Esse rap é sobre o suspense Viver no Rio de Janeiro ou na Baixada Fluminense Em São Paulo, Pernambuco, Minas, no Brasil inteiro O bolso com pouco dinheiro Mais um sobrevivente carioca e brasileiro Esse rap vai praqueles que ficam bolados indignados Quando aumentam a passagem do ônibus em apenas 10 centavos Porque afinal de contas ela aumenta toda hora só não aumentam teu salário E você já ta cansado de ser feito de otário Esse rap é pra quem se incomoda E não se poda Seu vestuário não segue as tendências da moda E é bem simples como Grande Otelo Se acha belo Com uma camisa desbotada, bermuda e chinelo Algumas vezes usa um boné Não tem vergonha de ter muita cicatriz no pé Porque jogava bola antes da escola Ou depois que voltava, o asfalto quente machucava Mas depois acostumava Achava que tinha o pé de aço, só andava descalço Na terra ou no cimento, se você não viveu isso na sua infância eu só lamento
Pode crer, me divertia Dedico esse rap também a quem dava o calotão no Caxias-Freguesia E curtia a maresia vinda todo dia do mar Chamava a mina pra sair e ficava puto porque o pai dela não queria deixar Tremenda injustiça Se deixava levar pela preguiça Quando você era pequeno e sua avó insistia pra acordar cedo e ir à missa E acabava indo Só pra ver a coroa sorrindo Mas você já tava dormindo na hora do sermão advindo Saía saindo Com a cara de pau sempre tinindo Patricinha me vê na rua e diz “ai que louco” ao invés de “ai que lindo” Esse rap é pra você sacana Que não se engana Quando quer comprar camisa vai só na Uruguaiana Porque não tem dinheiro pra comprar nos shoppings Se amarra nos filmes do Tom Hanks, Al Pacino e Anthony Hopkins Entra numa loja e é vítima de olhares racistas E elitistas É cantor de rap mas não recebe o mesmo tratamento de outros artistas Quando toca o funk arrasa nas pistas Fica extremamente bolado ao ser confundido com vigaristas Jamais desiste dos seus sonhos e se orgulha de suas conquistas E só deseja coisas boas às pessoas bem-quistas Esse rap é pra quem tem também esperança ainda De um dia ver o Seu Madruga se vingando da Dona Florinda Não dão refresco pro coitado, é só problema Apanha que nem cachorro abandonado, e eu fico com pena E não importa sua localidade Bairro ou cidade Esse rap vai praqueles cujo sonho de consumo é ganhar um Rio Card Só que você não tem, se torna refém dos outros Pede emprestado ao pai, irmão, vizinho, e aos poucos Você percebe que aquele troço é mais seu do que deles Suas desculpas já não colam, sempre os mesmos dizeres Na sua infância se machucava e não usava Merthiolate Porque aquilo arde Utilizava apenas mercúrio cromo, sem alarde Jogava vídeo-game até tarde Pra não ter que assistir o Goulart de Andrade Tinha sempre papel pra escrever um rap quando batia a vontade
Pode crer, esse rap é pra você Que sente a raiva instalada Com as obras intermináveis do Maracanã que nunca servem pra nada E na geral você era um dos fiéis Ia pro jogo contendo no bolso apenas 5 ou 6 merréis Entocava a camisa dentro short Fazia sua própria sorte Subindo a rampa do Bellini você sente um sentimento forte Anda na rua com passadas largas Quando tem fome come o salgado de 1 real na Rio Branco com Pres. Vargas Que aliás vem com refresco junto Tem queijo com presunto Enroladinho, coxinha, e mudando de assunto Eu vou dizer que esse rap é pra quem vai pra Lapa com o dinheiro contado E sai de lá chapado com qualquer trocado Quando não tem, pede emprestado Esse rap é pra quem viaja no carnaval Já ta cansado de Araruama, Cabo Frio, Saquarema ou Arraial Não se preocupa com pouco requinte O problema é que numa casa onde cabem 5 pessoas nego coloca mais de 20 Prefere a praia do Grumari à praia de Copacabana Qualquer hora se cansa dessa vida mundana e se muda pro Sana, um lugar bacana Eu quero dedicar esse rap a todos aqueles que conhecem o prazer de ir à feira degustar um pastel com caldo de cana