Eu sou proveniência de uma cicatriz Sou filho bastardo de uma meretriz E ela me culpa do que eu não fiz Rasgou meu dinheiro, sangrou teu nariz Das doze mulheres que habitam essa casa Onze me disseram? - meu filho vai, vasa! Conquiste o destino que ele te quer bem Nada disso que vivemos nunca lhe convém! -? Enxuguei feridas e fugi dali Lugar que eu vivia desde que nasci Sem receio ou dor, então eu escolhi Seguir um futuro que não prometi Quantas vezes fome brava eu passei Quantas vezes a vontade atormentou E depois de tudo aquilo, agora eu sei Que todo o espinho um dia se quebrou Com os pés cansados, fui embora do Agreste Procurando um rumo, encontrei sudeste Muitos passageiros seguiam pro Norte Depois de apanharem de suas próprias sortes Homem bem idoso, jovem coração Abriu-me a porta do seu caminhão Que ia pra São Paulo entregar o milho Dizia o bom homem que eu era seu filho Nada me enganava, sua vida era linda Chegamos em Sampa e a história finda O bom homem velho então me devorou Com aquelas fotos, ele maltratou Todo o meu passado vinha na minha mente E eu não mais estava um pouco contente Todo acabado, desci o caminhão Que por obséquio, foi na contramão E um policial me vendo caminhar Bem desconfiado, pôs-se a perguntar ? O que quer daqui se aqui nada é seu? Trague a riamba que de mim escondeu A percepção me fez contraditório Juiz, advogado e um auditório Julgavam-me e eu não tinha testemunha Tudo o que eu dizia a policia se opunha Árvores caíram sobre a minha cabeça Mas mesmo assim, quer o que aconteça Não desistirei de seguir meu destino Pra encontrar o que sonhei quando menino Através de jaulas que prendem gargantas Almoçando água e rejeitando janta Escrevi em paredes molhadas de dor Versos que exalavam todo o meu amor Mesmo sem afago o mundo era distante Talvez estivesse tudo lá adiante Fui soldado fraco de um bordel materno Acho que não há mais sofrimento eterno Cruzei seus caminhos, me escondi do mal Mesmo assim ainda tornei-me animal E essa meretriz valente veio me acordar E toda contente veio me falar Que nada mudou, eu estava ali dormindo E a vida inteira só me quer sorrindo E meus pensamentos vão se diluindo E minhas vitórias vão se extinguindo E meus devaneios vão se decaindo E a meretriz um dia vai sumindo