Um fadista já cansado Quando o passado lembrou Abraçou uma guitarra Não pôde cantar, chorou
Entrou, sentou-se e bebeu Um copo de vinho tinto Enquanto que no recinto Uma guitarra gemeu Muitas cantigas sei eu Tudo se ouviu menos fado E o cantador desolado Começou por me dizer Só tenho pena de ser Um fadista já cansado!
Criei nome, dei nas vistas Conquistei fama, ovações Mas não a cantar canções De envergonhar os fadistas Cantei fado nas conquistas Da boémia que passou Sei quem fui, sei que não sou Um cantador presumido Disse-me ele entristecido Quando o passado lembrou!
E prosseguiu - quando entrei Entrei com mil ansiedades Mas se vim matar saudades Com mais saudades fiquei Envelheci, mas é lei Da fadistagem bizarra Ter fé, ter alma, ter garra P'ra cantar até à morte E falando desta sorte Abraçou uma guitarra!
E cingiu com mão amiga Ao lado esquerdo do peito Naquele instrumento eleito Da fadistagem antiga Lembrou-se duma cantiga Que outrora o celebrizou Mas a emoção embargou Toda a sua voz amena E o pobre cheio de pena Não pôde cantar, chorou!
Composição: Carlos Conde e Popular (Fado das Horas)