything" o líder Kevin Shields começou a sua "pesquisa" com ruídos e distorções e conseguiu dar personalidade à sua banda. "Loveless" demorou três anos pra ficar pronto e consumiu uma fortuna da gravadora. O disco é uma grande viagem sensorial com centenas de guitarras assumindo a frente (vozes e demais instrumentos sempre ficam em segundo plano) criando uma parede sonora raramente vista. Shields depois acabou quase surdo e a banda não lançou mais nenhum disco. Escute Loveless e saiba porque alguns críticos o consideram o último disco original do rock.
Screamdelica - Primal Scream - 1992 - Uma das palvras de ordem dos anos 90 era mistura. Cada vez mais era comum ver bandas de rock influenciadas pela dance music e vice-versa. Não que isso fosse novidade, vide o New Order por exemplo, mas a cosia começou a pegar mesmo no fim dos anos 80 com bandas como os Happy Mondays e Stone Roses. Mas quem tramou o manifesto definitivo na questão foi o Primal Scream. Assim como o My Bloody Valentine eles também começaram meio devagar até o dia em que o líder Bobbie Gillespie caiu de cabeça na cena eletrônica (incluindo aí as drogas que a movimentam). Não que "Screamdelica" seja um disco só de dance music. Ele também traz baladas, rocks a la Rolling Stones e muita psicodelia. Essa salada de estilos fez o disco ser celebrado. Em 1992 esse era o som do futuro.
Definitely Maybe - Oasis 1994 - Lançado quando o rock britânico precisava desesperadamente de ânimo, esse disco cumpriu a missão com louvor. Surgia aqui uma banda sem medo de ser famosa e que anunciava um tempo mais esperançoso e otimista, em contrapartida ao soturno grunge americano. Em sua estreia os irmãos Gallagher chegavam avisando que queriam ser estrelas do rock e viver para sempre. A música não era exatamente nova - basicamente uma mistura de Beatles, Slade, Sex Pistols com uma pitada do som e da arrogância dos Stone Roses. Mas o conjunto funcionava e Noel Gallagher tinha grande talento para criar melodias fortes. O resto do mundo só foi se deixar seduzir no lançamento do ano seguinte, "What's the Story Morning Glory". Mas todas as cartas de intenções da banda já estavam definidas aqui.
Different Class - Pulp - No meio da década a Inglaterra foi tomada por um espírito de euforia. Os trabalhistas voltaram ao poder e as paradas foram tomadas pelo Britpop. Oasis e Blur (que poderiam e deveriam estar nessa lista) eram as suas faces mais populares, mas o Pulp de Jarvis Cocker não ficava atrás. O som da banda era um pouco mais sofisticado que o da concorrência mas o que pegava mesmo eram as letras e a persona de Jarvis. Um cara que há mais de 15 anos tentava ser estrela. Quando a chance chegou ele não disperdiçou. Em Mis-Shapes ele dizia que o futuro pertencia à ele e nós, enquanto Sorted For E's & Wizz via com senso de humor a cena hedonista e regada à drogas que "elevavam o espírito". A obra-prima do álbum é Common People, onde Cocker conta a história da garotinha rica que quer viver como as pessoas "normais".
Ok Computer - Radiohead - Assim como quase todos os grupos aqui enfocados eles também tiveram um começo complicado até chegarem ao ápice. No caso deles o problema se deu com uma canção, Creep que estourou e que tinha toda a pinta de que seria o único hit deles. No álbum seguinte, The Bends o Radiohead mostrou que esse não era o caso, o que foi confirmado com Ok Computer. Visto como um clássico instantâneo ele trazia de volta um som mais elaborado e experimental que o britpop havia deixado de lado e trazia de volta para o centro do cenário um cantor realmente angustiado - o vocalista Thom Yorke. Aqui a música pop e o experimentalismo estão bem dosados, ao contrário dos trabalhos posteriores mais herméticos. O álbum virou um marco com o qual quase toda a produção roqueira feita desde então passou a ser comparada.