por Leandro Saueia

Ladytron
Ladytron Ladytron (Foto: Alexandre Schneider/UOL)
Talvez você nunca tenha ouvido falar em Hot Hot Heat, We Are Scientists ou The Bravery, algumas das bandas que tocaram no último sábado dentro do Nokia Trends em São Paulo. Para aqueles que andam ligados com o que rola lá fora esses nomes já fazem parte de um passado distante (distante tipo 2004...).

Melhor fez quem não ficou pensando muito e foi até a Arena do Anhembi (debaixo de uma chuva que deixou São Paulo parada), pois todos os shows se mostraram bastante interessantes. Por conta do temporal acabamos chegando na última música do Soulwax.

Pelos comentários ouvidos e a animação do público o show agradou bastante. Na seqüência foi a vez dos canadenses do Hot Hot Heat. Para quem não conhece os canadenses dá pra dizer que a banda está num meio termo entre os The Strokes e o Franz Ferdinand, ou seja, rock dançante com cara de anos 80 com um lado pop bem acentuado. Legal também é ver como hoje em dia o público interessado consegue se informar com muito mais rapidez. Apesar de não ter nenhum de seus discos lançados por aqui, quase todas as músicas foram acompanhadas pela platéia. Em mais ou menos uma hora a banda misturou músicas de seus dois álbuns (incluindo algumas que deverão ficar entre as melhores dessa década como "Oh Godamnit) e ainda contaram com a participação de Keith Murray do We are Scientists

Os We are Scientists entraram depois. Apesar de serem a banda menos interessante do dia um misto de rock dos anos 90 com o punk-funk dos 80 (que serve de matéria prima para um sem número de grupos atuais) com vocais que às vezes lembram os de Morrissey- acabaram fazendo um show pra lá de divertido. Afinal dá pra não simpatizar com um grupo que entra no palco ao som de Against all Odds do Phil Collins e que passa o tempo todo fazendo piadas entre si e das outras bandas? No meio do show o vocalista do Hot Hot Heat devolveu o favor e também entrou no palco para tocar... cowbell. Em resumo um show divertido e pra cima ainda que fácil de se esquecer.

Hot Hot Heat
Hot Hot Heat Hot Hot Heat (Foto: Alexandre Schneider/UOL)
O The Bravery é uma banda que nasceu cercada de polêmica. Ano passado Brandon Flowers do The Killers detonou a banda Nova Iorquina por dizer que eles estavam deliberadamente os copiando. Flowers não deixa de ter um pouquinho de razão já que o som das duas bandas guardam bastante semelhança (especialmente pelas referências à bandas oitentistas como o Duran Duran). Para piorar ainda mais o vocalista Sam Endicott andou dizendo que o novo disco do The Bravery seria mais ?orgânico? com mais piano e menos sintetizadores, basicamente a mesma coisa que os The Killers fizeram em seu mais recente disco.

O show iria servir para tirar a prova dos nove e o The Bravery acabou passando com louvor. O que é Duran Duran (e isso não é crítica) no disco lembra muito o U2 do comecinho no palco. Há quem ache isso um defeito e que rock pra ser bom precisa ser cínico. Mas é ótimo ver uma banda que leva seu material a sério (o que não significa necessariamente se levar a sério) e tocando com entrega e animação verdadeiras (tanto o vocalista quanto o baixista caíram na platéia). As músicas novas surpreendem pela qualidade e se é possível ainda se fazer futurologia nos dias de hoje dá pra dizer que o The Bravery tem tudo para se tornar uma das bandas mais populares de 2007. Ah, e eles ainda tocaram uma cover de Don't Change dos primórdios do INXS.

The Bravery
The Bravery The Bravery (Foto: Alexandre Schneider/UOL)
Mais de cinco da manhã e finalmente chega a vez do Ladytron a mais "veterana" do dia com três discos. O grupo multi-cultural (a vocalista Mira Royo é búlgara e o tecladista Reuben Wu é chinês) surgiu no embalo do electro-clash (que pregava uma volta aos timbres de sintetizador e ao tecno-pop dos anos 80 especialmente o feito por Gary Numan e Human League) muito popular nas pistas no início desse século. Hoje em dia o som do grupo já soa diferente e lembra mais as viagens sonoras de grupos tipo My Bloody Valentine ou Stereolab. Apesar da fama de sérios e de fazerem um show sem muita emoção, a banda (acrescida de uma baixista e um baterista) se mostrou animada com receptividade do público e até ameaçou uns sorrisos e danças enquanto tocavam músicas de todos os seus cds (do primeiro single "He took her to a Movie" até as mais recentes como "Destroy everything you Touch"). Depois dessa todos puderam ir embora felizes (tirando os que ainda tinham pique e continuaram a festa na tenda dos Djs).

We Are Scientists
We Are Scientists We Are Scientists (Foto: Alexandre Schneider/UOL)
Para o ano que vem fica a sugestão de que ao lado dos nomes mais "descolados" a produção traga alguma banda de maior apelo junto ao público (como o The Killers ou os Scissor Sisters) para que assim a nova música seja mais absorvida por uma platéia mais abrangente.

Quer queira quer não, é assim que as coisas funcionam agora: Como ficou fácil conhecer as novidades em tempo real, tudo o que não saiu há menos de seis meses corre o risco de virar coisa velha ou, pior, "não emplacada". Ou seja, a Nokia deu um tiro no escuro ao trazer essas bandas para o palco rock de seu já tradicional festival, pois apostou em um line-up que era desconhecido para o grande público e que foi recebido com certa desconfiança por quem estava familiarizado com as atrações.