Sexta foi o dia dos shows para poucos em São Paulo. Se no Auditório Ibirapuera muita gente se arriscava a deixar de pagar o aluguel pra conseguir algum ingresso na mão de cambista para ver o João Gilberto, não muito longe dali no Sesc Vila-Mariana, outras 400 pessoas ou pouco mais aguardavam o início da apresentação única do cantor e compositor Josh Rouse. Os paralelos poderiam acabar por aí, já que Josh mesmo nos círculos mais bem-informados não chega a ser lá muito conhecido, mas, assim como acontece muito com o baiano criador da bossa-nova, quem ouve um de seus discos torna-se quase sempre fã devoto. Vale lembrar que desde quando se casou com uma espanhola Rouse anda com um pé na nossa cozinha, abusando de acordes dissonantes e letras apaixonadas para sua musa que também remetem à nossa música. Ah, e o cara curte cantar baixinho também.
Mas não entendam errado. Rouse, não é gringo fazendo música brasileira. Longe disso. o negócio dele é simplesmente criar boas canções que podem englobar folk, country, soul e o bittersweet de Carole King e outros cantores e compositores dos anos 70 e também, a música brasileira.
Na verdade o difícil é entender porque ele não é famoso, quando suas canções têm em tese tudo para agradar os fã de, digamos, James Blunt ou Jack Johnson e serem bem mais ricas do ponto de vista melódico que a de seus colegas famosos.

O Show

Com sete álbuns lançados e mais um punhado de EPs e gravações disponibilizados na internet (no Brasil saiu apenas um, o segundo, "Home"), Rouse tinha bastante material para escolher. O grosso do show veio dos discos Nashville e Subtitulo. Mas ainda rolaram canções de 1972 (só pra constar um dos grandes discos dessa década) e do mais recente Country Mouse City House. Acompanhado de um trio o cantor não disfarçou a timidez, mas se mostrou bastante simpático e brincalhão ("pô vocês conhecem as músicas apesar dos discos não terem saído aqui. Todos pagaram pelo download né?")
Citar os destaques do show é até complicado, já que estamos diante de um caso raro de artista que conseguiu criar uma obra longa, coerente e homogênea depois da explosão da internet, quando a busca pela última novidade abrevia ou expõe carreiras antes da hora, resultando em bandas que soam velhas depois de um disco ou artistas mega-platinados que deveriam ainda estar burilando repertório em garagens ou pequenos clubes. Dito isso foi difícil não se emocionar com
, It's The Nighttime e principalmente com o bis com Slaveship, Sad Eyes e Directions.
No final, o melhor termômetro pra se medir o sucesso da noite foi mesmo a barraquinha que vendia os CDs do músico na saida do show, com uma multidão quase se estapeando para comprar tudo o que desse.
Enquanto isso em um canto, o cantor batia um papo com alguns fãs e se mostrava feliz por saber que no dia seguinte iria tocar com o Seu Jorge em Natal. Pelo visto a coisa fluiu bem, já que uma jam com os dois e mais a sensação teen Mallu Magalhães rolou no hotel depois do show.

(Leandro Saueia)