Cristian de Freitas

Meretriz

Cristian de Freitas


Eu sou proveniência de uma cicatriz
Sou filho bastardo de uma meretriz
E ela me culpa do que eu não fiz
Rasgou meu dinheiro, sangrou teu nariz
Das doze mulheres que habitam essa casa
Onze me disseram? - meu filho vai, vasa!
Conquiste o destino que ele te quer bem
Nada disso que vivemos nunca lhe convém! -?
Enxuguei feridas e fugi dali
Lugar que eu vivia desde que nasci
Sem receio ou dor, então eu escolhi
Seguir um futuro que não prometi
Quantas vezes fome brava eu passei
Quantas vezes a vontade atormentou
E depois de tudo aquilo, agora eu sei
Que todo o espinho um dia se quebrou
Com os pés cansados, fui embora do Agreste
Procurando um rumo, encontrei sudeste
Muitos passageiros seguiam pro Norte
Depois de apanharem de suas próprias sortes
Homem bem idoso, jovem coração
Abriu-me a porta do seu caminhão
Que ia pra São Paulo entregar o milho
Dizia o bom homem que eu era seu filho
Nada me enganava, sua vida era linda
Chegamos em Sampa e a história finda
O bom homem velho então me devorou
Com aquelas fotos, ele maltratou
Todo o meu passado vinha na minha mente
E eu não mais estava um pouco contente
Todo acabado, desci o caminhão
Que por obséquio, foi na contramão
E um policial me vendo caminhar
Bem desconfiado, pôs-se a perguntar
? O que quer daqui se aqui nada é seu?
Trague a riamba que de mim escondeu
A percepção me fez contraditório
Juiz, advogado e um auditório
Julgavam-me e eu não tinha testemunha
Tudo o que eu dizia a policia se opunha
Árvores caíram sobre a minha cabeça
Mas mesmo assim, quer o que aconteça
Não desistirei de seguir meu destino
Pra encontrar o que sonhei quando menino
Através de jaulas que prendem gargantas
Almoçando água e rejeitando janta
Escrevi em paredes molhadas de dor
Versos que exalavam todo o meu amor
Mesmo sem afago o mundo era distante
Talvez estivesse tudo lá adiante
Fui soldado fraco de um bordel materno
Acho que não há mais sofrimento eterno
Cruzei seus caminhos, me escondi do mal
Mesmo assim ainda tornei-me animal
E essa meretriz valente veio me acordar
E toda contente veio me falar
Que nada mudou, eu estava ali dormindo
E a vida inteira só me quer sorrindo
E meus pensamentos vão se diluindo
E minhas vitórias vão se extinguindo
E meus devaneios vão se decaindo
E a meretriz um dia vai sumindo

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