Cristian de Freitas
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Brasileiro e Andarilho

Cristian de Freitas


Vou lhe contar por agora
A história de quem um dia percorreu
Todo o sertão, cidade, campo, Brasil afora
E de miséria nunca morreu

Os passarinhos foram com a gente
E indicaram todos os caminhos
Teve até um que quase virou presidente
Dessa republica cheia de espinhos

Eles arranharam a minha cicatriz
Modesta parte eu não ligo com isso
Querem me julgar por querer ser feliz
E com a felicidade querer compromisso

Mas a felicidade passa tão depressa
E tudo é feito na maior das correrias
Toda a civilização tem pressa
De andar contra as alegrias

Vivo numa liberdade provisória
Onde quem não tem dinheiro dança
Mesmo assim acredito numa possível vitória
Porque ainda tenho a esperança

Se me disserem que vou para o inferno
Eu acredito pois eles são adivinhões
Talvez, lá eu tenha meu descanso eterno
Vou de reto para dentro de milhões

Eu fico aqui o dia inteiro
Sentado na frente desse computador
E perco até a vontade de sentir o cheiro
Da verdade e do amor

Todo mundo conversando
E eu aqui quieto fazendo meu trabalhinho
Fico aqui e vou tentando
Ser social mesmo quando estou sozinho

Armadilha pra pegar boi
Melhor que vaca presa no curral não há
Eu prendo o touro, laço e vendo pra Friboi
Pra fazer isso, tô esperando o dia clarear

Eu sou um caipira de cidade pequena
Que nunca viu nenhum tipo de violência
A única vez que vi uma violência em cena
Foi quando me roubaram a demência

Me chamam de panaca, solitário e indiferente
E eu começo a chorar
Mas não é por rancor dessa gente
É que eu preciso mesmo vez em quando protestar

Não quero ir embora daqui
Nem quero ficar nesse lugar pois não tenho nada pra fazer
A única coisa que eu desejo na vida é sair
Sem erva nenhuma pra comer

Nunca entenderam que a minha profecia
Sempre foi dormir mais cedo
Pois quando chegasse, raiasse, acordasse o dia
Do sol eu teria menos medo

Nunca tive uma decepção amorosa
E nem guardo rancor de ninguém
Mas eles vivem me dizendo que a vida de mim goza
Mesmo quando eu gozo dela também

Essa canção foi levemente inspirada
Nas aventuras de Raul Seixas na cidade do Thor
Mas nem adianta eu ficar trepando na escada
Porque a escada de Raul sempre será maior

Porque a original sempre será melhor
Mesmo assim eu agradeço
Pelo dom que eu tenho na vida
Mas não sei se eu mereço

Esse minha ideia que pra sempre será mantida
Hoje três e vinte da tarde vai começar a chover
E as roupas de dentro do armário vão se encharcar
E de nada mais vai adiantar eu querer recolher
Pois quando chega a chuva, chega o vento frio
E no frio a roupa do meu corpo vai se derreter

Hoje quatro e meia da tarde
Ainda vai cair um toró danado
E mesmo assim, vai ter gente fazendo alarde
Porque ostentar nunca foi pecado

Logo mais quando chegar a noite
E a escuridão vier me perturbar
Eu subo na laje e pego meu açoite
Pra que a penumbra eu tente espantar

Começou o carnaval
Na cidade maravilhosa
Gente tocando berimbau
Água de côco gostosa

Em cima de um pedaço de pau
Eu observo a vinda da majestosa
Agora quem entra é a rainha do umbral
Mas que roupa horrorosa

Ela não sabe nem dançar
Tá ali só pra ser conhecida
Pagaram pra ela se mostrar
Parece até que é mulher vivida

Começou o carnaval
Dos bonecos de Olinda
Nenhum lugar é igual
Não imitaram eles ainda

Depois de passar fome por um mês
Virei cliente de um hospital em Belém do Pará
Insisto e sou atropelado pela sociedade toda a vez
Só pra me machucar, ir pro Sos, comer e não ter que pagar

Sou um bicho camuflado
No sertão de Nova York
Aqui eu posso ser preso e até amarrado
E pode ser que alguém ainda me enforque

Tudo aqui é muito grande e bonito
Mas eu quero voltar pro Brasil
Lá eu tinha pelo menos o direito
De falar com gente que nunca me viu

Eu só tô escrevendo essas baboseiras
Porque hoje eu acordei com sentindo o cheiro
Do ar que escorre dessas bananeiras
Dito e feito um brasileiro

Os políticos honestos do mundo
Estão reunidos pra criação de um novo partido
No dia da eleição, não vai sobrar nem mesmo um segundo
Pra escolher aquele que não foi mais elegido

A verdade é que eu não sei de mais nada
Tá tudo uma bagunça nessa minha mesa redonda
Enquanto eu desço da minha pobre escada
Lá de cima, o maluco beleza tira onda

Eu nasci no mesmo mês que Jesus
Mas não recrimino nenhum dos ateus
Eu só acho que foi quem construiu a cruz
É que é o verdadeiro filho de Deus

Ameacei todo o tipo de teoria
De Pitágoras, Newton ou da conspiração
Hoje até que eu acredito mais um pouco
Que eu sou louco de alma e de coração

Antes que o mundo se acabe
Eu queria deixar pra ele um filho
Mas todo o mundo já sabe
Que ele também será
Brasileiro e andarilho

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