Depois de algum tempo
Lambendo a cara das pessoas
Que aparecem nos jornais
Ou mais precisamente
Nas páginas policiais
Eu resolvi que não vou mais me apaixonar

É como se fosse um sol que sumisse
E logo aparecesse um turbilhão
De nuvens cinzas e amarguras
Que vieram exclusivamente
Querendo me atormentar

Ao invés de vocês ficarem aí
Esperando que a vida passe
E que o mundo se desgrace
Vocês bem que podiam ter ideias
Espetaculares e feitos de mirabolância

Mesmo que essas suas ideias
Não passassem pelas mãos
Daqueles ternos engravatados
Cheios de todos os outros pecados
Com o mais puro gosto da ignorância

Não, eu não estou
Querendo defender ninguém
Porque eu também me considero
Um maldito ser do além
Porque nada daquilo
Que um dia me prometeram, nunca vem
E eu sempre me caso
Com o descaso do qual
Tu sempre se casarás também

Não, eu não estou
Querendo defender ninguém
De vez em quando penso
Em como seria viver bem
Como eles querem
Caminhamos todos juntos
Para um fim
Mesmo que ainda exista
Um beija-flor que beije a boca
Das flores murchas penduradas
Em todo esse jardim

Eu acho todo o tipo de argumento
Seja ele político ou surreal
Uma baita mentira
Que retira todo o sonho
De uma pessoa que trabalha

Depois de tantas vezes perdido no mundo, eu sei
Que o mundo está perdido tal qual meu filho desaparecido
Não encontrei nem vestígios

E agora o que mais quero é dizer
Que você é uma pessoa desferida
Mas que eles ainda insistem, ainda querem
Fazer com que você perceba a cura
Que há para o progresso regressista
Palpites, mais palpites, não se irrite, por favor

Não, eu não estou
Querendo defender ninguém
Porque eu também sei que o meu amor
Se foi pra junto da alta sociedade
Porque o que eu queria era simplesmente
Que alguém me acordasse da verdade
Para que então eu passasse a sonhar
Com a minha própria liberdade

Não, eu não estou
Querendo defender ninguém
Só quero que as pessoas tenham
Mais a quem seguir
Porque vendo isto, até mesmo Jesus Cristo
Está querendo desistir
E se ele desistir
Eu também desisto
Você também desiste
A velhinha com a sacola de pão desiste
O bêbado que dormiu no chão desiste
As flores murchas do jardim desistem
Só quem não desiste
É aquele que está