Mesmo em seu ano mais problemático, o TIM Festival que se encerrou sábado em São Paulo conseguiu se salvar. Pena que com os altos preços e a concorrência de outros shows e festivais o público tenha comparecido de forma mais tímida. Isso no lado pop, já que fora o preço, os fãs de jazz não tiveram do que reclamar e mesmo os menos afortunados puderam curtir um ótimo show do lendário Sonny Rollins em uma manhã bonita e ensolarada , ainda que não necessariamente agradável, no Parque do Ibirapuera.

No lado pop Kanye West fez um belo show, ainda que a mega-produção não parecesse tão mega pra quem já viu os Rolling Stones ou U2 (e a decisão de deixar a banda escondida embaixo do palco não foi das melhores, já que até agora tem gente discutindo se ele tocou ou não com bases pré-gravadas). Mas West é um artista raro: um rapper que pode ser curtido mesmo entre quem não se empolga com o estilo e que está sempre em busca de novos caminhos em um gênero que muitas vezes parece estagnado.

Entre as outras atrações, o Gogol Bordelo fez um show muito elogiado.
O sábado que começou com o set curto mas animador do Cérebro Eletrônico. Foi o segundo show do grupo visto pelo Vaga-lume (conferimos também no Festival Calango em Cuiabá) e ficou a certeza de que eles são das coisas mais interessantes do nosso cenário. Só não foi perfeito pelos problemas técnicos que quebraram o clima logo nas músicas mais conhecidas.

Os donos da noite foram os americanos do The National. Não que ao vivo eles virem uma outra banda diferente da dos discos, mas o que em estúdio é melancólico ou depressivo, ao vivo se torna intenso. No palco pode-se notar também que além de Leonard Cohen, Tindersticks, Joy Division e Scott Walker, a receita da banda engloba outras referências, incluindo bandas dos anos 80 como os Chameleons, Church e o Echo and the Bunnymen e o New Order (se o NO de 85/86 contasse com os vocais de Ian Curtis eles talvez soassem como o National).

Bom também foi ver que a banda tem senso de humor o bastante para convidar uma fã que pedia sem parar uma música a ouvir uma versão em particular no hotel após o show.
Ao MGMT sobrou a tarefa de encerrar o festival. Com apenas um disco lançado, não podia se pedir muito dos garotos. Quando eles entraram condenando três bichos de pelúcia à morte, a impressão de que veríamos um sub-Flaming Lips pela frente aumentaram. Felizmente tudo foi só um susto. Sim, a dupla, que vira quinteto ao vivo, tem muito de Lips (e também de Pink Floyd e até Grateful Dead, já que eles sã chegados em jams instrumentais, mesmo não sendo grandes músicos), mas descontando o som desnecessariamente alto, o grupo entregou um show divertido , com pelo menos dois momentos de extrema animação em Time To Pretend e Kids.

Agora vamos ver se pro ano que vem a organização acabe com essa coisa de ingresso por palcos e dias e invista mais em nomes com certo tempo de estrada que se não fosse o Festival jamais pisariam aqui. Sugestões? Van Morrison, Leonard Cohen, Joe Jackson, Tom Waits, Ray Davies, Joni Mitchel, John Fogerty, Aretha Franklin), até pra compensar o lamentável cancelamento de Paul Weller. Quem viu os shows de Elvis Costello ou Brian Wilson em edições anteriores sabe do que estou falando.

(Leandro Saueia)