Antigamente nem em sonho existia tantas pontes sobre os rios nem asfalto nas estradas A gente usava quatro ou cinco sinueiros prá trazer o pantaneiro no rodeio da boiada Mas hoje em dia tudo é muito diferente com progresso nossa gente nem sequer faz uma idéia Que entre outros fui peão de boiadeiro por esse chão brasileiro os heróis da epopéia Tenho saudade de rever nas currutelas as mocinhas nas janelas acenando uma flor Por tudo isso eu lamento e confesso que a marcha do progresso é a minha grande dor Cada jamanta que eu vejo carregada transportando uma boiada me aperta o coração E quando eu vejo minha tralha pendurada de tristeza dou risada prá não chorar de paixão O meu cavalo relinchando pasto a fora que por certo também chora na mais triste solidão Meu par de esporas meu chapéu de aba larga uma bruaca de carga o meu lenço e o facão O velho basto o cinete e o mateiro o meu laço e o cargueiro o ginete e o gibão Ainda me resta a guaiaca sem dinheiro deste pobre boiadeiro que perdeu a profissão Não sou poeta, sou apenas um caipira e o tema que me inspira é a fibra de peão Quase chorando encolhido nesta mágoa rabisquei estas palavras e saiu esta canção Canção que fala da saudade das pousadas que já fiz com a peonada junto ao fogo de um galpão Saudade louca de ouvir um som manhoso de um berrante preguiçoso nos confins do meu sertão.
Compositores: Alcides Felisbino de Souza (Nono), Elias Costa de Andrade (Indio Vago) ECAD: Obra #948 Fonograma #869293