Vou lhe contar por agora A história de quem um dia percorreu Todo o sertão, cidade, campo, Brasil afora E de miséria nunca morreu
Os passarinhos foram com a gente E indicaram todos os caminhos Teve até um que quase virou presidente Dessa republica cheia de espinhos
Eles arranharam a minha cicatriz Modesta parte eu não ligo com isso Querem me julgar por querer ser feliz E com a felicidade querer compromisso
Mas a felicidade passa tão depressa E tudo é feito na maior das correrias Toda a civilização tem pressa De andar contra as alegrias
Vivo numa liberdade provisória Onde quem não tem dinheiro dança Mesmo assim acredito numa possível vitória Porque ainda tenho a esperança
Se me disserem que vou para o inferno Eu acredito pois eles são adivinhões Talvez, lá eu tenha meu descanso eterno Vou de reto para dentro de milhões
Eu fico aqui o dia inteiro Sentado na frente desse computador E perco até a vontade de sentir o cheiro Da verdade e do amor
Todo mundo conversando E eu aqui quieto fazendo meu trabalhinho Fico aqui e vou tentando Ser social mesmo quando estou sozinho
Armadilha pra pegar boi Melhor que vaca presa no curral não há Eu prendo o touro, laço e vendo pra Friboi Pra fazer isso, tô esperando o dia clarear
Eu sou um caipira de cidade pequena Que nunca viu nenhum tipo de violência A única vez que vi uma violência em cena Foi quando me roubaram a demência
Me chamam de panaca, solitário e indiferente E eu começo a chorar Mas não é por rancor dessa gente É que eu preciso mesmo vez em quando protestar
Não quero ir embora daqui Nem quero ficar nesse lugar pois não tenho nada pra fazer A única coisa que eu desejo na vida é sair Sem erva nenhuma pra comer
Nunca entenderam que a minha profecia Sempre foi dormir mais cedo Pois quando chegasse, raiasse, acordasse o dia Do sol eu teria menos medo
Nunca tive uma decepção amorosa E nem guardo rancor de ninguém Mas eles vivem me dizendo que a vida de mim goza Mesmo quando eu gozo dela também
Essa canção foi levemente inspirada Nas aventuras de Raul Seixas na cidade do Thor Mas nem adianta eu ficar trepando na escada Porque a escada de Raul sempre será maior
Porque a original sempre será melhor Mesmo assim eu agradeço Pelo dom que eu tenho na vida Mas não sei se eu mereço
Esse minha ideia que pra sempre será mantida Hoje três e vinte da tarde vai começar a chover E as roupas de dentro do armário vão se encharcar E de nada mais vai adiantar eu querer recolher Pois quando chega a chuva, chega o vento frio E no frio a roupa do meu corpo vai se derreter
Hoje quatro e meia da tarde Ainda vai cair um toró danado E mesmo assim, vai ter gente fazendo alarde Porque ostentar nunca foi pecado
Logo mais quando chegar a noite E a escuridão vier me perturbar Eu subo na laje e pego meu açoite Pra que a penumbra eu tente espantar
Começou o carnaval Na cidade maravilhosa Gente tocando berimbau Água de côco gostosa
Em cima de um pedaço de pau Eu observo a vinda da majestosa Agora quem entra é a rainha do umbral Mas que roupa horrorosa
Ela não sabe nem dançar Tá ali só pra ser conhecida Pagaram pra ela se mostrar Parece até que é mulher vivida
Começou o carnaval Dos bonecos de Olinda Nenhum lugar é igual Não imitaram eles ainda
Depois de passar fome por um mês Virei cliente de um hospital em Belém do Pará Insisto e sou atropelado pela sociedade toda a vez Só pra me machucar, ir pro Sos, comer e não ter que pagar
Sou um bicho camuflado No sertão de Nova York Aqui eu posso ser preso e até amarrado E pode ser que alguém ainda me enforque
Tudo aqui é muito grande e bonito Mas eu quero voltar pro Brasil Lá eu tinha pelo menos o direito De falar com gente que nunca me viu
Eu só tô escrevendo essas baboseiras Porque hoje eu acordei com sentindo o cheiro Do ar que escorre dessas bananeiras Dito e feito um brasileiro
Os políticos honestos do mundo Estão reunidos pra criação de um novo partido No dia da eleição, não vai sobrar nem mesmo um segundo Pra escolher aquele que não foi mais elegido
A verdade é que eu não sei de mais nada Tá tudo uma bagunça nessa minha mesa redonda Enquanto eu desço da minha pobre escada Lá de cima, o maluco beleza tira onda
Eu nasci no mesmo mês que Jesus Mas não recrimino nenhum dos ateus Eu só acho que foi quem construiu a cruz É que é o verdadeiro filho de Deus
Ameacei todo o tipo de teoria De Pitágoras, Newton ou da conspiração Hoje até que eu acredito mais um pouco Que eu sou louco de alma e de coração
Antes que o mundo se acabe Eu queria deixar pra ele um filho Mas todo o mundo já sabe Que ele também será Brasileiro e andarilho