Eu
(Com uma obra voltada pro antirracismo, o rapper mineiro Djonga)
(É o único representante brasileiro num prêmio internacional de hip-hop)
(Conteúdo alienante que entorpece a psique dos jovens das periferias)
(Com uma falsa sensação de representatividade)
(Balançou o bagulho, bagulho aí entendido como os velhos cercadinhos socioculturais)
(Que perderam o sentido, preconceitos caídos de podre)
(Porque se eu fa, falasse um negro criminoso, eu seria racista)
(Então exatamente foi o que eu quis colocar)
(Tentei colocar que um lado desse jeito seria racista)
(Um cantor de rap fez um show pra milhares de pessoas nesse fim de semana)
(As cenas de aglomeração chamaram atenção nas redes sociais)
Tô numa casa grande cercado de amigos
Amigos? Só tô numa casa grande
Narrei seu mundo igual Galvão, me amaram pique Silvio Luiz, ó
Vou terminar igual Casagrande
Cuidei de todo mundo e esqueci de mim
A rua quis fuder comigo, ela era minha amante
Menino, olha o que fizeram com Luther King
Quem caça Simonal, caça Bob e caça Gandhi
De passar batido, primo, eu sempre passei longe
Fui passar passando pelos cana e parei onde?
Fede mijo e sangue, ainda bem que foi só uma noite
Admiro os cria que tiraram mais de onze ano
Desgraçado tirou o resto da minha inocência
Eu nem vi passando e acabou minha adolescência
O que é seu, é seu, inclusive suas conta
Acerta com Jesus, que injustiça é consequência
Antes de ser eu, eu sempre quis ser nós
Agora só quero ser nós sem deixar de ser eu
Entendi a diferença entre o líder e o boss
É que um brilha se tu for luz, o outro brilha se tu for breu
Humano demais pra ser tão bom pra você
Humano demais pra não acertar e assumir
Humano demais, esse é seu ídolo
Humano demais pra não aprender com isso aqui
Sou tão só, tão eu
Sou tão só, tão eu, é
Tão eu
A vingança é aquele prato que cê come frio
Na vitória são vários pratos e uma mesa cheia
A derrota é um prato raso e eu comendo sozinho
Tô tipo Jonas perdido no bucho da baleia
Eles te fazem Messias, mas preferem Barrabás
E diferente de Pilatos, não lavo minhas mãos
Fiz a multiplicação do peixe no bolso
É o peixe no bolso que ajuda a multiplicar o pão
Antes era pouco sapato, hoje até gente tem no meu pé
É o que justifica o cheiro do chulé
Confiei demais, só depois vi que
Nem todo bicho de goiaba, goiaba é
Desde criança querem meu Cpf no lixo
Tentou me cancelar, chegou atrasado
Uns dia pra trás, olhei no fundo do olho da morte
Sem entrar em detalhes, sorte que eu ando armado
O espinho vem pra te mostrar que nem tudo são flores
Coisas que me disseram numa esquina dessas
Se orienta, moleque, às vezes passa batido
Mas a vida não é um teatro e nem tudo é as peça
Fácil lidar com o barulho que faz os convidado
Foda é lidar com o silêncio que vem no fim da festa
E é o silêncio que me diz que apesar do sucesso
Eu sigo com a corda no pescoço e com a mira na testa
Humano demais pra ser tão bom pra você
Humano demais pra não acertar e assumir
Humano demais, esse é seu ídolo
Humano demais pra não aprender com isso aqui
Sou tão só, tão eu
Sou tão só, tão eu, é
Tão eu
(Ganhei o mundo quando perdi a mim mesmo)
(Perdi o jovem eu, perdi aquele cara cheio de tesão, bem louco e aventureiro)
(Quer dizer, continuo maluco, mas só maluco)
Sumi das rede, o pai nunca teve tão on
Deitei na rede, olhei pro céu e agradeci
Na boca do povo cê se acha o bala
Mas foi no olhar das minhas criança onde eu me reconheci
É, mais de cem mil nos trend do Twitter
Na rua ninguém, não vou levar vocês a sério
Se o assunto é hipocrisia, nós tamo empatado
O foda é que o desempate eu já sei o critério
O tamanho da minha ambição cê não mede o quanto
Eu tive meditando e juro que não mede pouco
Às vezes penso em deixar essas fita mei de canto
Bem antes que eu me acabe mei frustrado e mei que louco
Já fui camisa nove, hoje eu faço o meio de campo
Pros manin que tá no ataque não tomar nem mei pipoco
Quiser caô comigo, cagão, então vem quicando
Sou preto no Brasil, qualquer mal pra mim é pouco
Ganhei tanto dinheiro que vi que o problema não é o dinheiro
É justamente a busca por dinheiro
Meu Deus, me perdoe e deixe entrar no Céu
No buraco da agulha eu quero ser o camelo
(Eu acho que tem pessoas que já foram de baixo talvez de outras encarnações)
(E que nessa já estão num patamar superior, mas não é meu caso, entende?)
(Eu não, eu chafurdei na lama mesmo, entendeu?)
(Eu sou o que há)
(Não é humildade dizer isso, não, que quem conhece e sabe de mim sou eu)
(Eu sei o quanto eu sou sujo, mesquinho, avarento, invejoso, irado, desconfiado)
(E qualquer coisa a mais que cê possa botar)
(Covarde, entendeu? Mentiroso)
(Eu conheço, acontece que eu não gosto)
Compositores: Paulo Alexandre Almeida Santos (Coyote Beatz), Gustavo Pereira Marques
ECAD: Obra #31781483 Fonograma #26902981